Com 726.712 detentos, o Brasil é o terceiro país com mais presos no planeta. Em números absolutos só perde para os Estados Unidos, cuja população bate em 323 milhões, e para China e seus 1,6 bilhão de habitantes.
Além da quantidade de pessoas atrás das grades, quase metade ainda aguardando julgamento, e da desumana superlotação das penitenciárias, os dados divulgados pelo Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça escancaram uma calamidade ainda maior: 30% dos presos são jovens entre 18 e 24 anos, percentual que atinge pornográficos 55% se estendido aos 29 anos de idade.
Em todas as áreas as estatísticas sobre os brasileiros jovens são alarmantes. Pior ainda se forem pretos e pobres.
Mais de 1,3 milhão de adolescentes entre 15 e 17 anos abandonam a escola antes de concluir o ensino fundamental. Dos 23,6 milhões de jovens na faixa de 18 a 24 anos, 47% não frequentam o ensino médio. Nada menos de 6,6 milhões compõem a categoria nem-nem, que não estudam e não trabalham.
São recordistas na morte brutal. Dados do Mapa da Violência 2017, elaborado pelo Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontam que 52% das vítimas de homicídios não chegaram aos 30 anos de idade.
Jovens estraçalhados dentro de um país que negligencia a juventude.
O PT, que se autoproclama a voz do povo e, claro, dos jovens, dirá que cuidou desse grupamento ao ampliar o acesso à universidade. Mérito que se perdeu no tamanho do rombo do Fies – para a União e para os estudantes -, e na baixa qualidade do ensino oferecido na irresponsável proliferação de faculdades país afora.
Acrescenta-se aqui um dado incongruente e cruel: enquanto se gabavam de oferecer mais vagas no “Universidade para todos”, os governos petistas amargaram evasão crescente no ensino médio, sem o qual não se chega ao terceiro grau.
Mas o discurso vazio sobre políticas dirigidas aos jovens não se restringe ao PT.
Com presença ostensiva nas redes sociais, o deputado Jair Bolsonaro tem arregimentado jovens – 30% dos que pretendem votar nele têm menos de 24 anos e 60% não chegou aos 35, segundo o Datafolha. Mas nunca apresentou uma única ideia para inverter a tragédia que dia após dia abate a juventude. Ao contrário, fala em armá-los.
O mesmo ocorre com Marina Silva, da Rede, que trafega bem entre os mais cultos e descolados de até 34 anos de idade, e com Lula, que não tem o mesmo apelo de outrora, mas ainda arregimenta parcela da preferência desse público. Os demais pré-candidatos passam longe da juventude.
Jovens são charmosos em campanha. Provocam comoção no eleitor, assim como crianças e velhos, especialmente quando expostos com precisão marqueteira.
Na campanha não vão faltar colos e beijos em crianças, sorrisos de velhos e jovens poderosos. As cenas das jornadas de junho de 2013 serão lembradas independentemente do matiz partidário. Mas as questões que realmente importariam aos jovens possivelmente estarão, mais uma vez, em segundo, terceiro, enésimo plano.
A análise pragmática do colégio de votantes talvez explique tal descaso: o Brasil não é mais um país de jovens. Eles são minoria e votam cada vez menos.
Em 2016, dos 144 milhões aptos a votar, o número de jovens até 24 anos foi de 23,2 milhões, inferior aos 25,8 milhões dos eleitores acima dos 60 anos. Entre os que gozam do voto facultativo, observou-se 1,5 milhão de eleitores de 16 e 17 anos cadastrados e 4 milhões acima de 79 anos.
A faixa etária decisiva se concentra entre os 35 e 44 anos, público em idade produtiva, que, pelo menos em tese, está mais desconfiado e menos sujeito ao engodo da oferta de paraísos impalpáveis.
Essa maioria sustenta os governos, carece de melhores serviços públicos, e quer que seus filhos consigam pelo menos ultrapassar a idade da juventude. Sem violência, cadeia, bala perdida, homicídio.
Ganhará a fatura quem conseguir convencê-la. Dada a descrença geral, os indicativos são de que desta vez os candidatos vão precisar mais do que palavras ao vento para fazê-lo.
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