Em meio às discussões sobre a liberação do plantio de maconha para fins medicinais propostas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a empresa paranaense Prati-Donaduzzi está tentando entrar no crescente, e bilionário, mercado do canabidiol por uma via alternativa: investindo na produção de um medicamento à base de canabidiol sintético, feito a partir de substâncias químicas estruturalmente mais simples e comercialmente disponíveis. As informações são da Gazeta do Povo.
Conhecida pela produção de medicamentos genéricos, o laboratório de Toledo, no Oeste do estado, já obteve autorização da Anvisa para começar a fabricar insumos farmacêuticos ativos sujeitos a controle especial na recém-estruturada unidade de produção de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs). É como se chamam os princípios ativos dos medicamentos. É ali que deve ser fabricado o insumo para o medicamento.
O laboratório ainda está estudando o material sintético – assim como o canabidiol derivado da Cannabis sativa em planta – em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto desde 2015.
Por enquanto, a empresa não fornece qualquer informação sobre quando o medicamento deve começar a ser produzido ou comercializado – e, conforme a Anvisa, ainda não há qualquer registro de remédio feito com canabidiol sintético no Brasil. Porém, a movimentação dos empresários para conseguir apoio para a ideia já é evidente: de acordo com a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, no último dia 11, representantes do laboratório se reuniram com o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para apresentar a possibilidade de produzir canabidiol sintético.
Terra, que está à frente do endurecimento da política de drogas no país e já se declarou contrário à discussão proposta pela Anvisa, parece ter gostado do que viu. De acordo com nota do ministério, no entendimento do ministro a alternativa artificial “torna desnecessária a liberação do plantio de maconha para fins medicinais”.
Medicamento é mais puro, diz laboratório
De acordo com a Prati Donaduzzi, o canabidiol sintético tem como principal vantagem seu alto grau de pureza, excluindo a presença do tetrahidrocanabidiol (THC), responsável pelos efeitos psicoativos da planta. Além disso, ele atende aos requisitos regulatórios para insumos farmacêuticos tanto no Brasil quanto no exterior, configurando-se como um produto “grau farma”.
Para a fundadora e CEO da Dr. Cannabis, Viviane Sedola, empresa que facilita o acesso de pacientes a tratamentos com canabinoides, outra possível vantagem é o custo de produção da alternativa sintética, que deve ser mais barato. “O fito depende de plantar, cuidar e fazer todo um controle da cadeia”, explica.
Contudo, conforme ela, para que os benefícios da versão artificial do princípio ativo sejam realmente assegurados, seria necessário que os pesquisadores que trabalham com canabinoides conseguissem sequenciar e isolar todos os tipos de canabinoides encontrados para entender como cada um deles contribui para os tratamentos em que o canabidiol é recomendado – e como eles agem em conjunto, o chamado efeito sinérgico.
Viviane também acredita que se a fabricação do canabidiol sintético for a única que tivermos no país, a perda pode ser econômica, já que o mercado é crescente. Ela calcula que 40% da população adulta brasileira tem alguma dor ou doença crônica e poderia potencialmente se beneficiar de medicamentos à base de canabidiol.
Conhecido principalmente por seus efeitos anticonvulsionantes, o canabidiol só pode ser usado no Brasil quando o paciente recebe recomendação médica por não reagir a outros tratamentos disponíveis. Nesse caso, ele geralmente é importante – embora haja algumas permissões para o plantio da Cannabis sativa para fins medicinais.
De acordo com a Anvisa, atualmente há 6.790 pacientes cadastrados para importar canabidiol no país, sendo que 1.730 deles foram cadastrados em 2019. Desde 2015, 10.108 solicitações de importação (quando o paciente de fato importa o produto).
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