Inovar é uma palavra que traduz muito do que buscamos, como a melhoria da saúde
José Otavio Costa Auler Junior e Giovanni Guido Cerri
A revolução tecnológica pela qual passamos e que, sem dúvida, irá se acentuar nos próximos anos traz evidentes benefícios e desafios para todas as áreas do conhecimento humano. Especificamente na saúde, essas potencialidades são ainda maiores e mais sensíveis.
Afinal, estamos falando de novas formas de tratarmos e de prevenirmos doenças, de novas formas de o paciente lidar e se informar sobre a própria saúde e de novas formas de o médico acessar e utilizar o conhecimento produzido. Falando, portanto, de novas e melhores formas de viver.
Tratamentos e medicamentos que no século passado levariam décadas para ser descobertos serão desenvolvidos em anos, ou até em meses. Bases de dados de amplitude antes inimagináveis agora se tornam acessíveis por meio de um celular.
Precisamos estar atentos e preparados para sermos parte dessa onda, e não ficarmos apenas a reboque. As inovações trarão, além dos benefícios aos pacientes, enormes oportunidades de geração de empregos, de desenvolvimento científico e tecnológico para o país.
Além disso, as inovações irão contribuir de forma decisiva para reduzir custos no SUS, com ferramentas de melhoria de gestão, tecnologias mais modernas e adequadas à realidade nacional e ganhos em eficácia e eficiência tanto nos processos quanto nos tratamentos.
Para que isso ocorra, é preciso que trabalhemos todos juntos. Os setores público e privado precisam se aproximar, para que a força de um se apoie nas qualidades do outro. Precisamos estimular e criar condições para que nossos profissionais e sua imensa capacidade de criar e pesquisar encontrem um ambiente positivo.
Por isso, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP criou o Centro de Inovação Tecnológica, para encorajar e dar sustentação aos nossos jovens inovadores.
Neste ano, lançamos um programa de capacitação no qual treinamos empreendedores com o objetivo de incentivar a criação de startups a partir de pesquisas e soluções desenvolvidas no Hospital das Clínicas da USP.
Hoje o núcleo já possui 14 projetos em andamento, com investimentos de R$ 15 milhões. São 15 bolsas relacionadas aos projetos de inovação em curso, além de trabalhos apresentados em congressos internacionais. Representantes do MIT e da Universidade de Rotterdam estiveram no Hospital das Clínicas da USP para conhecer os projetos e viabilizar parcerias.
Dentro desse contexto, no início de março será realizado um workshop internacional sobre inovação, com apoio da Fapesp e Agência USP de Inovação, quando receberemos professores do Instituto Karolinska, da Suécia, Universidade de Leiden, da Holanda, MaRS Discovery District, do Canadá, e de representantes do governo de Israel.
No campo privado, empresas já fecharam parcerias com o HC para pesquisas sobre esclerose múltipla e Alzheimer, entre outras.
É necessário, no entanto, que esse desenvolvimento esteja acompanhado, desde já, por um total compromisso do ponto de vista ético.
Quando falamos de big data e prontuários eletrônicos, por exemplo, é fundamental que a privacidade dos pacientes seja garantida e que os benefícios que seus dados possam trazer ao desenvolvimento de tratamentos e medicamentos sejam revertidos em benefícios claros a esses mesmos pacientes.
Inovar hoje é uma palavra que traduz e reúne muito do que buscamos: a melhoria da saúde, o desenvolvimento científico e tecnológico, o crescimento econômico. Se percorrermos esse caminho de forma ética, inovar será a tradução, enfim, de um futuro melhor.
José Otaviio Costa Euler Junior é diretor da Faculdade de Medicina da USP e presidente do conselho deliberativo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Giovanni Guido Cerri é presidente do conselho diretor do InRad e coordenador do núcleo de inovação tecnológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
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