Dilma empenhou-se ao longo dos seus cinco anos e poucos meses de governo em se distinguir de Lula em pelo menos uma coisa: ela sempre foi honesta. Nunca disse que Lula fora desonesto. Mas reafirmou sua honestidade todas as vezes que a de Lula foi posta em dúvida.
O depoimento ao juiz Sérgio Moro, no ano passado, do marqueteiro das duas campanhas de Dilma, João Santana Filho, foi o primeiro golpe duro aplicado contra a fama de honesta da ex-presidente. Ele confessou que fora pago no exterior pela campanha de Dilma em 2010.
O segundo golpe duro foi aplicado por Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora que leva seu sobrenome, e pelo ex-executivo Alexandrino Alencar. É difícil avaliar qual dos dois produziu maior estrago na imagem de Dilma. O que eles disseram à Justiça Eleitoral vazou ontem.
Em maio do ano passado, quando visitou Palmas, Dilma afirmou indignada: “Falam que eu sou uma pessoa dura. Eu não sou uma pessoa dura não, eu sou honesta, é diferente. Eu não tenho contas no exterior, eu não recebi dinheiro de propina, eu não recebo dinheiro de corrupção”.
Quem nunca embolsou propinas não é necessariamente honesto, ora. Segundo Marcelo, Dilma tinha conhecimento, sim, do pagamento de despesas de campanha com recursos de caixa 2. “Disso não tenho a menor dúvida”, acrescentou.
Alencar contou como a Odebrecht participou da compra de tempo de propaganda eleitoral na TV para a campanha de Dilma em 2014. A pedido de Edinho Silva, então tesoureiro da campanha, a Odebrecht deu a três partidos (PC do B, Pros e PRB) um total de R$ 21 milhões em caixa dois.
Em troca desse dinheiro (R$ 7 milhões para cada um), os partidos se aliaram ao PT no apoio à candidatura de Dilma. Ao fazê-lo, beneficiaram Dilma com a entrega do tempo de propaganda eleitoral de cada um. Maior tempo de televisão é o trunfo mais precioso de um candidato.
Ao todo, de acordo com Marcelo, a Odebrecht repassou R$ 150 milhões para a campanha de Dilma à reeleição. Parte desse valor – R$ 50 milhões – foi uma contrapartida pela aprovação da Medida Provisória 470 (Refis), que facilitou a renegociação das dívidas de empresas do grupo.
Foi o ex-ministro Guido Mantega, da Fazenda, quem pediu dinheiro à construtora. Em maio de 2014, diz Marcelo ter ouvido de Mantega: “A orientação dela (Dilma) é que todos os recursos de vocês vão para a campanha dela. Você não vai mais doar para o PT, só pra ela”.
Naturalmente, Dilma nega tudo. A seu pedido, a Justiça Eleitoral abriu inquérito para tentar descobrir quem vazou os depoimentos de Marcelo e de Alencar.
Em tempo: Marcelo também complicou a vida de Lula com seu depoimento. Lula era “O Amigo” nas planilhas de propina da Odebrecht.
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