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Jornaleiro gaúcho mantém boicote

Jornaleiro gaúcho mantém boicote

Marianna Senderowicz, de Porto Alegre

Há pouco mais de três meses sem vender as revistas semanais Veja e Época por discordar de sua linha editorial, o jornaleiro Fábio Marinho, proprietário de uma banca em Porto Alegre, lamenta que a imprensa brasileira insista em maquiar informações. Segundo ele, até agora nada mudou em sua banca, nem para melhor nem para pior: sua atitude não foi copiada por colegas nem provocou redução de movimento.

A decisão de não comercializar mais as publicações veio à tona em julho, quando o jornaleiro enviou uma carta ao jornalista Hamilton Octávio de Souza, publicada na revista Caros Amigos. Como justificativa, Marinho alegava que a Veja falava do presidente venezuelano Hugo Chávez em um tom muito ofensivo, sem qualquer respeito por um presidente de Estado eleito por voto popular. Segundo ele, entretanto, a decisão vinha sendo amadurecida há muito tempo, desde que a revista começou a acusar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de bêbado.

A iniciativa de boicotar alguns veículos resultou, no entanto, em um velho ditado: andorinha só não faz verão. O problema, segundo o jornaleiro, é que a pressão não foi acompanhada por outros colegas, impedindo que o protesto chegasse ao conhecimento dos leitores e fazendo com que nada mudasse na imprensa brasileira. “Se um número significativo de jornaleiros se der conta da sua responsabilidade na indústria cultural e passar a boicotar publicações que não cumprem com sua função de bem informar o público, talvez estes veículos repensem suas posições porque que a sociedade civil vai dizer claramente que não acredita mais neles.”

Exemplo
Conforme Marinho, mesmo com a repercussão do seu caso na mídia, poucos clientes acompanharam o caso. “Não percebi diferença no movimento ou nas vendas, já que a maioria dos meus clientes nem soube da repercussão da decisão. Além disso, acredito que, se soubessem, não deixariam de comprar comigo outras revistas ou mercadorias pela minha postura.”

Mesmo que ele afirme ser contra o modelo de imprensa brasileiro, garante que parou de vender apenas Veja e Época porque considera serem maus modelos de jornalismo. “Para mim, elas são o exemplo mais flagrante de mau jornalismo, mas se fosse deixar de vender tudo aquilo de que não gosto, seria melhor mudar de ramo”, afirma o jornaleiro, que trabalha na mesma banca há nove anos.

Para ele, apesar de isolado, o fato poderia incentivar uma reflexão de jornalistas a fim de melhorar a qualidade dos veículos de comunicação. “Infelizmente, o que percebo é o contrário: a grande imprensa jogando cortina de fumaça sobre a sociedade e mascarando fatos”, lamenta o vendedor, que continua identificando problemas na cobertura da mídia: “Agora mesmo, diante do dossiê contra o Serra (escândalo que envolve membros do PT, divulgado no início desta semana), algum grande veículo de mídia tem tido o cuidado de verificar as acusações do documento?”, questiona.

Apesar do boicote, ele não foi procurado por nenhuma das editoras, que continuam fornecendo outras publicações para venda. Na Veja, a atitude ainda é desconhecida dentro da redação. “Não sei nada sobre isso. É inadequado falar sobre hipóteses”, declarou ao Comunique-se Eurípedes Alcântara, diretor de redação. Para Marinho, no entanto, a relação comercial não deve mudar. “Não trabalho para as editoras, mas em parceira. E elas precisam de mim tanto quanto eu delas”, conclui.

A Época não retornou nossas ligações até o fechamento desta matéria.

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