O ex-presidente Lula estava reunido com lideranças do PT nesta quinta-feira, em São Paulo, quando foi informado do pedido de prisão preventiva feito pelo Ministério Público. No calor da notícia, os participantes da reunião reagiram dizendo que Lula teria que aceitar o convite da presidente Dilma Rousseff para ocupar a pasta da Casa Civil, imediatamente. Mas depois que os ânimos serenaram, a avaliação e resposta taxativa de Lula foi de que ele não deveria aceitar ser ministro, pois não poderia fugir da polícia. O convite e a recusa foram noticiados pelo colunista Lauro Jardim.
— Isso seria jogar a biografia dele no lixo — comentou um interlocutor do Planalto na noite desta quinta-feira.
Antes do pedido de prisão, o ex-presidente e os demais participantes da reunião avaliaram a possibilidade de esperar as manifestações do próximo domingo para tomar uma decisão de ir ou não para o ministério. Se as manifestações pró-impeachment fossem gigantescas, Lula iria para o Planalto para coordenar uma ação para salvar o governo. Mas a partir do pedido de prisão, Lula decidiu que não valeria a pena o desgaste nem para ele nem para a presidente Dilma.
— Lula não pode fugir da polícia nesse momento — disse o interlocutor palaciano.
O pedido de prisão do ex-presidente Lula deixou o Palácio do Planalto sobressaltado e precipitou a decisão de antecipar sua nomeação para um ministério para lhe conferir foro privilegiado. Logo que soube do pedido de prisão, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) telefonou à presidente Dilma Rousseff, que estava em evento no Rio de Janeiro, e colocou sua preocupação, pedindo autorização para fazer o convite a Lula. Dilma assentiu e Wagner telefonou então para o ex-presidente.
Jaques Wagner disponibilizou seu próprio cargo na Casa Civil, em um arranjo no qual seria realocado no Ministério da Justiça. O ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), que também falou com Lula, ofereceu seu cargo, além de sugerir outras opções, como Relações Internacionais e até mesmo Desenvolvimento.
Os dois ministros avaliaram para Lula que a denúncia do Ministério Público de São Paulo e o pedido de prisão são consideradas peças frágeis, ressaltando que até mesmo o PSDB criticou o instrumento. Apesar da insistência, Lula recusou.
Berzoini pediu então que o ex-presidente continue pensando no assunto e não descarte de forma definitiva os convites por enquanto.
Segundo o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), que estava com o ex-presidente na reunião, Lula reagiu com “total tranquilidade”. Lula havia acabado de falar sobre a conjuntura econômica, quando o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, disse que tinha uma notícia a dar e informou sobre o pedido de prisão.
— Havíamos acabado a reunião sobre os problemas econômicos. Mas o presidente Lula reagiu com total tranquilidade. É uma coisa absurda. Uma ação midiática. Fazer um pedido de prisão para alguém que já deu todas as explicações. Não há nada contra o ex-presidente. Esse pedido do MP é uma coisa tipicamente política, dirigida. O MP de São Paulo não faz nada sobre as denúncias do Metrô de São Paulo ou da merenda escolar — disse Humberto Costa.
Antes da divulgação do pedido de prisão, integrantes do governo disseram não haver preocupação com a tese de que Lula ser nomeado ministro significa uma fuga do ex-presidente das investigações da Lava-Jato. O governo também rechaça que Dilma viraria uma “rainha da Inglaterra”, isto é, nega que ela passaria as rédeas do governo a Lula. Esse seria o “menor dos problemas”, segundo um interlocutor de Dilma.
A avaliação no Planalto é que Lula já sofreu um “ataque frontal” ao ser conduzido coercitivamente pela Polícia Federal na última sexta e conseguiu, se não reverter, dividir a opinião pública sobre a necessidade ser levado à força pelos agentes. Os governistas apostam que, uma vez ministro, Lula terá a mesma habilidade para explicar as razões que o fizeram a aceitar o cargo. Uma delas: a denúncia do Ministério Público de São Paulo, ontem, com um procurador à frente que já antecipou seu juízo sobre a responsabilidade do ex-presidente no caso do Tríplex. O Palácio entende que Lula sabe sair de situações adversas.
— O ataque já é frontal, e Lula estaria se protegendo de uma arbitrariedade. Haverá essa crítica de que está buscando foro privilegiado, mas em pouco tempo ele é capaz de mostrar que foi a única saída para se proteger da perseguição que sofre — disse o interlocutor.
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