O clima de festa no comício do candidato Fernando Haddad , nesta terça-feira à noite, no Centro do Rio, foi abalado quando o locutor do evento chamou ao palco o rapper Mano Brown , que passou a falar que não estava ali para representar ninguém e apenas “a mim mesmo”. Logo no início de sua fala, o cantor já disse que não estava gostando do clima festivo, e passou a apontar falhas de comunicação do partido com o “povão”, para surpresa do público que lotou os Arcos da Lapa e dos demais presentes, entre eles Chico Buarque e Caetano Veloso , que defendeu Brown quando ele começou a ser vaiado. “Se eu puder falar vai ser bom, também já vou parar, já é e foda-se”. As informações são do Globo.
– O pessoal daqui falhou e agora vai pagar o preço. Porque a comunicação é alma, e se não está falando a língua do povo vai perder mesmo, certo? – disse apontado para trás, onde estavam além do candidato petista, a sua vice Manuela D´Ávila (PCdoB), entre outros aliados como os candidatos derrotados Guilherme Boulos e Chico Alencar (PSOL) e o teólogo Leonardo Boff.
Mesmo recebendo vaias, o cantor ainda seguiu com seu discurso crítico de quase três minutos no qual afirmou ter perdido a esperança. “Restam ainda 30 milhões de votos para tirar”. O rapper ainda destacou que “a cegueira que tem lá é a mesma que tem aqui”.
– Falar bem do PT para torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada, ou a gente vai cair no precipício? Eu tinha jurado para mim mesmo nunca mais subir em palanque de ninguém, por que política não rima, não tem swing, não tem balanço, não tem nada que me interessa. Eu gosto de música, mas eu estou vendo casais se separando, amigos de mais 35 anos deixando de se falar, não está tendo motivos para comemorar. Não temos expectativa nenhuma de vitória – afirmou.
‘Volta para base’
O cantor voltou a ser vaiado quando falou que agora via amigos que o tratavam antes com respeito e se transformaram em “monstros”.
– Tenho amigos que eu já não consigo olhar no rosto deles por causa de política, não vim aqui para ganhar voto, porque eu acho que já está decidido. Agora se falhou, quem errou vai ter que pagar mesmo, certo?!
Ao final do discurso, Brown ainda ainda fez nova crítica ao PT.
– Se nós somos o Partidos dos Trabalhadores, partido do povo, tem que entender o que o povo quer, se não sabe, volta para base! e vai procurar saber, e as minhas idéias é (sic)essa. Fechou! – finalizou para Caetano tomar o microfone.
Caetano interrompeu as vaias para defender o discurso de Brown, que segundo ele, representa a complexidade do momento.
– Eu acho que a fala do Mano Brown é muito importante porque traz a complexidade do nosso momento, a mera festa pode parecer que temos uma mensagem simples a passar, ele trouxe complexidade, o Brasil tem sido bombardeado há algumas décadas por uma imbecilização planejada, onde filósofos dizem palavrão para acostumar a mente brasileira à ideia de que o cafajeste é que nos representa – disse.
Caetano continuou a fala para fazer um alerta de que é preciso encontrar maneiras de atingir aos que foram ‘hipnotizados pela onda”.
– Precisamos encontrar meios de dizer àqueles que se deixaram hipnotizar por essa onda, eu estou aqui por isso, em parte com vocês, em parte com o Mano Browm, essa cafajestização do homem brasileiro, o que nós estamos defendendo aqui é a dignidade do povo brasileiro, de cada homem brasileiro.
Coxinhas e mea culpa
Um pouco depois, Chico Buarque disse que tendeu a concordar com o discurso de Mano Brown, mas se mostrou mais otimista de que será possível uma vitória de Haddad nas urnas. Ele mencionou os casos de violência por motivação política nas últimas semanas de gays, mulheres e negros.
– Não queremos mais mentira, não queremos mais a força bruta. Queremos Fernando e Manuela – afirmou Chico.
Depois disso, Haddad afirmou ao público que entende e respeita o que disse o Mano Brown.
– O que ele disse é sério. Tem irmãos e irmãs nossos que estão na periferia revoltados, e com razão, com tudo o que está acontecendo. Nós precisamos dar razão às pessoas para conquistar as pessoas. Não estou falando dos coxinhas que sempre nos odiaram, estou falando das pessoas que estão desempregadas ou deixaram a universidade porque não têm como se manter. Essas pessoas nós precisamos abraçar daqui para domingo. Precisamos sentar para conversar. Eles não são nossos inimigos. Eles não estão com Jair Bolsonaro porque acham ele preparado ou sensatas as coisas que ele diz. Elas estão desesperadas.
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https://oglobo.globo.com/brasil/video-mano-brown-critica-pt-em-comicio-de-haddad-recebe-vaias-e-defendido-por-caetano-chico-buarque-23180629
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