Cerca de 60% maior que Itaipu em capacidade instalada, Três Gargantas produziu 101 milhões de MWh, em 2018, e não superou recorde de Itaipu de 2016. Produção média dos últimos cinco anos da usina chinesa também é inferior à da binacional
Não foi dessa vez. Mesmo com capacidade instalada mais de 60% maior do que a de Itaipu, a usina chinesa de Três Gargantas não superou a hidrelétrica brasileiro-paraguaia em geração de energia. A hidrelétrica asiática fechou 2018 com 101 milhões megawatts-hora (MWh) ainda inferior ao recorde mundial da Itaipu de 103,1 milhões de MWh gerados em 2016. As duas megausinas são as únicas do planeta a ultrapassar a barreira dos 100 milhões de megawatts-hora (MWh), num único ano.
Desde o começo de sua operação, em maio de 1984, há exatamente 34 anos e sete meses do início do acionamento de suas primeiras unidades geradoras, Itaipu acumula 2,6 bilhões de MWh, energia suficiente para iluminar o mundo inteiro por 42 dias com eletricidade limpa e renovável e mais barata que a termoelétrica. Já Três Gargantas acumula produção de 1,2 bilhão de MWh, menos da metade do acumulado de Itaipu.
A capacidade instalada da usina de Três Gargantas é de 22,4 mil MW, 60% maior que os 14 mil MW de Itaipu. Isto é, Três Gargantas corresponde a 1,6 Itaipu. Mas, na comparação de produtividade, a binacional mantém, além da produção anual recorde de 2016, de 103,1 milhões de MWh, a melhor média dos cinco anos – 98,5 milhões de MWh. A média dos cinco melhores anos da usina chinesa é de 97,9 milhões de MWh.
Apesar de ter capacidade instalada consideravelmente inferior à da chinesa, como Itaipu consegue ser competitiva ou até mesmo superar a produção de Três Gargantas? Segundo o diretor técnico executivo, Mauro Corbellini, há uma série de razões que diferenciam os projetos dessas duas megausinas extraordinárias, entre eles, os objetivos, a regularidade das vazões e os mercados de consumo. Mas, se fosse para destacar só um dado, afirma Corbellini, seria a produtividade da Itaipu.
Dança com as águas
Nos melhores cinco anos da Itaipu, todos recentes, a produtividade média tem sido de 97,8%. Isso significa, na prática, que 97,8% da água turbinável, prevista pelo projeto, foi transformada em energia, em MWh, ou seja aproveitada para gerar. Quase não houve desperdício.
Isso se deve ao processo interno adotado pela usina, conhecido como “a dança com as águas”. Coordenada pela Diretoria Técnica, esse sistema permite sincronizar as atividades binacionais de Engenharia, Obras e Montagens, Manutenção e Operação ao sinal hidrológico, não somente da Itaipu, mas de seus parceiros, como Operador Nacional do Sistema (ONS), Furnas, Eletrosul e a estatal paraguaia ANDE. “É justamente essa produtividade que tem feito a diferença”, reforça Corbellini.
O diretor-geral brasileiro, Marcos Stamm, explica que “os excelentes índices de Itaipu, associados à afluência da Bacia Hidrográfica do Paraná e à demanda por energia dos mercados brasileiro e paraguaio, têm permitido a nossa usina viver o seu melhor desempenho operativo dos últimos anos”.
Sobre o que considera uma saudável concorrência operativa entre as usinas, Stamm diz que, inevitavelmente, um dia a chinesa, por ter capacidade instalada muito maior, ultrapassará Itaipu. “Mas eu torço pra que isso demore a acontecer”, diz Stamm, em tom de brincadeira.
Cooperação
Três Gargantas foi construída no Rio Yang-tsé e tem como funções não só a geração de energia, mas também a prevenção de enchentes (que provocavam catástrofes, antes da construção da barragem), e facilitar o transporte fluvial. Ela é mantida pela holding Three Gorges Corporation, que controla várias usinas chinesas. A mais importante é justamente Três Gargantas, a maior do mundo em capacidade instalada.
Boa parte do know-how utilizado no projeto daquela usina foi adquirida pelos chineses em visitas à hidrelétrica de Itaipu desde o início da sua construção, ainda em meados de 1974, nos canteiros de obra. As duas usinas têm um ótimo relacionamento. Ambas mantêm vários protocolos de intenções para desenvolver ações conjuntas de pesquisa nas áreas de energia renovável. Itaipu desenvolve vários projetos neste setor, entre eles o do biogás, replicado em várias partes do Brasil e do mundo.
Estão previstas nesta parceria a realização de seminários técnicos para troca de conhecimentos em temas operacionais, seminários setoriais, além de estágios para jovens engenheiros, projetos de pesquisa que fortaleçam os parques tecnológicos e cooperação em projetos de responsabilidade social e desenvolvimento regional.
Atualização
Itaipu também está entrando numa nova etapa, iniciando o projeto de modernização tecnológica das suas 20 máquinas, 18 das quais ainda são das décadas de 1980 e 1990. A previsão é de que tudo esteja pronto em dez anos, com um investimento previsto de US$ 500 milhões. Essa atualização vai permitir que a usina mantenha os níveis de produção que a levaram ao recorde mundial de geração de energia, em 2016.
Para chegar até o projeto de modernização, foram quase dez anos de estudos, planejamento e projetos. Com esse novo desenho, Itaipu poderá integrar vários equipamentos digitais que realizam as funções desempenhadas pelos dispositivos atuais, e várias novas funções que visam aprimorar ainda mais os processos de gestão da produção de energia.
Já os equipamentos eletromecânicos pesados, como turbina, rotor, estator e transformador principal, não fazem parte do processo de atualização tecnológica, porque estão longe do final da vida útil típica para esta classe de componentes. Cada etapa está sendo exaustivamente avaliada antes de avançar para a próxima.
Se forem duas máquinas por ano, o prazo de execução dos trabalhos, com unidades paradas, é de aproximadamente dez anos, acrescidos de três para as atividades que antecedem as paradas, como projeto executivo, fabricação e ensaios. A expectativa é que em meados de 2019 o projeto saia do papel.
Itaipu atende hoje aproximadamente 15% da energia consumida em todo o Brasil e em torno de 90% do consumo paraguaio. O escoamento da energia de Itaipu vai para o sistema interligado brasileiro, a partir da subestação de Foz do Iguaçu, no Paraná, que é feito por Furnas e Copel, sob coordenação do ONS.
Compensação
A Itaipu paga royalties pelo aproveitamento dos recursos hídricos pertencentes aos dois países. De 1985 até 2018, a empresa pagou mais de US$ 11,5 bilhões em royalties ao Brasil e ao Paraguai. O pagamento está previsto no Anexo C do Tratado de Itaipu. No lado brasileiro, os recursos beneficiam, principalmente, 16 municípios lindeiros ao reservatório, sendo 15 no Estado do Paraná e um no Mato Grosso do Sul. Os royalties são aplicados na melhoria da qualidade de vida da população, nas áreas de educação, saúde, moradia e saneamento básico.
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