Cerca de 54% dos brasileiros acreditam que a corrupção no País aumentou – é o que aponta o Barômetro Global da Corrupção, pesquisa elaborada pelo movimento Transparência Internacional. O levantamento registra que 90% da população pensa que a corrupção no governo é um ‘grande problema’ e revela ainda o impacto da corrupção entre os cidadãos: 11% dos brasileiros já pagaram propinas ao utilizarem serviços públicos e cerca de 40% já receberam ofertas em troca de votos.
A pesquisa foi realizada com mais de 17 mil cidadãos em 18 países da América Latina e do Caribe. No Brasil, o levantamento foi conduzido pelo Instituto Ipsos, que realizou entrevistas presenciais com mil pessoas, entre fim de fevereiro e início de abril.
A pesquisa
Além de um quadro sobre a opinião sobre a corrupção, a pesquisa apresenta dados sobre a visão dos latino americanos e caribenhos sobre as instituições de seus países. Segundo a pesquisa, o nível de confiança no governo, tribunais e polícia é muito baixo em todos os países consultados.
No Brasil, especificamente, instituições que geram maior desconfiança na população são o Congresso Nacional, os governos (local e federal) e a Presidência.
O levantamento também apontou que há uma insatisfação da população com as medidas adotadas pelos governos da América Latina e do Caribe com relação ao controle da corrupção. Segundo a pesquisa, 57% acham que o governo de seus países não estão fazendo um bom trabalho na abordagem dos riscos de corrupção.
Com relação ao Brasil, o movimento Transparência Brasil faz uma ressalva com relação as ‘altas expectativas’ da população acerca das medidas que seriam adotadas pelo governo de Jair Bolsonaro, que utilizou o combate à corrupção como plataforma de sua campanha.
“Apesar dessas expectativas, nos últimos oito meses, o quadro anticorrupção do Brasil sofreu uma série de golpes. O presidente Bolsonaro tentou aumentar o escopo de informações confidenciais para reduzir a transparência e não deu muita atenção às acusações de corrupção contra membros de seu gabinete”, registra o movimento.
Entre tais ‘golpes’, o texto menciona o atual status do pacote anticorrupção no Congresso, a pressão política nas nomeações para o Ministério Público Federal, Polícia Federal, Receita Federal e Unidade de Inteligência Financeira, o envio de casos de corrupção a tribunais eleitorais e a decisão do ministro Dias Toffolli, presidente do Supremo, de paralisar de investigações com compartilhamento de dados do Coaf.
“Esses desdobramentos sugerem que a confiança dos cidadãos na capacidade de o governo impedir e pôr um fim na corrupção pode retroceder em breve”, registra o relatório da pesquisa.
Rodrigo Prando, sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, lembra que o atual governo, ainda no período eleitoral, apresentou duas grandes bases para sua gestão, o liberalismo e a pauta do combate a corrupção. Para o especialista, o governo não deu sinalizações de ‘profundo’ combate à corrupção e por isso as pessoas se sentiriam decepcionadas, passando a olhar com mais cuidado e com uma perspectiva critica maior a pauta da corrupção no governo Bolsonaro.
Prando indica que o ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, começou em uma condição de ‘supeministro’, mas hoje não teria tantos poderes quando se imaginava. O sociólogo diz ainda que dentro da base de apoio de Bolsonaro, há um grupo que se afasta do presidente, mas se mantém fiel ao Moro. “Muita gente da base de apoio do governo tem feito criticas por acreditar que o governo não está seguindo o que deveria seguir no combate a corrupção”.
A corrupção entre a população
O Barômetro também fez peguntas sobre as experiências dos cidadãos com subornos relacionados a serviços públicos básicos.
De acordo com os resultados do expediente geral foi apontado que, em 2018, nos 18 países abarcados pela pesquisa, aproximadamente 56 milhões de pessoas que pagaram propina por serviços como assistência médica ou educação. A policia é o serviço público mais propenso a exigir e ganhar propina, indicou o Barômetro.
O Brasil apresentou uma das menores taxa de suborno geral, 11%, atrás de Barbados, 9%, e Costa Rica, 7%.
Na avaliação do sociólogo Rodrigo Prando, há no Brasil uma cultura de aceitação das pequenas corrupções e, segundo o sociólogo, existe uma trajetória da corrupção que vai da pequena aceitação até os grandes delitos. “Muitas vezes o brasileiro é incapaz de ver a corrupção no cotidiano ou acabar naturalizando as pequenas corrupções “.
O professor ressalta que, observando a relação entre capitalismo e democracia, em todos os países sempre haverá corrupção, em maior ou menor grau, mas em alguns deles há uma cultura que não aceita a corrupção, investiga e pune a mesma. “O Brasil é um País que investigou, puniu. A Lava Jato foi um ponto bastante importante, mas ainda na pratica cotidiana os brasileiros aceitam as pequenas corrupções que eles consideram malandragem ou jeitinho”, indica.
Mulheres são afetadas desproporcionalmente por algumas formas de corrupção
A pesquisa da Transparência Internacional também avaliou como as mulheres estão vulneráveis a determinados tipos de suborno e fez ponderações sobre como o gênero afeta a forma como a corrupção é denunciada.Segundo o Barômetro, cidadãos de diversos países, entre eles República Dominicana, Honduras e Guatemala, acham que a corrupção denunciada por homens tem mais chances de resultar em uma ação.
O estudo apresentou um recorte sobre extorsão sexual, apontada pelo movimento como uma das formas mais significativas de corrupção baseada em gênero.
A analise geral apontou que um em cinco cidadãos sofre extorsão sexual ou conhece alguém que sofreu. Já com relação ao Brasil, o levantamento mostrou que 20% dos entrevistados já sofreram extorsão sexual ou conhecem alguém que sofreu.
“Quando sexo é a forma de pagamento da propina, evidências apontam para uma preferência de gênero que afeta principalmente as mulheres”.
Integridade política
A integridade política também é abordada pelo estudo do Transparência Internacional. A pesquisa mostrou que 75% dos cidadãos da América Latina e do Caribe acham que seu governo é administrado por poucos interesses particulares, principalmente nas Bahamas e no Brasil (79 e 75%).
O levantamento menciona que os abusos nas eleições, como financiamento fraudulento de partidos, a compra de votos ou disseminação de ‘fake news’ durante as campanhas, são uma das causas da corrupção política e indica que no Brasil, mais de três em quatro pessoas acham que fake news são disseminadas com frequência ou muita frequência. O País apresenta ainda a terceira maior taxa de compra de votos (40%) logo atrás da República Dominicana (46%) e do México (50%).
O Brasil também ocupa o terceiro lugar em uma lista diferente, sobre a porcentagem dos que acreditam que pessoas comuns podem fazer a diferença na luta contra a corrupção. A média dos 18 países ficou em 77%, mas, segundo o levantamento, 82% dos entrevistados brasileiros acreditam ser parte importante no combate à corrupção.
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