Adriana Justi e Bibiana Dionísio, do G1-PR
A Operação Lava Jato, que começou com a investigação de um grupo de doleiros e hoje se configura com a maior ação contra corrupção e lavagem de dinheiro realizada no Brasil, completa nesta quinta-feira (30) 500 dias. O nome Lava Jato faz menção a um posto de gasolina de Brasília que lavava dinheiro, onde iniciaram as investigações.
Agora, fase após fase, prisão após prisão, procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e delegados da Polícia Federal (PF) consideram que a corrupção no país está em metástase – em analogia ao termo da medicina que significa disseminação de câncer para outros órgãos.
“A corrupção no Brasil é endêmica e está em processo de metástase”, afirmou Athayde Ribeiro Costa, procurador do Ministério Público Federal.
Dentro das 16 etapas da operação, foram verificadas irregularidades na Caixa Econômica Federal, no Ministério da Saúde, na Eletronuclear, subsidiária da Eletrobrás que atua no segmento de energia nuclear, e, principalmente, na Petrobras.
Os números justificam a repercussão da Operação Lava Jato. Nestes 500 dias, foram 48 prisões preventivas, 46 prisões temporárias, 138 pessoas denunciadas, 30 condenadas, R$ 870 milhões recuperados e outros R$ 2,4 bilhões bloqueados em contas bancárias nacionais e estrangeiras.
Os dados são do Ministério Público Federal, que também informou ter solicitado na Justiça que os denunciados paguem R$ 6,7 bilhões em multas e ressarcimentos.
Se o esquema de corrupção parece grande, ele pode ganhar dimensões ainda maiores. A estimativa da força-tarefa da Operação Lava Jato, formada por integrantes do MPF e da PF, é de que as investigações rendam, pelo menos,mais dois anos de trabalho.
A Operação Lava Jato está sediada na 13ª Vara Federal Criminal, em Curitiba, porque, de acordo com o MPF, os primeiros fatos investigados envolviam lavagem de dinheiro praticada, entre outras pessoas, pelo doleiroAlberto Youssef, em Londrina, no norte do Paraná.
Com o desdobramento das investigações, descobriram-se centenas de crimes praticados no Paraná, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Pernambuco.
Os crimes mais graves, contudo, ocorreram no Paraná. Há ainda, segundo os procuradores, provas concretas de corrupção envolvendo propinas de dezenas de milhões de reais pagas em obras da refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizada em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.
A 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba é especializada em crimes financeiros de lavagem de ativos, e o juiz Sérgio Moro é o responsável pela condução das ações penais.
O esquema
O cerne da investigação está na estatal petrolífera – com a prisão de ex-diretores, executivos de alto escalão das maiores empreiteiras do país e a citação de políticos.
De acordo com as investigações, parte do dinheiro desviado da Petrobras era destinada a agentes públicos e para os partidos PT, PMDB e PP. As legendas negam envolvimento.
Basicamente, o esquema (que existe há pelo menos 10 anos) se valia de fraudes em licitações. Grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina a diretores e gerentes da Petrobras e outros agentes públicos.
Delatores – investigados pela operação que firmaram acordo de delação premiada para repassar informações em troca de benefícios em caso de condenação – disseram que a propina chegava a 3% dos contratos fechados com a estatal, mas investigadores dizem que o percentual pode ser maior.
A propina era distribuída por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros e empresários. A “lavagem” do dinheiro ocorria por meio de depósitos em contas no exterior, offshores, dinheiro vivo ou ainda emissão de nota fiscal fria.
O principal doleiro da Operação Lava Jato é Alberto Youssef, que ao lado de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Renato Duque, ex-diretor de Serviço, Pedro Barusco, ex-gerente de Serviço, Nestor Cerveró e Jorge Zelada, ex-diretores da Área Internacional, e os executivos das principais empreiteiras do país estão entre os suspeitos e réus desta operação.
Entre os executivos, estão Marcelo Odebrecht, presidente da holding Odebrecht S.A, e Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. Ambos estão preso no Complexo Médico-Penal, na Região Metropolitana de Curitiba.
São alvos de ações penais as empreiteiras Camargo Corrêa, UTC, Mendes Júnior, Engevix, OAS e Galvão Engenharia. Respondem a ações civis públicas a Galvão Engenharia, Galvão Participações, Sanko Sider, Coesa Engenharia, Jackson Empreendimentos, Mendes Júnior Participações, Mendes Júnior Trading e Engenharia, OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez
16ª fase
Contratos firmados entre a Eletronuclear, uma subsidiária da Eletrobras, e empresas já mencionadas na Operação Lava Jato, foram o foco desta etapa, deflagrada nesta terça-feira (28) e batizada de “Radioatividade”. Empreiteiras são suspeitas de formar cartel e ajustar licitações para obras da usina nuclear de Angra 3.
As investigações recaem sobre a Engevix e o Consórcio Angramon, que reúne Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC, Queiroz Galvão, EBE e Techint.
Preso nesta fase, o diretor-presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, é suspeito de receber R$ 4,5 milhões em propina. “A Andrade Gutierrez repassava valores para a empresa de Othon Luiz por meio de empresas intermediárias que atuavam na fase de lavagem de dinheiro”, afirmou o procurador do MPF Athayde Ribeiro Costa.
Também foi detido Flávio David Barra, presidente global da AG Energia, ligada ao grupo Andrade Gutierrez. As duas prisões são temporárias, ou seja, têm duração de 5 dias.
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