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Justiça por conta própria: Aluízio Palmar é destaque na revista História

Aluízio Palmar começou cedo: antes dos 18 anos já era militante do movimento estudantil. Ajudou a fundar o Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) de Niterói, foi preso, sofreu torturas e acabou sendo deportado para o Chile – junto com outros 69 companheiros – em troca da liberação do embaixador da Suíça no Brasil, em 1971. A luta continuou no exílio e quando voltou ao Brasil, vivendo aqui como clandestino até a Lei de Anistia, em 1979.

Prestes a completar 70 anos, Palmar diz que está cansado (“Quero cuidar do meu jabuti, da minha saúde”), mas a luta continua: o jornalista trabalha com movimentos sociais e mantém há um ano o site Documentos Revelados, onde divulga diversos acervos relacionados à ditadura. Já são cerca de 8.000 documentos. “É difícil trabalhar com arquivos. Tem que assinar um monte de papéis… ou ir a Brasília, porque muitos documentos estão só no Arquivo Nacional. Decidi, então, facilitar o acesso para pesquisadores e pessoas que queiram conhecer o período. Muitos casos são pouco conhecidos. O principal é o do Parque Nacional do Iguaçu”, conta.

Trecho da matéria “Justiça por conta própria”, de Cristina Romanelli, na revista História, em que destaca o ativismo político do jornalista Aluízio Palmar. Veja a seguir a íntegra da reportagem.

Aluízio Palmar começou cedo: antes dos 18 anos já era militante do movimento estudantil. Ajudou a fundar o Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) de Niterói, foi preso, sofreu torturas e acabou sendo deportado para o Chile – junto com outros 69 companheiros – em troca da liberação do embaixador da Suíça no Brasil, em 1971. A luta continuou no exílio e quando voltou ao Brasil, vivendo aqui como clandestino até a Lei de Anistia, em 1979.

Prestes a completar 70 anos, Palmar diz que está cansado (“Quero cuidar do meu jabuti, da minha saúde”), mas a luta continua: o jornalista trabalha com movimentos sociais e mantém há um ano o site Documentos Revelados, onde divulga diversos acervos relacionados à ditadura. Já são cerca de 8.000 documentos. “É difícil trabalhar com arquivos. Tem que assinar um monte de papéis… ou ir a Brasília, porque muitos documentos estão só no Arquivo Nacional. Decidi, então, facilitar o acesso para pesquisadores e pessoas que queiram conhecer o período. Muitos casos são pouco conhecidos. O principal é o do Parque Nacional do Iguaçu”, conta.

Desde que saiu da clandestinidade, o jornalista tenta descobrir em que circunstâncias seis militantes da extinta Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foram assassinados, em 1974. Já sabe que eles foram atraídos de Buenos Aires para uma armadilha no Parque Nacional do Iguaçu, mas não achou os corpos em nenhuma das quatro expedições ao local. “Em 2004, graças à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça, tive acesso aos arquivos da Polícia Federal de Foz do Iguaçu e consegui importantes pistas. Fizemos um dossiê, entregue à Comissão Nacional da Verdade, mas os autores dos crimes pediram sigilo em troca de informações. Então não liberamos pra mais ninguém”, explica.

Mas ele reclama que nenhuma das comissões investe nas buscas dos corpos. “A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos parou no tempo. Há muitos locais onde se pode encontrar restos mortais e pistas. Cabe ao Estado ir atrás, não basta indenizar os familiares com R$ 100 mil. O Araguaia também está parado. Onde estão os corpos?”, questiona.

A situação fica ainda mais séria com a denúncia de extravio de alguns documentos do acervo transferido de Foz do Iguaçu para o Arquivo Nacional. Segundo Palmar, ali havia informações sobre a participação do Brasil na Operação Condor – aliança político-militar entre países da América do Sul. “Isso foi investigado, mas ninguém descobriu nada. Eu me baseei nesses documentos para a pesquisa, mas só tenho anotações em caderno, porque não era permitido fazer cópia. O que chegou em Brasília são documentos mais comuns”.

Apesar das frustrações e do cansaço, o antigo militante segue em frente, e espera que, com a repercussão da Comissão Nacional da Verdade, consiga parceiros para o seu site. “Nos anos 1990, esse trabalho de correr atrás de arquivos não tinha muito movimento. Mas desde a criação dessas diversas comissões pelo país, a coisa melhorou demais. Parece uma explosão de pessoas interessadas, pesquisadores e estudantes”, entusiasma-se. Os ventos estão a favor.

Documentos Revelados: www.documentosrevelados.com.br