Ricardo Noblat
O estoque de truques de Lula está esgotado. Nem por isso ele hesita em se valer deles. Se for o caso, repete simplesmente performances já conhecidas e que nem sempre encantaram o distinto público.
Uma delas: a de apresentar-se como uma jararaca furiosa, disposta a atingir seus adversários com picadas mortais, para mais adiante – quem sabe? – retornar ao poder.
O número da jararaca fez sua estreia quando Lula, em São Paulo, foi levado para depor aos procuradores da Lava-Jato. Depois, na sede do PT, ele falou que a jararaca sobrevivera à forte paulada.
No interior do Ceará, ontem, em comícios para eleger prefeitos do PT em Barbalha e no Crato, a jararaca reapareceu. E disse coisas do tipo:
– Se tem uma coisa que eu me orgulho é de olhar na cara de uma mulher, olhar na cara de um homem e de uma criança e dizer que no dia que acharem um real na minha vida que não seja meu, eu não valho mais ter a confiança de vocês.
– Ao futucarem a minha vida durante dois anos, eles já disseram que eu tenho um apartamento que não é meu, já disseram que eu tenho uma chácara que não é minha. Quero dizer para vocês que eu estou com a minha consciência tranquila.
– Se o problema deles é com 2018, eu que estou quietinho no meu lugar, se preparem porque quem sabe cuidar do povo nesse país sou eu, quem sabe cuidar do trabalhador, fazer esse país ser respeitado no mundo inteiro. Eu não tenho nenhuma disposição hoje, mas se precisar, se preparem, eu vou voltar.
– Desde 2005 que esse partido [o PT] apanha, apanha, apanha, de uma imprensa nojenta, mentirosa. A História vai julgar cada um de nós. A História não acontece no mesmo dia.
Por fim, Lula se disse “ofendido” e “magoado” por ter, aos 71 anos de idade, a vida “futucada por uns meninos do MPF (Ministério Público Federal)”. Reafirmou que como qualquer outro cidadão, não está, nem poderia estar acima da lei, e que não deseja nenhum privilégio. Foi nesse ponto que derrapou mais uma vez.
Lula procede como alguém que só reconhece o poder da lei se ela o beneficiar. Ou uma decisão da Justiça se ela lhe for favorável. Não importam indícios e provas de crimes que possa ter cometido. Ele é inocente e ponto final.
Contesta a legitimidade do processo que o investiga. E está pronto para se declarar um perseguido político.
Onze anos depois do escândalo do mensalão, que terminou com a condenação pelo Supremo Tribunal Federal de antigos parceiros dele, Lula insiste em dizer que o mensalão jamais existiu.
Vinte e dois dias depois do impeachment da ex-presidente Dilma, Lula repete que o impeachment foi “golpe”. Uma eventual condenação dele seria o “golpe continuado”.
Lula se põe à margem do ordenamento jurídico do país. E ao fazê-lo, se torna uma ameaça às instituições.
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