A pressão sobre o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, aumentou após participação em uma manifestação política ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Para comentar as consequências disso, a Sputnik Brasil ouviu um cientista político que apontou uma estratégia do governo no ato.
No domingo (23), Pazuello participou com Bolsonaro de uma manifestação política no Rio de Janeiro. O presidente cortou as ruas da cidade com motociclistas e subiu em um caminhão de som ao lado do general para discursar, o que fere a conduta militar, apesar da anuência do presidente.
A expectativa é de que o general de três estrelas da ativa seja punido pelo Exército, que pode mandar Pazuello para a reserva. Um procedimento disciplinar contra o militar está em andamento na instituição.
A repercussão da participação do ex-ministro no ato, sem máscara, chegou também ao Planalto. Na segunda-feira (24), o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) defendeu punição contra Pazuello. Na mesma data, uma reunião do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, com o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, decidiu que um comunicado do Exército sobre a situação seria emitido, conforme publicou o jornal Folha de São Paulo. Mais tarde, segundo publicou o jornal O Estado de São Paulo, Bolsonaro proibiu que a nota fosse emitida.
Ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello participa, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, de manifestação no Rio de Janeiro
O ex-ministro Pazuello já vinha sob pressão constante, tendo participado na semana passada da CPI da Covid no Senado Federal. O ex-ministro foi a principal testemunha ouvida na CPI e evitou culpabilizar Bolsonaro por problemas na administração da pandemia, que já matou mais de 450 mil pessoas no Brasil.
Na segunda-feira (24), o presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que Pazuello “mentiu muito” durante sua participação na CPI e disse que caso o general minta de novo durante novo interrogatório dos senadores sairá preso da comissão. A nova participação de Pazuello na CPI ainda não tem data.
Estratégia política de Bolsonaro e tensionamento com Exército e CPI
Para Ricardo Ismael, cientista político, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), a aparição de Pazuello no ato ao lado de Bolsonaro faz parte de uma estratégia política.
“Esse ato de ontem [domingo, 23], e a presença do general Pazuello, acho que é uma estratégia no sentido de tentar polemizar, polarizar com a própria CPI da Covid. Quer dizer, é uma forma de alimentar o noticiário durante esse fim de semana, nos próximos dias, de maneira a colocar mais lenha na fogueira nesse embate entre o Bolsonaro e a CPI da Covid”, afirma o cientista político em entrevista à Sputnik Brasil.
Ismael salienta que o ato político de Pazuello tensiona ainda mais a figura do general em relação à CPI da Covid e mostra uma intenção de Bolsonaro de mobilizar sua base política em meio à situação no Senado Federal. Além disso, o ato pode servir de entrada de Pazuello na política.
“Por um lado o presidente Bolsonaro decidiu, vamos dizer assim, buscar mobilizar a sua base social, sua base eleitoral. E também está procurando, talvez, preparar terreno para uma entrada do general Pazuello na política”, afirma o pesquisador, lembrando que há rumores de que Pazuello seria lançado por Bolsonaro como candidato ao governo do Amazonas em 2022.
Na análise do professor Ricardo Ismael, essa é uma manobra arriscada de Bolsonaro e Pazuello, uma vez que o general ainda não foi testado na política. Além disso, a ação pode gerar uma reação tanto da CPI da Covid quanto do Exército brasileiro.
“No curto prazo, a situação do general Pazuello pode ter consequências desagradáveis para ele próprio. Para o Bolsonaro, ele tem uma estratégia permanente de estar sempre tensionando”, afirma o pesquisador, acrescentando que o tensionamento é uma estratégia conhecida de Bolsonaro, que buscaria enfraquecer a CPI da Covid.
O comandante da Marinha, almirante de esquadra Almir Garnier Santos; o ministro da Defesa, general Braga Netto; o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; e o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Jr.
Bolsonaro quer garantir apoio de Pazuello
Apesar da proximidade com o presidente, Ismael recorda que a saída do general do governo foi uma exigência de aliados de Bolsonaro em meio aos problemas apresentados pela pasta da Saúde no enfrentamento à pandemia. No entanto, diante da CPI da Covid, Bolsonaro precisa garantir o apoio do general, que pode levantar acusações no Senado que configurem crime de responsabilidade do presidente brasileiro.
“O Bolsonaro, vamos dizer assim, fez aquilo que se imaginava. O desgaste acumulado já pelo Pazuello era tão grande que já não havia mais sentido em mantê-lo no cargo. Só que agora como há uma Comissão Parlamentar de Inquérito [CPI] ele tem que dar alguma atenção ao Pazuello”, aponta o cientista político.
Presidente Jair Messias Bolsonaro ,se juntou em ato organizado por motoqueiros e a concentracao e saida foi do Parque Olimpico na Barra da Tijuca zona oeste do Rio de Janeiro e o grupo fez grande barulho durante todo percurso e trajeto percorrido ,contrariando todo protocolo sanitario e com grande aglomeracao o qual , finalizou no Monumento dos Pracinhas no Aterro do Flamengo zona sul do Rio de Janeiro na tarde deste domingo (23/05)
Em relação a uma possível punição de Pazuello, Ismael avalia que a solução será negociada entre o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, para evitar uma situação que coloque o Exército em oposição ao presidente da República.
“De qualquer maneira sobre essa situação de ontem [domingo, 23], que certamente é uma situação inusitada, não se pode imaginar que militares na ativa comecem a participar de atos políticos. Se [o Exército] abre uma exceção para um ato como esse de ontem [domingo, 23], você vai permitir que outros militares possam participar de outros atos, seja com o próprio Bolsonaro, seja com outros candidatos a presidente da República. […] Enfim, o alto comando do Exército deve repudiar esse tipo de ato porque, como eu disse, envolve diretamente as Forças Armadas, de alguma maneira, em um ato de campanha, um ato puramente político, o que é inapropriado e, além do mais, não faz nenhum sentido estar estimulando e deixar que isso prospere”, conclui.
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