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Jogo bruto na disputa do controle portuário no Paraná

 

Fábio Campana

O jogo é bruto. As acusações e denúncias, mais fake news na internet, mostram que a guerra pelo controle portuário do Paraná será crua e mais eivada de discursos emocionais que exposições fundadas na razão. A verdade é que essa discussão acirrada sobre a construção de novo terminal portuário em Pontal do Paraná e sua conveniência socioambiental esconde uma disputa de grandes interesses econômicos pelo controle portuário no Paraná. Enquanto o projeto do novo porto enfrenta a morosidade burocrática e a incapacidade de decisão dos governos, o capital chinês saltou à frente para empalmar a atividade de exportação e, por consequência, o controle direto e indireto da economia nesta área do planeta.

A empresa chinesa CMPort oficializou a compra do principal terminal de cargas do porto de Paranaguá, no Paraná, por R$ 3,2 bilhões. O porto paranaense é o segundo maior do Brasil (perde apenas para o de Santos, em São Paulo) e está localizado em ponto estratégico para escoamento de produtos agrícolas para a China, principalmente soja. A partir de agora, 90% das operações do porto passam pela estatal chinesa. Além disso, os asiáticos devem investir para realizar melhorias no terminal.

Para se decidir pelo investimento, os chineses fizeram uma exigência aos sócios nativos. Impedir que outro porto, especialmente o de Pontal do Paraná, passe a funcionar competitivamente com seu novo negócio. Isso explica a intensa campanha deflagrada contra o novo porto. Entre os chineses e empreiteiros paranaenses cooptados de um lado e o projeto do novo porto de Pontal de outro,abriu-se um espaço de conflagração que inclui como principal instrumento de ataque o uso de ONGs e entidades de defesa do meio-ambiente, dos indígenas, dos pescadores, dos catadores de mariscos, associações que, conscientemente ou não, se colocam a serviço da ocupação pelo capital chinês.

Nesse debate também deveriam entrar as populações da região que vivem sob penúria, com grande taxa de desemprego e miséria, que torcem pelo novo porto de capital nacional. Elas esperam que se abram oportunidades de empregos, de novas atividades e de melhoria geral das condições sociais na área. Mas, neste momento, são mais glamourosas as forças de defesa do meio-ambiente, que não têm constrangimento em usar as alegações mais fictícias, como o risco de um vazamento de petróleo ou de mudança das marés, para falar com uma sociedade que hoje dá mais importância aos furores de ecologistas que à situação social que pede o novo empreendimento.