A uma semana da votação do impeachment no plenário da Câmara, Moreira Franco, o político mais ligado ao vice-presidente da República, assume que a disputa agora é entre Dilma Rousseff e Michel Temer. Apesar de estabelecer essa divisão, Moreira reconhece que nenhuma das partes conseguirá governar, sem um amplo entendimento que tire o país da atual crise econômica. E, pela primeira vez, anuncia que, no caso da “vitória” de Temer, o PMDB vai manter os programas dos governos do PT, como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Pronatec. As informações são de Jorge Bastos Moreno n’O Globo
O que está em jogo neste momento?
A oportunidade de mudar os rumos da economia, de estancar a crise social e de recuperar a capacidade de governar da máquina federal, dos estados e dos municípios. É o que sustenta a disputa entre Dilma e o Brasil. Para ganhar, Temer tem que ter o voto de 2/3 do eleitorado (deputados federais) e não só maioria simples; Dilma só tem que evitar que este número seja alcançado. É uma disputa desigual.
Por que a existência desta disputa?
O que há é uma imposição constitucional sob regras definidas pelo STF, o processo de impeachment foi aberto na Câmara. As razões decorrem porque, além da manipulação exagerada de verbas orçamentárias e da maquiagem fiscal, o governo está inviabilizando a economia do país, os governos municipais e estaduais e as esperanças da nação de ter garantidos tranquilidade e crescimento. Hoje, 285 brasileiros perdem o emprego por hora, os 40 milhões que melhoraram de vida já perderam as conquistas obtidas, a inflação cresce e os juros sobem, a produção cai, e milhares de empresas fecham as suas portas. Não há segurança jurídica, credibilidade nem propostas do governo para tirar o país da crise. Ao contrário, para evitar o impeachment ele aumenta os gastos e compromete o futuro do país.
Não é traição o vice disputar com a titular?
Não. Essa disputa está definida na Constituição Federal, é pois respeitá-la. Antes da decisão da Câmara e do STF sobre a instalação e os seus ritos, não houve nenhuma ação, palavra ou gesto do Temer que o envolvesse neste processo. Ele fez questão de manter seu papel institucional com rigor. Mesmo com o PMDB, e ele é o seu presidente, tendo manifestado sua inconformidade com os rumos que o governo dava à gestão econômica, financeira e administrativa do país.
Dilma tem o controle da máquina pública — cargos e verbas —, e Temer, não. A luta pela conquista de votos para a votação do impeachment não é desigual?
Exageradamente desigual, e digo isso porque o governo intensificou as trocas de cargos e a liberação de verbas para conquistar voto ou ausência de deputado no plenário da Câmara. Mas a opinião pública está atenta, acompanha as atitudes políticas do deputado. O governo tem a oposição da nação, e, como doutor Ulysses dizia, “quando o Brasil quer o Brasil muda”. O Brasil quer, e a Câmara jamais se colocou em confronto com a nação. Quando das Diretas, ela consertou sua trajetória logo depois, elegendo doutor Tancredo indiretamente contra a vontade do governo. Não adianta, o jogo está jogado.
O senhor concorda que quem quer que ganhe esta disputa não governará só?
Concordo. Só com a pacificação do país e a unificação de sua maioria em torno do desafio de atravessar a ponte que nos tire da mais grave crise econômica de nossa História, como tem sido pregado constantemente pelo Temer, nós evitaremos o sacrifício social de mais de 40 milhões de brasileiros que não resistem a uma recessão prolongada, como a que estamos vivendo. O governo federal precisa manter os programas sociais como Bolsa Família, Pronatec, Minha Casa Minha Vida, Fies, hoje quase paralisados por falta de recursos financeiros. A criação das condições para retomarmos o crescimento impõe capacidade e gosto pelo diálogo e o entendimento com o Congresso e com a sociedade. E entre Dilma e Temer, a história recente nos mostra que só Temer tem esses atributos.
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