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Lições do México: fake news eleitoral sempre vêm à tona

Lições do México: fake news eleitoral sempre vêm à tona

Trabalho de checadores reduz posts falsos no Facebook, mas notícias mentirosas encontram no WhatsApp um novo caminho para influenciar eleições mexicanas

Cristina Tardáguila

Pouco mais de seis semanas separam o México de seu futuro presidente. A corrida rumo ao Palácio Nacional, disputada a ferro e fogo por cinco candidatos, está oficialmente na metade. Mas já prova que, pelo menos na América Latina, notícia falsa é que nem água: quando encontra uma pedra, desvia dela e acha um novo jeito de vir à tona.

Em meados de março, quando montaram uma redação e começaram a combater notícias falsas de cunho político, a jornalista mexicana Tania Montalvo, editora do site Animal Político, e os 14 membros da equipe do #Verificado2018 encontravam uma média de oito posts inverídicos por dia no Facebook. Eram afirmações truncadas, fora de contexto ou simplesmente mentirosas. Eram “notícias” políticas que haviam alcançado um nível de interação e engajamento tão grande que tinham passado a ser perigosas aos olhos daqueles que sonhavam com um pleito limpo, equilibrado e justo para todos.

“Agora, depois de dois meses de muito trabalho, de muito fact-checking e também depois de termos feito uma coalizão com mais de 60 veículos de comunicação para espalhar nossas checagens por todo o país, o volume de posts falsos caiu consideravelmente no Facebook. Hoje, encontramos uma média de dois por dia”, comemorava Tania, no último sábado (12), durante um evento promovido pelo Google em Buenos Aires.

Para a jornalista mexicana, essa diminuição pode ser um dos primeiros resultados visíveis de dois projetos de verificação de notícias que aterrissaram de forma quase simultânea em seu país: o Verificado, criado pela aliança internacional First Draft aos moldes do que foi feito na França no ano passado, e o Third Party Fact-Checker Project, que estreou no Facebook dos Estados Unidos em 2017 e já se espalhou por Itália, Índia, Colômbia e, a partir desta semana, aterrissa no Brasil.

Em poucas palavras, o trabalho dos checadores contratados pelo Facebook, todos eles certificados pela International Fact-Checking Network (IFCN), consiste em analisar o grau de veracidade de posts feitos na plataforma e apontar aqueles que são falsos. Quando isso ocorre, o Facebook reduz o alcance desse conteúdo no Feed de Notícias de seus usuários, sem nunca, contudo, deletá-lo. Mas, pelo menos no México, as notícias falsas acabaram encontrando um novo — e talvez mais intrusivo — caminho: o WhatsApp.

“Agora recebo no meu celular uma média de duas fake news por dia vindas de números desconhecidos, ou seja, de pessoas que não estão na minha lista de contatos e que não consigo identificar quem são”, contou Tania, num dos intervalos do NewsGeist. “Costumam ser spams com notícias claramente falsas ou deturpadas sobre candidatos, partidos políticos ou mesmo sobre o processo eleitoral em si. E decidimos passar a agir contra esse conteúdo também”.

Tania diz que as leis de seu país proíbem a venda de listas de telefones e de contatos pessoais para uso publicitário. Mas ressalta que isso não tem sido aplicado. Afinal, quem se importa com leis no vale-tudo das campanhas presidenciais, não é mesmo? E ainda há outro problema no horizonte: o WhatsApp não tem um escritório no México (nem no Brasil). Não há, portanto, uma interlocução eficiente e clara para atuar em conjunto contra a desinformação no “zap”.

E o que fez o time do #Verificado2018? Seguiu em frente com seu trabalho. Adaptou-se à novíssima realidade.

“Entendemos que, diante de tudo isso, deveríamos passar a produzir conteúdos preventivos. Vacinas informativas. Material sobre aquilo que acreditamos que pode vir a se transformar em notícia falsa”, disse Tania.

Hoje em dia, em vez de aguardar que uma corrente de WhatsApp chegue aos cidadãos com uma informação equivocada sobre como ele deve usar a cédula eleitoral, por exemplo, o #Verificado2018 dissemina vídeos mostrando exatamente o que deve ser feito, segundo as leis locais.

É a aposta na educação. Na difusão de informações claras e de boa qualidade para dar ao eleitor o poder de decidir corretamente seu voto. Algo em que o Brasil deveria se inspirar.

Cristina Tardáguila, diretora da Agência Lupa