Estelita Hass Carazzai, Folha de S.Paulo.
Contatos foram feitos às vésperas de habeas corpus em favor de Paulo Preto, apontado como operador de propinas para tucanos
A força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal do Paraná pediu nesta quarta-feira (6) a suspeição do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes no julgamento de reclamação movida por Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador de propinas em favor de tucanos.
O pedido se baseia em ligações trocadas entre o juiz e o ex-ministro e senador tucano Aloysio Nunes, cujo celular foi apreendido na última fase da Lava Jato.
O tucano fez diversos contatos telefônicos com o gabinete de Gilmar em fevereiro deste ano, às vésperas da concessão de um habeas corpus em favor de Paulo Preto, ex-diretor da Dersa (estatal paulista de rodovias).
A decisão de Gilmar anulou a fase final de um processo contra Souza, que investiga desvios de dinheiro público nas rodovias de São Paulo, o que levaria o caso à prescrição.
Cerca de duas semanas depois, porém, a liminar foi reconsiderada pelo próprio ministro, já que as diligências na Justiça Federal de São Paulo já haviam sido realizadas ou estavam prejudicadas.
Segundo os registros do celular, o ex-senador tucano fez contato telefônico com o gabinete de Gilmar no dia 11, dois dias antes da concessão da liminar em favor de Paulo Preto.
Nas mensagens, o advogado José Roberto Figueiredo Santoro, com quem Aloysio comenta o assunto, chama o ministro do Supremo de “nosso amigo”.
O tucano, porém, diz que Gilmar foi “vago, cauteloso, como não poderia ser diferente”. “Compreensível, dadas as circunstâncias”, escreve. O ex-ministro da Justiça Raul Jungmann também é contatado pelo ex-senador nas mensagens, em busca do número de telefone celular de Gilmar.
Dois dias depois, Santoro celebra em mensagens a concessão do habeas corpus, a que Aloysio comenta: “Nosso causídico é foda!”.
Para os procuradores, as mensagens demonstram que Aloysio Nunes tem “laços de proximidade de natureza pessoal, diretos e/ou indiretos” com Gilmar, e que ele buscou interferir a favor de Paulo Preto “em contato direto e pessoal” com o ministro do STF.
O pedido de suspeição foi encaminhado via ofício a Raquel Dodge, procuradora-geral da República. Cabe a ela peticionar sobre o caso no STF.
O ministro Gilmar Mendes é o relator de uma reclamação movida por Paulo Preto, contra sua prisão decretada no âmbito da Lava Jato.
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