A convocação feita pelo presidente Jair Bolsonaro para as manifestações contra o Congresso gerou reações no mundo político e nas redes sociais. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) usou o Twitter para criticar Bolsonaro. “A ser verdade, como parece, que o próprio Pr (presidente) tuitou convocando uma manifestação contra o Congresso (a democracia) estamos com uma crise institucional de consequências gravíssimas. Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto se tem voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo”, escreveu Fernando Henrique. As informações são de Felipe Frazão, Mateus Vargas, Pedro Venceslau e Tulio Kruse no Estadão.
O líder da oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), propôs uma reunião de emergência entre os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e líderes dos partidos para decidir o que fazer diante das manifestações do presidente Jair Bolsonaro contra o Congresso.
“Temos que parar Bolsonaro! Basta! As forças democráticas deste país têm que se unir agora. Já! É inadiável uma reunião de forças contra esse poder autoritário. Ou defendemos a democracia agora ou não teremos mais nada para defender em breve”, disse Molon. “Ao não encontrar soluções para o país, ao se sentir sozinho, isolado e frágil, Bolsonaro apela ao que todos temíamos: a um ato autoritário contra a própria democracia. Não dá mais. Esses absurdos, exageros e atropelos têm que parar agora.”
O líder a oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), seguiu a mesma linha em uma mensagem em sua conta oficial no Twitter. “Chega! As forças democráticas precisam repudiar este comportamento vil e impedir a escalada golpista”, escreveu Randolfe.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também pediu, nas redes, um posicionamento “urgente” do Congresso e da sociedade em defesa da democracia. “Bolsonaro e o general Heleno estão provocando manifestações contra a democracia, a constituição e as instituições, em mais um gesto autoritário de quem agride a liberdade e os direitos todos os dias”.
“O que o Brasil precisa é gerar empregos, tirar o povo da pobreza. Bolsonaro nunca combinou com democracia. É um falso patriota que entrega nossa soberania aos Estados Unidos e condena o povo à pobreza. Um falso moralista que acoberta o Queiroz e outros corruptos e criminosos”, escreveu.
Um dos primeiros a se manifestar, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, escreveu nas redes sociais que o episódio é “de suma gravidade”. “Mais do que crime de responsabilidade, é claro atentado à democracia e à República o apoio do presidente Bolsonaro a uma convocação de manifestação nitidamente antidemocrática. Pregação de uma quartela para fechar o Congresso e o STF.”
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), repudiou o desrespeito a instituições democráticas e classificou como “lamentável” a atitude de Bolsonaro. “Devemos repudiar com veemência qualquer ato que desrespeite as instituições e os pilares democráticos do país. Lamentável o apoio do presidente Jair Bolsonaro a uma manifestação contra o Congresso Nacional”, escreveu Doria no Twitter. “O Brasil lutou muito para resgatar sua democracia”, ele lembrou.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), candidato derrotado à Presidência, cobrou uma reação dos eleitores ao vídeo disparado pelo presidente. “Se o próprio presidente da República convoca manifestações contra o Congresso e o STF, não resta dúvida de que todos aqueles que prezam pela democracia devem reagir”, escreveu Ciro, em mensagem postada no Twitter. “É criminoso excitar a população com mentiras contra as instituições democráticas e sem causa nenhuma, a não ser sua agenda anti-pobre, anti-produção e entreguista de nossas riquezas aos estrangeiros. Vamos lutar pela preservação da Constituição e pelo Brasil.”
O deputado Marco Feliciano (sem partido) saiu em defesa de Bolsonaro e disse que manifestações são normais na democracia. “Estamos numa democracia e manifestações são previstas na Constituição Federal desde que sejam pacíficas”, disse Feliciano ao Estado. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse apenas que “é hora dos bombeiros aparecerem”.
O jurista Miguel Reale Junior, um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), classificou o ato como “conspiração contra um dos Poderes da República”. “Não sei o que ele tomou nesse carnaval para tomar um ato de tamanha ousadia. É gravíssimo. Convocar a nação para desconstituir um Poder está entre os itens que justificam um impeachment.”
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse que “é inacreditável que o presidente atente contra as instituições e a democracia”. “A auto propaganda é mentirosa. Não é patriota, está entregando as riquezas do Brasil. Muito menos incorruptível, com (Fabrício) Queiroz, Adriano (Magalhães da Nóbrega) e as milícias que lhe cercam.”
O presidente do PSDB em São Paulo, Marco Vinholi, classificou o posicionamento do presidente como “preocupante”, e disse que o ato faz parte de um contexto autoritário. “A escalada da pauta autoritária apoiada pelo governo Bolsonaro é extremamente preocupante para a democracia, tendo mais um episódio inadequado incluindo o tema no ato do dia 15.”
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