da Folha de S.Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou de sua influência no Itamaraty para agendar reuniões privadas com presidentes africanos durante um giro por quatro países em março deste ano.
Alguns encontros reuniram políticos locais e representantes de empresas patrocinadoras das viagens de Lula: as construtoras Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht.
As informações sobre a viagem estão em telegramas do Itamaraty. Grandes empreiteiras custearam viagens do petista a 13 países desde 2011.
O pedido para que o Itamaraty agendasse os encontros foi feito por Clara Ant, assessora do Instituto Lula e ex-funcionária da Presidência.
Ao receber os pedidos, algumas embaixadas pediram orientação do Itamaraty, em Brasília. A ordem foi de que o pedido de agendamento fosse feito por nota verbal (um tipo de documento diplomático) aos governos locais.
Servidores do Itamaraty afirmam que o apoio é uma cortesia e que pode ser estendido a outras personalidades.
ROTEIRO
A primeira parada de Lula foi Malabo, capital da Guiné Equatorial. Segundo o Itamaraty, a agenda foi acertada entre o Instituto Lula, o Cerimonial da Presidência da República local, a Odebrecht, quefinanciou a viagem de Lula, e a embaixada brasileira.
Lula teve audiência de duas horas com o ditador Teodoro Obiang, no poder desde 1979. A embaixada informou ao Itamaraty que a visita iria “projetar ainda mais o potencial de nossas empresas no mercado guinéu-equatoriano”.
A próxima parada foi Gana. Duas semanas antes, Clara Ant informou à embaixada, por telefone, que Lula gostaria de encontrar-se com o presidente John Dramani Mahama no dia 15 de março, já que no dia 16 tinha reunião com representantes da Embrapa e do braço da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
A diplomata local pediu orientações a Brasília, que recomendou o envio de “nota verbal à chancelaria local”.
Clara Ant também contatou a embaixada no Benin. Segundo o telegrama, expressou “o desejo do senhor ex-presidente de manter encontro amigável com o presidente Boni Yayi”. A embaixada foi incumbida ainda de organizar encontros de Lula com empresários brasileiros e do Benin.
O embaixador Arnaldo Caiche informou Brasília: “O ex-presidente esteve acompanhado de empresários de grandes construtoras brasileiras: Queiroz Galvão, OAS e Odebrecht. Na ocasião, ficou evidente o despertar de interesse por projetos no Benin”.
Na ocasião, o empresário Marcos Queiroz Galvão propôs a abertura de um comitê de empresas do Brasil no país, “cuja função principal será a de prospectar oportunidades de investimentos”.
Na Nigéria, parada final da viagem, a assessoria do ex-presidente procurou a embaixada para marcar encontros com o presidente Goodluck Jonathan e com o ex-presidente Olusegun Obasanjo.
Os diplomatas viajaram para organizar os encontros, desembolsando US$ 582 de verbas do Itamaraty.
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