Iluminação: Unesco Pode Tirar Título das Cataratas
Por Guilherme Dreyer Wojciechowski – SopaBrasiguaia.com
O controvertido projeto de iluminação noturna das Cataratas do Iguaçu, defendido pelo prefeito Paulo MacDonald Ghisi, pode levar uma das paisagens mais belas do planeta a perder o título de Patrimônio Natural da Humanidade, conquistado na década de 1980.
É o que alerta o portal La Voz de Cataratas, da vizinha Puerto Iguazú (Argentina), em artigo difundido pela imprensa argentina neste final de semana. Para embasar suas afirmações, os articulistas citam documentos da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Em convenção realizada em 1972, a UNESCO lança um alerta de que os atrativos selecionados como Patrimônio Natural da Humanidade não devem sofrer nenhum tipo de deterioro, modificação ou alteração que modifique o ecossistema natural dele dependente.
A proteção desse patrimônio fica a cargo do Estado, em suas diferentes esferas representantes, que devem zelar pela preservação das riquezas naturais (tombadas ou não), para que as futuras gerações possam desfrutar dos bens comuns em sua plenitude.
Em caso de que as premissas de preservação sejam desobedecidas, por parte do Estado ou de representantes da sociedade, a UNESCO pode rever o status até que as condições voltem a ser adequadas ou, na pior das hipóteses, retirá-lo de forma definitiva.
Concedido em 1984 (lado argentino) e 1986 (lado brasileiro), o título de Patrimônio Natural da Humanidade é uma das grandes marcas para a atração de turistas aos parques nacionais de Iguazú (Argentina) e Iguaçu (Brasil).
Do lado brasileiro, esta não é a primeira vez em que o risco de perder a distinção internacional surge no horizonte. Desde a década de 1990, o fantasma da reabertura da Estrada do Colono, que divide a mata em duas porções isoladas, ameaça o título conquistado pela unidade de preservação.
Polêmica
Conforme relatado pelo SopaBrasiguaia.com em 13/09, a idéia de realizar espetáculos noturnos de luz e som, projetados nas quedas d’água e paredões rochosos das Cataratas, foi resgatada meses atrás pelo prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo MacDonald Ghisi.
A “iluminação monumental” ocorreria todas as noites, em duas sessões com dez minutos de duração. Neste tempo, saltos seriam iluminados e figuras como a do explorador espanhol, Alvar Núñez Cabeza de Vaca, seriam projetadas para recriar a história da “descoberta” dos saltos.
“Não prejudicaria em nada as quedas d’água, os pássaros ou as borboletas, e seria um atrativo extraordinário”, afirmou o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo MacDonald Ghisi, em entrevista ao portal La Voz de Cataratas, da vizinha Puerto Iguazú.
“Todo o som utilizado para ambientar o espetáculo seria através de pequenos fones de ouvido”, argumentou MacDonald. “Só seria o efeito da luz, que nesse caso, é menor que o impacto gerado por uma tormenta de raios nesta região”.
Questionado sobre a posição contrária de ambientalistas brasileiros e estrangeiros, o prefeito criticou a “cabeça fechada” dos ecologistas e revelou que seguirá insistindo com o projeto, no intuito de remodelá-lo e apresentá-lo ao trade turístico antes do final do ano.
Desafio
Se, para o prefeito Paulo MacDonald, dez minutos de iluminação artificial são incapazes de prejudicar “as quedas d’água, os pássaros ou as borboletas” (e, por dedução lógica, os humanos), propomos um desafio aos defensores do projeto:
Que tal instalar no quintal de casa, voltado para a janela do quarto, um refletor e um canhão laser para simular o efeito do espetáculo noturno proposto para as Cataratas? Regra: não vale fechar a persiana, já que a natureza não tem esse tipo de defesa. E aí? Quanto tempo você agüentaria?
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