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Ideias nas bancas revela: Curitiba tem 17 candidatos a prefeito

A oito meses das eleições, a chapa esquenta em Curitiba. Dos 28 partidos com registros no Tribunal Regional Eleitoral, 12 afirmam ter pré-candidatos a prefeito. Mas até as pedras do Centro Cívico sabem que a maioria dessas pré-candidaturas é puro blefe. Não passam de balão de ensaio para composições vantajosas que nem sempre se consumam na mesa das negociações políticas. Há outros guichês abertos.

Matéria do nosso camarada Pedro Lichtnow na revista Ideias, edição de fevereiro já nas bancas. Leia a seguir a íntegra da matéria e não deixem de comprar a revista para garantir o trabalho de Lichtnow.

A oito meses das eleições, a chapa esquenta em Curitiba. Dos 28 partidos com registros no Tribunal Regional Eleitoral, 12 afirmam ter pré-candidatos a prefeito. Mas até as pedras do Centro Cívico sabem que a maioria dessas pré-candidaturas é puro blefe. Não passam de balão de ensaio para composições vantajosas que nem sempre se consumam na mesa das negociações políticas. Há outros guichês abertos.

Por enquanto, a lista dos candidatos é a que se segue: Luciano Ducci (PSB), Gustavo Fruet (PDT), Ratinho Júnior (PSC), Rafael Greca (PMDB), Fábio Camargo (PTB), Renata Bueno (PPS), Dr. Rosinha (PT), Ângelo Vanhoni (PT), Tadeu Veneri (PT), Roberto Acioli (PV), Dra. Clair Martins (PV), Paulo Salamuni (PV), Luiz Carlos Martins (PSD), Ney Leprevost (PSD), Alzimara Barcelar (PPL), Bruno Meirinho (PSol) e Diego de Sturdze (PSTU). É muito provável que o cidadão curitibano não conheça todos esses pretendentes. Nem é preciso. A disputa real será entre aqueles que o distinto público conhece. Tudo o mais é figuração.
PRB, PP, PSL, PTN, PCB, PR, DEM, PSDC, PRTB, PHS, PMN, PTC, PRP e PCdoB vão gravitar, com chapas de vereadores, nas coligações mais fortes. PP, DEM e PR aspiram a indicação do vice, mas ficarão mais do que contentes com uma aliança negociada com um dos candidatos de ponta.

“Estamos na temporada em que todos querem a janelinha do avião, se dizem irredutíveis quanto a participar das eleições, mas quando chegar maio, o processo vai afunilar em quatro ou cinco candidaturas. Nada mais do que isso”, diz um atento observador do baralho político que está em jogo desde as últimas eleições na capital paranaense.

MAIOR ELEITOR No jogo das pré-candidaturas é possível identificar quem está de mão cheia e quem está com o facão mais afiado. De um lado, o vitorioso governador Beto Richa, do PSDB, que aposta as suas fichas na reeleição de Luciano Ducci, do PSB, que se larga ao mar bem avaliado na condução do governo municipal e como fiel coadjuvante de Richa. Ascende naturalmente nas pesquisas eleitorais.

“Vamos acompanhar o PSB com a candidatura de reeleição do prefeito Luciano Ducci. É nosso parceiro. Sempre esteve ao nosso lado, tem tocado todos os projetos, seguido a mesma linha de governo que iniciamos em Curitiba. É uma pessoa preparada e conhece todos os problemas da cidade. É competente, é funcionário público, conhece a estrutura da prefeitura, tem espírito de liderança. Tanto é que continua com o mesmo ritmo de investimentos e obras em Curitiba da nossa época e acredito que os investimentos foram até ampliados”, diz Beto Richa.

Ducci, evidente, agradece o apoio do maior eleitor de Curitiba, mas desconversa sobre as eleições. “Estou bem animado é com gestão pública que estamos fazendo. Com todas as obras que estão para ser iniciadas e outras, em fase de conclusão. O processo eleitoral começa lá para o mês de julho”, disse, embora saiba que a disputa corre solta desde o fim da última eleição.

Seu maior cacife, além do apoio de Richa, são as obras. Entre 2011 e 2012, Ducci espera entregar 1.525 obras de porte em todas as áreas e parte das grandes obras viárias da Copa do Mundo, vai fazer 500 km de asfalto e iniciar a obra do Metrô. Os investimentos em todas as obras superam R$ 4,5 bilhões. Não é de somenos.

“Acho ótimo as pessoas perceberem que estamos transformando a cidade num grande canteiro de obras. Isso é a competência na condução da gestão que conseguiu recursos no governo estadual, no governo federal e investimentos internacionais. E também de recursos da própria prefeitura, que possibilitou esse canteiro de obras que vai transformar Curitiba”, completou.

DESARRANJO Do outro lado da arena dos leões temos o jogo do PT, mais precisamente do grupo que se autodenomina “Construindo um Novo Brasil”. É a corrente majoritária no partido de Lula, capitaneada no Paraná pelo casal de ministros Paulo Bernardo, das Comunicações, e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil. Em 2008, Gleisi fez somente 18% dos votos na eleição municipal de Curitiba. Dois anos depois, foi eleita senadora com 22% dos votos curitibanos.

Desde 2010, o foco de Gleisi e Bernardo é a disputa da sucessão de Richa em 2014. E 2012, a eleição municipal, é o primeiro turno para o casal petista. Focados no projeto, o casal vai atropelar qualquer pretensão do segundo e terceiro times do petismo nativo. Nomes como Rosinha, Ângelo Vanhoni e Tadeu Veneri estão descartados. Gleisi e Bernardo acomodaram o ex-deputado tucano Gustavo Fruet no PDT para encarar a força de Richa, Ducci e aliados.

De nada adianta as chorumelas de Rosinha e Veneri. Quanto a Vanhoni, é o balão do casal até junho, quando o PT vai consumar oficialmente o que já está acordado desde o ano que passou. Vai capitular aos interesses de Fruet. Mesmo que haja chiadeira dentro do PT. “Se o Gustavo (Fruet) pensa que está negociando com o PT, alguma coisa está errada nessa conversa. Em nome do PT, não há negociação. Temos um calendário produzido pelo diretório nacional e não vai ser um dirigente que vai se sobrepor ao partido. Seria uma situação surreal nós acharmos que pessoas individualmente são maiores que o processo coletivo”, disse Tadeu Veneri.

Irritado, Veneri não esqueceu de cutucar a cúpula do PT, ou seja, o casal Gleisi e Paulo. “A cúpula tem o direito e a legitimidade de querer o que ela quiser, desde que ela passe pelos pressupostos internos partidários. Ela pode ter desejos e isso é legítimo. Mas daí a você ter esse desejo transformado em realidade tem um caminho chamado partido. E eu não abro mão de disputar internamente a candidatura”, completa.

SAIA JUSTA Escalado pelo PT que manda, Fruet esqueceu rápido que pontuou grande parte dos seus últimos oito anos em denunciar os escândalos petistas no governo que Gleisi e Bernardo representam na planície. No Congresso Nacional, sua performance na CPI do Mensalão foi tão emblemática quanto a alcunha praguejada a José Dirceu – “o chefe da quadrilha”, nas palavras de Fruet.

O noviço brizolista desconversa e diz que em política é assim mesmo e cada capítulo da novela tem seu próprio enredo. Quanto à coerência, joga a responsabilidade para o distinto público. “Quem vai fazer esse julgamento é a população, mas em cima de princípios, de um diálogo e de muitos mais pontos de convergência. Com argumento, há uma compreensão. Evidente que a população vai marcar muito mais sua capacidade de indicar os caminhos para o futuro da cidade do que propriamente um debate ideológico e partidário”, disse em entrevista ao jornal Gazeta do Povo.

“A eleição local tem outra característica. Ela é muito mais para discutir o futuro da mobilidade, da segurança, da saúde, que para debater questões que dominam a pauta no Congresso”, completou.
Há divergências. Tem gente que não concorda com o “bom mocismo” do pedetista. “O Fruet saiu do PMDB porque não aceitou o apoio que demos do PT na disputa da prefeitura em 2004. No PSDB, ele passou a atacar o PT porque o partido fez parte do governo do PMDB no Paraná. Agora saiu do PSDB, entra no PDT e está de braços dados com o PT”, aponta o deputado federal João Arruda.

NA RAIA DE FORA O PMDB como se vê, rejeita Fruet e vai para disputa com o ex- deputado e ex-prefeito Rafael Greca. “Greca fez uma administração com a cara do PMDB, voltado às pessoas, ao social, tem experiência, trânsito por todos os segmentos e projetos que possam resgatar a identidade de Curitiba. Desde os faróis do saber de Greca, a cidade não tem uma marca. O Greca será o candidato das oposições”, adianta o deputado federal João Arruda, que é sobrinho de Requião e por isso mesmo quando fala, fala pelo principal nome do partido em Curitiba. Arruda, Requião et caterva são entusiastas da candidatura de Greca, que promete injetar boa dose de inteligência e cultura num debate ralo.

Longe das lamúrias petistas e das diferenças do PMDB com Fruet, o deputado federal Ratinho Júnior, do PSC, muito bem escudado nas pesquisas, reuniu 180 pré-candidatos a vereadores de Curitiba e mandou ver na disposição de disputar a prefeitura da capital do Paraná.

“Não tenho medo de desafios. Nós, do PSC, somos independentes. E não vou ficar de joelhos diante de partido algum. A nossa política é de construção de pontes, sem agressão e com respeito”, afirmou Ratinho Júnior, que não comenta a traição que sofreu de Osmar Dias e do PDT, que assumiram com ele o compromisso de apoio nesta eleição em troca da adesão de Ratinho à candidatura de Osmar na eleição passada.

Ratinho não reclama, mas argumenta que é da base do governo Dilma, e vê como desrespeito a escolha atropelada de Fruet. Seu pai, o comunicador Carlos Roberto Massa, mandou o seguinte recado. “O Ratinho sempre foi da base, Fruet nunca foi. Estão empatados tecnicamente. Ao escolher Fruet, o PT dá a ele uma independência para ir para o lado que quiser. Até hoje ele é da base, mas quando a base escolhe outro é sinal que a base não gosta de você. Se a base não gosta de você, por que você vai ser da base?”, questionou o Ratinho pai.

Ratinho, o filho e pré-candidato, afirma que já estão sacramentadas as alianças com o PR e o PTdoB. Além disso, encaminha um bom diálogo com o PCdoB e com o PV. Neste momento, o deputado se dedica a costurar as alianças e trabalhar as candidaturas a vereador.

TIRO CURTO O PV namorou Fruet, fez até campanha para sua filiação, mas agora ensaia candidatura própria. A presidente, deputada Rosane Ferreira, sustenta que o PV tradicionalmente tem candidatura própria para dar maior visibilidade à legenda. Na lista dos verdes, três pré-candidatos: o vereador Paulo Salamuni, o deputado estadual Roberto Acioli e a ex-deputada federal, Dra. Clair da Flora Martins.

“O PV organizará um plano de governo e existem as pré-candidaturas da Dra. Clair e do vereador Paulo Salamuni”, adianta Rosane, excluindo já a pré-candidatura de Acioli. Salamuni é amigo pessoal de Fruet e vai trabalhar por uma aliança com o PDT. Mas vai enfrentar a resistência da Dra. Clair, que sustenta que o PV não pode abrir mão de disputar a prefeitura de Curitiba.
“Queremos que o PV seja protagonista nestas eleições municipais, como o foi nos últimos pleitos majoritários à Presidência da República, ao governo e na capital do Paraná. Já, no segundo turno, a história é outra, porque o partido sempre sai fortalecido com candidatura própria”, argumenta Clair.

Outro que corre por fora é o deputado estadual Fábio Camargo, que se define como um osso duro de roer. No encontro estadual do PTB realizado em dezembro em Curitiba, Camargo reafirmou sua pretensão de disputar a prefeitura. Mesmo diante das lideranças estaduais e nacionais inclinadas a apoiar Ducci, o deputado disse que é candidato. “Não vejo força que possa tirar essa minha candidatura. Podem existir várias fatalidades, mas terão de ser fatalidades pessoais. Mas dizer que eu não vou ser candidato por causa do partido, não”.

Duas vezes vereador de Curitiba, prefeito interino em 2003 e candidato a prefeito em 2008, mandou mais um recado. “Se o partido apoiar o Ducci, eu entro com uma medida judicial e tudo será resolvido porque eu tenho a maioria do diretório. Eu sou osso duro de roer”,

NOVIÇA REBELDE Há ainda a pré-candidatura da vereadora Renata Bueno, do PPS, que se notabilizou pelas refregas com seus pares na Câmara Municipal. Renata é filha do deputado federal Rubens Bueno, do bloco de oposição no governo federal, mas que faz parte do governo tucano de Beto Richa.

Em relação ao desejo tucano – de apoio a Ducci -, Renata diz que uma coisa é participar dos governos de Richa e Ducci e outra coisa é a eleição deste ano. “A única coisa 100% definida é que teremos candidatura própria. Fizemos aliança com Beto Richa nas eleições de 2008 e estamos contribuindo com a administração municipal e temos secretários na administração Richa. Em 2012 inicia-se uma nova história que nós mesmos queremos construir”, sentencia.

Renata, também conhecida como noviça rebelde entre os luas pretas instalados no Centro Cívico, não é a única que pretende começar nova história pessoal em 2012. No PSD, o radialista Luiz Carlos Martins já adiantou que está de olho na vaga da legenda para disputar a prefeitura de Curitiba. Além de Martins, o deputado estadual Ney Leprevost também quer disputar a prefeitura pelo novo partido.

O PPL, Partido da Pátria Livre, ex-MR8, vai lançar a professora Alzimara Bacelar com a chapa completa de vereadores. O mesmo deve fazer o PSol, com Bruno Meirinho e o PSTU, com Diego de Sturdze.

É TEMPO DE TV Mas nem tudo se resume a nomes, candidatos e pretensões pessoais neste vale da politicalha nativa. Todas as movimentações daqui até junho vão mostrar o interesse das candidaturas nos preciosos minutos de cada partido no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão. A propaganda começa no dia 21 de agosto. A divisão do tempo é feita com base na representação dos partidos no Congresso Nacional. Ou seja, as maiores bancadas eleitas em 2010 na Câmara dos Deputados têm mais tempo de rádio e TV.

Nas eleições municipais deste ano nas segundas, terças e sextas-feiras o horário eleitoral será destinado aos candidatos a prefeito das cidades, com duração de 30 minutos. Desse total, 20 minutos são divididos com base nas bancadas dos partidos na Câmara Federal. Os outros 10 minutos são divididos igualmente entre os candidatos e partidos.

Além do PSB, Ducci deve ter apoio de pelo menos outros cinco partidos: PSDB, DEM, PP, PSDC e PRB. Isso dá 13 minutos e 33 segundos, ou quase metade do tempo disponível nos blocos da propaganda de rádio e TV. Já Fruet tem o tempo do PDT, 1minuto e 51 segundos, e pode ter apoio do PT, mais 4 minutos e 16 segundos, o que lhe dá 6 minutos e 7 segundos. Ratinho Júnior com o PR, PTdoB, PHS e PCdoB, teria pouco mais de 7 minutos e 20 segundos. O PMDB, em candidatura solo, tem 3 minutos e 52 segundos. O PPS, de Renata Bueno, tem 1 minuto e 18 segundos. E o PV pouco mais de 1 minuto e 23 segundos.

Até lá, prepare-se. É muito provável que depois deste verão você passe a trombar com candidatos em todas as esquinas, em todas as festas, formaturas, quermesses. E quando chegar em casa, à noite, cansado de tudo isso, ligará a televisão e lá estarão eles, insistentes, a pedir o seu voto e a jurar que são os únicos honestos na face da terra. Feliz 2012.