Morto em 2010, o ex-deputado paranaense José Janene era o elo de ligação entre o mensalão e os desvios de dinheiro na Petrobras. Depoimento de um empresário à Justiça, revelado em reportagem da revista Época, aponta que as irregularidades na estatal foram a forma encontrada para calar o ex-parlamentar a respeito do mensalão. Mais do que isso, ele afirma que Janene estava acima do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa na hierarquia dos dois esquemas. As informações são da Gazeta do Povo.
A revista Época traz detalhes do depoimento do empresário Hermes Freitas Magnus, dado em 22 de julho ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato. Ex-sócio de Janene, Magnus afirma que o esquema na Petrobras “era a extensão do mensalão, um cala-boca para que (Janene) permanecesse quieto”. Segundo o empresário, o ex-parlamentar dizia que poderia “derrubar Lula”, porque sabia tanto do esquema de compra de votos no Congresso quanto o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Magnus diz ainda que, ao indicar Paulo Roberto Costa para comandar a Diretoria de Abastecimento da Petrobras, Janene passou a atuar com ele mais Youssef no desvio de recursos da empresa. Conforme investigações da Operação Lava Jato, o doleiro, que já havia ajudado o ex-parlamentar a lavar o dinheiro do mensalão, recebia propina de empreiteiras para fechar contratos com a estatal e repassava a verba a políticos e partidos.
De acordo com o empresário, Janene exercia o posto de comando do grupo, por ter “acesso livre” e intermediar contratos entre a Petrobras e empresas de grande porte. “Lá (na Petrobras), mando eu”, eram as palavras do ex-parlamentar, afirma o empresário. Ele conta que todos os deputados que queriam falar com diretores da empresa só conseguiam ter sucesso no contato por meio de Janene. Em uma das ligações, o ex-deputado do Paraná teria ironizado um colega que procurou sua ajuda: “E aí, a espera tá grande?”.
Histórico
A Operação Lava Jato teve início justamente a partir de uma investigação sobre um negócio de Magnus com Janene. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o ex-deputado lavou R$ 1,16 milhão dos R$ 4,1 milhões que recebeu no mensalão investindo, em julho de 2008, numa fabricante de componentes eletrônicos que pertencia ao empresário. De acordo com a revista Época, o investimento, na verdade, era um golpe para que Janene e Youssef lavassem o dinheiro do esquema do PT, aproveitando-se da necessidade de Magnus de capitalizar a empresa dele.
Como resultado, o empresário acabou escanteado dentro do próprio negócio e, alertado por um advogado, decidiu procurar a Polícia Federal, depois de ter sido, inclusive, ameaçado de morte por Janene. O vídeo do depoimento mostra que, quando Magnus conta a situação ao juiz Sérgio Moro, Youssef, que também está na sala, bate na mesa e reclama: “Ele está mentindo, ele é mentiroso”.
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