Os países que são membros plenos do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) avaliarão na cúpula do bloco, em Mendoza (Argentina), um avanço nos termos da suspensão da Venezuela. Inicialmente, a suspensão havia sido anunciada como algo técnico, pelo fato de a Venezuela não cumprir os requisitos necessários para a integração no bloco. “Agora, vamos colocar ênfase na questão democrática”, disse o vice-chanceler argentino, Daniel Raimondi, na tarde desta quinta (20). As informações são de Sylvia Colombo na Folha de S. Paulo.A suspensão passará, assim, a ser política e significará que a Venezuela perderá benefícios que ainda mantinha como membro do bloco. Raimondi disse ainda que está em avaliação a aplicação, pelo menos em parte, da cláusula democrática do Protocolo de Ushuaia. A medida, em sua integridade, incluiria ações como o fechamento de fronteiras e a suspensão do comércio. “Estão descartadas sanções econômicas ou que possam penalizar a população venezuelana”, disse.
O vice-chanceler, porém, enfatizou que os presidentes, que se reúnem nesta sexta-feira (21), pretendem debater alguns aspectos do texto.
Ao chegar a Mendoza, o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, disse que os países estão fazendo “consultas”, e que, “se essas forem infrutíferas, podem ser aplicadas sanções. Que sanções são essas, é preciso discutir.”
Ele considera “delicado falar em sanção comercial”. Primeiro por não haver base política para isso. “Além disso, nós vamos matar o povo de fome? Eles já estão morrendo de fome, e as sanções tem que ser decididas por consenso.”
A dúvida é como agirá o Uruguai, único dos sócios refratário a medidas duras.
O uruguaio Tabaré Vázquez foi o primeiro presidente a chegar ao evento. Em entrevista a jornalistas, disse que seu país sempre “estenderá a mão” à Venezuela e defendeu uma solução que ocorra “em terreno pacífico”.
Ele lamentou a morte de 98 venezuelanos nos protestos contra Nicolás Maduro. Declarou, porém, que apesar de acompanhar o Mercosul em suas decisões, é “contra sanções econômicas”.
Além do Uruguai, a situação interna da Argentina deve dificultar o debate. Apesar de o presidente Mauricio Macri ser ferrenho opositor de Maduro, o momento é delicado.
A Argentina terá eleições legislativas em outubro e, com um discurso mais belicoso, analistas afirmam que Macri pode dar munição à sua principal rival, a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-15).
O vice-chanceler Raimondi disse que se buscará a assinatura de outros países da região após a declaração final da cúpula estar pronta.
“É relevante que o Mercosul faça isso como grupo, algo que nem a Unasul (União das Nações Sul-Americanas) nem a Celac (Comunidades dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) fizeram”.
A expulsão da Venezuela, porém, “está fora de questão porque iria em contra dos princípios do grupo.”
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