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Imprensa independente… dos fatos?

(*) Ronildo Pimentel

Outro dia, acompanhando uma palestra do jornalista e ex-ministro das Comunicações, Franklin Martins, me deparei com uma declaração do próprio, que me deixou com os piolhos atordoados. Dizia o Franklin que a imprensa brasileira é a mais independente que ele conhece.

Sim, independente. Isto porque, segundo palavras dele, a imprensa brasileira é independente dos fatos. Poutz, independente dos fatos? Quer dizer que a nossa imprensa pode noticiar o que quiser, sem ao menos se dar ao trabalho de verificar os fatos? Se a informação procede?

Que horror, pensei num primeiro momento, para depois, junto com a platéia, cair na gargalhada. Uma imprensa que independe dos fatos? Como pode isto acontecer?

Bom, demorou um pouco, mas caí na realidade. Claro que pode. A nossa imprensa é livre, não existe um marco regulatório. Pode-se falar ou escrever o que quiser, sem se importar com aqueles ou o que isto vai atingir.

Mas isto não é uma coisa que, digamos, agrade os jornalistas. A maioria, aqueles que defendem o mínimo de imparcialidade ao noticiar alguma coisa, é a favor do marco regulatório, tão condenado pelos grandes veículos de comunicação.

Vejam só outro fato relacionado ao tema, que pode levar luz aos cantos escuros do cérebro dos menos avisados.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) apresentou um projeto regulamentando o direito de resposta para aqueles que se sentirem ofendidos por serem citados em reportagens independentes dos fatos.

A matéria passou por unanimidade em uma das comissões do Senado, mas soou como uma grande ofensa para quem? Exatamente para aqueles que tanto criticam um marco regulatório, ou Ley de Medios, para quem gosta da expressão no original do espanhol.

Mas afinal? O que pode ser tão terrível para um veículo de comunicação publicar a resposta de uma pessoa que teve a imagem denegrida?

Hoje, para conseguir um direito de resposta, principalmente nas emissoras de televisão, é uma epopéia, uma batalha de anos, até décadas nos tribunais.

Mas não pensem que uma vitória na Justiça lhe garanta o mesmo espaço das manchetes garrafais que lhe atingiram no momento da calúnia.

O ex-prefeito de Curitiba, Rafael Greca, tem bem a noção do que estou tentando explicar. Em 2005 o político foi condenado, por dois votos a um, por ter construído um hospital na região do Bairro Novo, uma das mais pobres da capital do Paraná.

No dia seguinte, a manchete estava lá, na primeira página da Gazeta do Povo, principal jornal do Paraná e carro-chefe do GRPcom, grupo proprietário de jornais, revistas, emissoras de rádio e TV e de sites de notícias.

Pois bem, ao reverter a decisão, em novo julgamento do Tribunal de Justiça, Greca viu sua nota veiculada num cantinho da página 17, no segundo caderno do jornal.

E olha que a vitória foi por cinco a zero, muito diferente de um julgamento duvidoso.

Estes são apenas alguns exemplos da independência da nossa brava imprensa brasileira, como bem frisou Franklin Martins, que coordenou a elaboração do anteprojeto do marco regulatório da imprensa nacional.

Anteprojeto que, aliás, permanece mofando nas gavetas do atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Até quando, não se sabe.

Mas afinal, a quem interessa uma imprensa independente (dos fatos)? Até quando vamos ver os veículos de comunicação tripudiando sem dar a menor chance de defesa?

Por enquanto, o que é possível fazer é seguir em frente, com um mínimo de independência, não de fatos, da influência de grupos que estão mais interessados no monopólio da informação.

Ou ainda, lembrando o título de um livro de Washington Novaes: “A quem pertence à informação?”.

(*) Ronildo Pimentel é jornalista em Curitiba e editor do Boca Maldita