Texto é preliminar; ministério pode condicionar assistência financeira a adesão
A minuta do decreto da nova Política Nacional de Alfabetização do governo Jair Bolsonaro (PSL) preconiza a adoção de apenas um método de alfabetização, o chamado fônico, e a participação das famílias no processo. O texto, ainda preliminar, não detalha as ações do pacote e como será a implementação. As informações são da Folha de S.Paulo.
A equipe do ministro Ricardo Vélez Rodríguez finalizou a minuta e faz ajustes no texto já em conversas com a Casa Civil, onde o documento chegou no fim do mês passado.
O tema é uma das metas do governo para seus cem primeiros dias, e apesar da minuta, o MEC registra atrasos em ações que preocupam os atores do sistema educacional.
O decreto, ao qual a Folha teve acesso, indica a predominância do chamado método fônico (que concentra atenção na relação entre letras e sons para depois chegar à leitura).
Os programas e ações deverão ser fundamentados em cinco pilares: “consciência fonêmica, instrução fônica sistemática, fluência em leitura oral, vocabulário e compreensão de texto”.
Especialistas e secretários de Educação defendem que o MEC não deve impor uma única pedagogia, respeitando a autonomia das redes e dos professores. Além disso, há discussões sobre a necessidade de conciliar diferentes metodologias no ensino.
Há no texto a previsão de adesão voluntária das redes de ensino à política, como de costume nas ações do MEC. Mas ao eleger um método específico como diretriz, o MEC condiciona a assistência técnica e financeira federal (também prevista, sem detalhes) ao alinhamento das secretarias.
O teor do decreto vai na contramão do lema “Menos Brasília, Mais Brasil”, repetido por Bolsonaro e Vélez como forma de reforçar o protagonismo de estados e prefeituras.
Sem trazer ações que impactarão os sistemas de ensino e de formação de professores, a minuta só descreve que a Política Nacional “implementará programas e ações voltados à erradicação do analfabetismo absoluto e do analfabetismo funcional”.
A pasta havia defendido, em publicação em seu site, que a política não impulsionaria apenas um método. Alessio Lima, presidente da Undime (órgão que agrega secretários municipais de Educação), reuniu-se três vezes com o grupo de trabalho do tema. Até o último encontro, a informação era de que não haveria preferência por um método.
“Não tem como dissociar o método fônico do processo de alfabetização, mas [uma política federal] não pode ficar presa a isso. Escolher um método desconsidera a realidade de formação dos diferentes educadores”, diz ele.
A minuta indica que o processo de alfabetização seja priorizado no 1º ano do ensino fundamental, mas há a orientação clara para que se alfabetize já na educação infantil. Há receio por parte dos especialistas de que uma alfabetização precoce possa prejudicar o desenvolvimento natural das crianças.
O decreto também reforça o “reconhecimento da família como um dos agentes do processo de alfabetização”.
Indicado pelo escritor Olavo de Carvalho, o secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, é defensor do método fônico. Ele é dono de uma escola em Londrina, chamada Mundo do Balão Mágico, onde teria desenvolvido um método inspirado no fônico.
O MEC está no centro de uma crise depois que um processo de mudanças de cargos no MEC atingiu alunos de Olavo, ideólogo do governo Bolsonaro. A redação do decreto veio para atender o ímpeto do grupo ligado a Olavo, que fez uma campanha que custou o cargo de dois auxiliares próximos a Vélez e quase derrubou o próprio ministro.
PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS MÉTODOS
Método global
Baseado no construtivismo, parte do princípio de que textos e palavras já fazem parte do cotidiano da criança
A criança faz hipóteses de leitura e de escrita e assim vai sendo guiada a descobrir como se organizam as letras, palavras e textos
Usa textos, livros e canções
Método fônico
Crianças são ensinadas a ligar letras e sons, formando sílabas
Só depois de dominar a ligação entre sons e letras parte para a leitura e escrita de textos
Usa cartilhas com frases ou palavras sem contexto
link da matéria
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/03/mec-prioriza-metodo-fonico-em-projeto-para-alfabetizacao.shtml
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