Sem partido desde abril, quando deixou o PT depois de 33 anos na sigla, a senadora Marta Suplicy (SP), de 70 anos, vai assinar hoje sua ficha de filiação ao PMDB, legenda pela qual ela pretende disputar a Prefeitura da capital no ano que vem. As informações são do Estadão.
No mapa da sigla do vice-presidente Michel Temer, a ex-ministra da Cultura de Dilma se alinhará com o grupo que defende o rompimento com a presidente. Em entrevista concedida por email ao Estado, Marta defende o lançamento de candidatura própria ao Palácio do Planalto em 2018 e diz que o PMDB não teve sua estrutura partidária “contaminada” pelo esquema de corrupção desvendado pela Operação Lava Jato.
A sra. saiu do PT dizendo que não tinha como conviver com os escândalos de corrupção envolvendo o partido, mas o PMDB teve nomes citados ou já denunciados na Lava Jato. Isso não é contraditório?
Existem nomes do PMDB que foram citados ou denunciados, assim como existem nomes em todos os partidos com relevância na política brasileira. Mas não existe um envolvimento orgânico do PMDB. Sua estrutura partidária não está contaminada. Não é, e nunca foi, mantida com a transferência de recursos advindos da corrupção, à semelhança do que ocorreu com o PT.
O PMDB decidirá em um congresso se ficará ou não na base do governo. Qual direção o partido irá tomar?
O que sinto de meus companheiros do PMDB é que o Congresso de novembro caminha para que o partido se unifique em torno da indicação de uma candidatura própria à Presidência em 2018. Nesse sentido, deverá decidir por deixar a base do governo para poder formular, com independência, uma proposta de união da Nação.
Por que optou pelo PMDB em vez do PSB (partido que chegou anunciar que receberia Marta)?
O PMDB é um partido democrático, amplo e tem a melhor formatação política para o exercício de meu mandato como senadora por São Paulo. O PMDB tem a vocação e responsabilidade histórica que lhe conferem as melhores condições de contribuir para que nosso País se unifique em torno de um caminho e encontre uma saída.
Existe consenso no PMDB sobre sua candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2016? Como estão as conversas?
Não fiz a opção pelo PMDB condicionada à minha candidatura em 2016. Sobre a cidade de São Paulo, o que tenho feito é visitar os bairros distantes da periferia e ouvir a população. E o que tenho visto é uma realidade de muita crise e dificuldades. Se o meu partido, o PMDB, entender que sou o melhor nome para representá-lo, aceitarei essa incumbência com alegria, obstinação e entusiasmo.
A sra. defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff?
A questão do impeachment não pode ser colocada nos termos de ser contra ou a favor. A superação da deterioração da economia e a recuperação das condições da governabilidade passam por uma saída legal, constitucional e representativa de uma nova coalizão de forças políticas sintonizadas com os anseios das ruas e da sociedade. O governo da presidente Dilma não tem conseguido dar respostas à esse conjunto de providências e necessidades. A saída será política e dependerá de uma convergência das forças majoritárias da sociedade. Estou atenta, sintonizada e pronta para contribuir nesse sentido.
O vice-presidente Michel Temer é um nome capaz de articular um consenso nacional para o Brasil sair da atual crise?
Creio que sim. O presidente do PMDB e vice-presidente da República tem um perfil agregador, querido e respeitado por amplas forças da política brasileira. Desempenhará um papel cada vez mais importante para estabelecer alianças e construir convergências, na sociedade e no Congresso Nacional, em torno de uma fórmula e uma saída que reunifiquem o Brasil.
O que acha do projeto das ciclovias em São Paulo, que se transformou na peça de resistência da atual gestão?
Sou a favor das ciclovias. Trata-se de um caminho positivo e inexorável que tem sido adotado pelas grandes cidades do mundo. Mas grande parte do que tem sido feito para os ciclistas são ciclofaixas, pintadas nas ruas e calçadas sem critério ou planejamento. Estas acabam atrapalhando o trânsito e o comércio.
Como avalia a gestão Fernando Haddad?
Trata-se de uma administração que não conseguiu entregar o que prometeu. Haddad foi eleito pelo povo pobre e hoje é visto por este como alguém que virou as costas para a periferia. Sua administração não atende a nenhum segmento da sociedade. Falta capacidade e competência administrativa. Não tem apetite para governar. Não desenvolveu nenhum programa popular. Não conseguiu resolver, nem em parte, nenhum dos problemas de São Paulo. Ao contrário, todos se agravaram.
Como avalia a gestão do governador Geraldo Alckmin?
Nas últimas eleições de 2014 nosso partido teve Paulo Skaf como candidato. Ele fez uma avaliação mais profunda e desenvolveu uma campanha crítica em relação a esta administração. Respeito Paulo Skaf politicamente. Do ponto de vista da gestão do atual governo do Estado, quero primeiro conversar e discutir com o PMDB de São Paulo para podermos formular uma avaliação crítica coletiva e consistente.
Foto: Silvana Garzaro/Estadão
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