Caixa Zero, Rogério Galindo
O prefeito Gustavo Fruet diz ter escolhido a educação como tema central de seu mandato. Jurou que chegará a dar 30% das verbas da cidade para as escolas. Até aqui, não está nem perto da meta. O balanço da última semana mostrou que nem mesmo a meta anual, mais baixa, vem sendo atingida. Diz a gestão atual que tudo está sob controle. Tomara, pois não há dúvidas de que é isso que muda a situação de uma sociedade no longo prazo.
Mas, enquanto isso, quis o destino que o transporte coletivo se tornasse o pepino número um do prefeito. Levado pelas circunstâncias, Fruet tem tido de tomar decisões sobre metrô (herdou uma licitação pela metade), sobre táxis (herdou outra licitação pela metade), e principalmente sobre ônibus (herdou uma licitação mal feita e uma tarifa cara demais pelo serviço prestado). Até aqui, as soluções foram tímidas.
O problema imediato da tarifa foi resolvido (parcialmente) quando a população em peso saiu às ruas exigindo mudanças. Mas o que parecia o começo de algo promissor foi ficando cada vez mais parecido com a política de sempre para o setor. A auditoria feita pela prefeitura e que apontou problemas no sistema e na licitação não causou efeito prático algum. O único efeito, até aqui, foi político, de manchar a imagem da gestão anterior. Para quem depende de ônibus diariamente, isso pouco interessa.
Mas a tarifa não é tudo. A qualidade do serviço é o que preocupa mais. Se o serviço fosse melhor, mais gente usaria, e isso diminuiria a pressão sobre a tarifa. Seria possível colocar mais coletivos na rua (com cobradores, veja só!) e fazer com que o cidadão sinta menos desconforto ao optar pelo transporte coletivo. E, nesse ponto, pouco ou nada se avançou. Os ônibus continuam lentos, atrasados, cheios e o passageiro não recebe o respeito que merece.
Começa no ponto. Um antigo diretor da Urbs afirmou certa vez que não era preciso colocar bancos para a população: o ônibus chegava tão rápido que não era preciso sentar. Só alguém que nunca esperou ônibus em Curitiba (caso dos burocratas da Urbs) poderia dizer uma mentira desse gênero. Há linhas com espaço de mais de trinta minutos entre um ônibus e o próximo. Isso quando não há atrasos. E sempre há atrasos.
Para andar mais rápido, Curitiba podia acelerar a criação de faixas exclusivas, como vem sendo feito em São Paulo. Aqui, a coisa caminha a passos de tartaruga. Como os ônibus, aliás. O coletivo também poderia andar mais rápido se todas as linhas tivessem cobradores. Não é o caso, porque a Urbs desrespeita a lei e faz motoristas exercerem dupla função (criando inclusive um futuro passivo trabalhista que teremos de pagar). É caro porque a prefeitura se recusa a fazer integração de verdade, com o passageiro podendo descer do ônibus fora do terminal e podendo pegar outra linha qualquer sem ter de pagar outra passagem. Mesmo com o sistema paulistano tendo mostrado que isso traz lucros!
Facilitar a vida do passageiro é o fundamental. Se o ônibus funcionar bem, o sujeito poderá nem se importar de pagar R$ 2,70. Do jeito que está, a reclamação virá sempre, mesmo com tarifa mais baixa. De pouco adiantará ter uma linha de metrô que atenderá o mesmo trajeto feito hoje por uma linha de ônibus, gastar bilhões com isso, e deixar o resto do sistema sem melhorias significativas. Claro que a Urbs sabe disso. Mas estamos falando da mesma instituição que decidiu dificultar a vida do cidadão reduzindo a venda de talões de EstaR apenas às lotéricas. Talvez seja muito otimismo querer que eles coloquem bancos para esperarmos os ônibus pelos quais pagamos.
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