O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, afirmou nesta terça-feira que vai aumentar o número de policiais responsáveis pelos inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) contra deputados, senadores e ministros para, a partir daí, acelerar as investigações sobre políticos, a maioria deles citados na Operação Lava-Jato. Segóvia disse, no entanto, que as investigações devem ser mantidas em sigilo até serem concluídas e que não admitirá vazamentos ou exploração política de inquéritos. As informações são de Jailton de Carvalho n’O Globo.
O diretor disse que até já existem duas investigações na Corregedoria-Geral sobre supostos desvios de conduta com objetivo político na Lava-Jato. Segóvia concedeu ontem ao GLOBO e mais três veículos uma entrevista de quase duas horas. Depois de negar que tenha sido indicado para o cargo pelo ex-presidente José Sarney ou pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, expôs as linhas gerais de seu plano à frente da PF.
— Talvez seja o momento de a Polícia Federal, quem sabe, dar um upgrade na equipe de investigação dos inquéritos do STF para que haja uma velocidade maior nessas investigações. Para que a gente possa concluí-las no menor prazo possível — afirmou Fernando Segóvia.
O diretor-geral explica que alguns ministros do STF já reclamaram sobre a lentidão dessas investigações. Disse ainda que diretores da gestão anterior também reconheceram a necessidade de imprimir velocidade aos inquéritos sobre deputados, ministros e senadores. Para Segóvia, é importante agilizar as apurações e dar uma resposta à sociedade sobre os políticos acusados de corrupção. Como vários deles serão candidatos nas eleições de 2018, os eleitores teriam o direito de saber se as suspeitas levantadas até agora têm ou não fundamento à luz de uma investigação criminal.
A pressão para que a polícia acelere os trabalhos também parte da classe política. Alguns suspeitos querem que a investigação seja concluída logo porque, acreditam, poderão enfrentar as urnas sem carregarem na ficha o peso de um inquérito sobre corrupção. Segóvia disse ainda que, se for necessário, criará forças-tarefa nos estados para aprofundar outras frentes de investigação, algumas delas relacionadas à Lava-Jato.
Mas o diretor deixou claro que não vai aceitar vazamentos ou desvios político-partidários em inquéritos criminais. Segundo ele, a polícia deve ser republicana, investigar em silêncio e não pode, em hipótese alguma, interferir no processo político-eleitoral do país.
— A gente percebe que algumas investigações ao longo da história da Polícia Federal tiveram alguns desvios dentro das linhas investigativas. Alguns delegados nossos tiveram desvios no sentido que eu diria até meio político-partidários. Então há uma necessidade grande de que a PF tenha um trabalho muito profissional para que a gente busque somente a verdade real dos fatos — disse, sem citar os policiais que teriam se desviado.
INVESTIGAÇÃO SOBRE DELEGADOS
Ao responder se esse tipo de desvio também teria ocorrido na Lava-Jato, Segóvia disse que há uma suspeita e que já existem duas investigações na Corregedoria-Geral para apurar a denúncia de um suposto grampo ilegal na cela onde estava preso o doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da Lava-Jato. Ele disse que, no momento oportuno, o resultado das investigações será divulgado:
— Todas essas suposições, nada provado, estão sendo investigadas. A nossa Corregedoria mandou uma, duas vezes já pessoal (para Curitiba) para fazer esse tipo de investigação. Qualquer desvio de conduta de qualquer delegado nosso, que houver suspeita, faremos uma investigação.
O diretor disse ainda que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, partilha da preocupação com o sigilo das investigações. Os dois conversaram por quase três horas na última sexta-feira. Segóvia foi ao encontro da procuradora-geral minutos depois de tomar posse, um gesto inédito na história dos diretores da PF.
Segovia confirmou que trocará toda a diretoria, conforme revelou o GLOBO na quinta-feira, e que vai trocar também boa parte dos 27 superintendentes. Uma das mudanças já acertadas é o comando da PF no Paraná, base da Lava-Jato. O atual superintendente, Rosalvo Franco, será substituído pelo atual diretor de Combate ao Crime Organizado, Maurício Valeixo. Franco decidiu se aposentar e, com isso, abrirá vaga para Valeixo. Os novos diretores e superintendentes terão carta branca para montar equipe.
Segóvia afirmou ainda que vai nomear delegados para a força-tarefa de combate ao tráfico de drogas e armas no Rio. A força-tarefa já foi acertada pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, com o governador Luiz Fernando Pezão.
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