O desmatamento provocado por garimpo ilegal na Terra Indígena (TI) Yanomami chegou a 232,7 hectares em 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), área 24,7% maior do que a do ano anterior.
O levantamento foi compilado a pedido do jornal Folha de S.Paulo, com base em imagens de satélite do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter).
A atividade do garimpo está por trás da grave crise que atinge os yanomami, que enfrentam desnutrição, contaminação por mercúrio e surtos de malária.
Em 20 de Janeiro, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, declarou emergência médica no território.
Relatos apontam que 570 crianças morreram de desnutrição e doenças evitáveis durante os quatro anos do governo Jair Bolsonaro, a quem o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, acusa de ignorar as atividades do garimpo ilegal e a situação de emergência humanitária.
O monitoramento do desmate por garimpo na TI Yanomami é feito desde 2019 pelo Deter. Nos quatro anos monitorados, 958 hectares da floresta na área foram derrubados pelo desmatamento.
Em 2019, o desmate na TI Yanomami foi de 269,4 hectares, e permaneceu no mesmo nível no ano seguinte, com mais 269,57 hectares destruídos. Em 2021, foi registrada queda, para 186,58 hectares.
Dinâmica eleitoral
À Folha de S. Paulo, o geógrafo Estevão Senra, pesquisador do Instituto Socioambiental, disse que o aumento do desmatamento pelo garimpo no ano passado pode ser atribuído em parte à dinâmica eleitoral: por um lado, garimpeiros tentando se estabelecer na área com a expectativa da liberação da atividade caso Bolsonaro fosse reeleito e, por outro, a tentativa de extrair o máximo possível antes de um eventual endurecimento da fiscalização caso Lula ganhasse – como o petista vem prometendo fazer.
Além do desmatamento, o garimpo também vem impondo outras tragédias ao povo yanomami. O relatório Yanomami sob ataque, da Hutukara Associação, publicado em abril de 2022, denunciou que garimpeiros haviam tomado polos de saúde indígena que atendiam mais de 5 mil indígenas por mês. O levantamento também apresentou casos de casamento forçado entre garimpeiros e indígenas em troca de comida e armas de fogo, estupro de menores, rapto de crianças, aliciamento e trabalho escravo na TI Yanomami.
Maior terra indígena do país, o território yanomami foi demarcado em 1992 e fica nas florestas de Roraima e Amazonas, colado à fronteira com a Venezuela. A região virou terra dominada por garimpeiros a partir de 2016 – a Hutukara estima que existam atualmente 20 mil garimpeiros dentro da TI Yanomami agindo com financiamento do crime organizado e tráfico de drogas. Segundo a associação, o garimpo cresceu 3.350% no local de 2016 a 2020.
Fonte: Istoé
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