da Gazeta do Povo
Nas praias ensolaradas dos cartões postais ou nas mais remotas fronteiras do Brasil há uma perversa rede de negócios criados em torno da exploração sexual infantojuvenil que o Estado e a sociedade desconhecem ou fingem não ver.
Grande parte dessa realidade está descrita e documentada no livro O Brasil Oculto, que o jornalista Mauri König lança nesta noite, às 19 horas, nas Livrarias Curitiba.
Para fazer a investigação que originou o livro, König percorreu, em diferentes períodos, mais de 42 mil quilômetros entre pontos extremos do território nacional, de Norte a Sul pela fronteira com nove países vizinhos.
Konig também viajou por toda a costa brasileira, passando pelas principais cidades portuárias do país, e para cinco capitais do Sudeste e do Nordeste que tinham histórico de turismo sexual e serão cidades-sede da Copa do Mundo de futebol no ano que vem.
Repórter especial da Gazeta do Povo desde 2002, König é hoje um dos cinco profissionais mais premiados da história do jornalismo nacional.
Entre outros prêmios nacionais e internacionais, o repórter já recebeu dois Esso e o Cabot Prize, láurea mais antiga do jornalismo mundial conferida pela Universidade de Columbia desde 1938 a jornalistas internacionais que se destacam por sua produção.
Preço da inocência
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, König faz em forma de ensaio uma investigação teórica sobre a construção histórica da sexualidade no mundo ocidental e identifica possíveis causas que permitem o cenário que ele viu de perto na pesquisa de campo, que é o material da segunda parte.
Essa é composta das séries de reportagens apuradas por Konig ao lado dos repórteres fotográficos Albari Rosa e Jonathan Campos, tais como elas foram publicadas na Gazeta do Povo entre 2004 e 2012.
Ao todo, o repórter visitou 99 locais de prostituição e exploração sexual de menores e ouviu 229 fontes, entre policiais, conselheiros tutelares, juízes, promotores, organizações não governamentais, as próprias vítimas da exploração sexual e pessoas direta ou indiretamente envolvidas no negócio ilícito.
O livro é o registro de uma série de reportagens arriscadas, feitas com grande esforço físico e emocional que não raro obrigavam o repórter a encarar complicados dilemas éticos do seu ofício.
Em seu périplo pelo Brasil profundo e sombrio, König descobre que a virgindade de uma criança pode custar um par de sapatos ou um prato de comida de Norte a Sul do país.
Prova que os chefes de prostituição chegam a tirar meninas de dentro das salas de aulas para satisfazer clientes, e que donos e funcionários de hotéis e taxistas são agentes fundamentais dessas redes de exploração.
Ele chega a mais duas constatações graves. A primeira, mais perene, é que a tolerância generalizada do Estado e da sociedade a esse tipo de crime, aliada ao preconceito, transforma as vítimas em infratoras.
A segunda, mais urgente, é que o país está de guarda baixa, à mercê de uma possível (e esperada) invasão de turistas sexuais durante a Copa do Mundo no ano que vem.
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