O Hospital da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG), por meio do seu diretor técnico Ricardo Zanetti, propõe a adoção do “Protocolo de alocação de recursos”, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira. A instituição foi a primeira do Paraná a propor a medida, que tira das mãos do profissional de saúde a escolha de pacientes e a coloca sob regras preconizadas internacionalmente.
Devido ao esgotamento de leitos de UTI Covid e Geral no HU e o aumento no número de casos, o protocolo estabelece critérios de escolha de pacientes que aguardam leitos de Covid-19. A medida deve amparar os profissionais da saúde, que não precisarão usar critérios subjetivos na decisão de atendimento de pacientes. Dessa forma, os atendimentos podem ser conduzidos de maneira ética, eximindo decisões emocionalmente exaustivas, de profissionais que já estão esgotados. O protocolo é baseado nas orientações da Organização Mundial da Saúde, que definiu normas de atendimento em contextos de catástrofe.
A proposta foi apresentada à Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) e também à 3ª Regional de Saúde. Para que seja implementado, o protocolo precisa ser de conhecimento público e passar pela aprovação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O pronunciamento realizado na manhã de hoje (11), com a Prefeita de Ponta Grossa, Elizabeth Schmidt, autoridades da saúde e demais diretores de hospitais privados, também serviu para que os pontos do protocolo sejam amplamente divulgados e implantados com mais rapidez pelo poder público.
De acordo com Ricardo Zanetti, a proposta do protocolo é dura, mas é a correta para se adotar neste momento. “É necessário aplicar um protocolo de aplicação de recursos, para que os princípios éticos e legais sejam cumpridos e para auxiliar a comunidade médica na tomada de decisão e assim salvar o maior número de vidas”. Zanetti enfatiza que a adoção do protocolo cabe não somente aos profissionais da saúde, mas também a todos os poderes do Estado, “a fim de que se aloquem corretamente os recursos nesse momento, os quais são escassos”.
Com objetivo de manter a política de transparência do HU-UEPG, Zanetti apresentou os dados da pandemia no Hospital. De março de 2020 a fevereiro deste ano, foram 2321 pacientes atendidos na ala Covid, com 1848 recuperados. “Nosso objetivo é salvar o maior número de vidas possível”, ressalta. Para demonstrar o esforço dos profissionais para cumprir esse objetivo, o diretor mostra o número de pacientes críticos em internamento. São 39 pessoas internadas na UTI Covid, sendo 38 pessoas intubadas. Na UTI Geral, são 10 pacientes internados, sendo 08 em intubação. Já nos leitos de Pronto Atendimento, são 25 pessoas internadas, com 18 pessoas intubadas.
A prefeita Elizabeth Schmidt abriu a coletiva realizada hoje (11) informando que a “situação atual é comparável a uma guerra”, devido à previsão de “aumento significativo de óbitos em nossa cidade e região”. Ela enfatizou que a Região dos Campos Gerais envolve mais de 600 mil pessoas e alertou que “não há negócio que pague uma vida”. “Ainda não é hora de voltarmos à normalidade”, enfatizou. “Soluções como abrir novos hospitais de campanha são inviáveis, principalmente agora que não há equipes de profissionais da saúde, equipamentos ou insumos”, disse. A prefeita asseverou que “estamos todos em risco, o uso intensivo dos recursos hospitalares deixou outras áreas descobertas, esse é um momento excepcional que exige medidas excepcionais”.
O Secretário Municipal de Saúde, Rodrigo Manjabosco, apresentou dados sobre a ocupação hospitalar, avanço de infecções pela variante brasileira e taxa de letalidade do vírus. “A cepa é extremamente agressiva, o que traz um período de internamento muito maior do que a cepa normal. Estamos trabalhando com internamento estendido de 14 a 15 dias, temos inclusive pacientes que entraram há 30 dias”. Nesse sentido, o Secretário complementou que “isso traz complicador de insumos e equipe, fazendo com que a capacidade dos hospitais esteja comprometida. Ou seja, não conseguimos ingressar novos pacientes porque os hospitais já estão lotados”.
Manjabosco aproveitou para alertar que a população jovem também está sendo afetada. “Estamos internando uma população jovem e saudável, que muitas vezes vêm a óbito em decorrência do vírus. Muitos desses pacientes vêm já em estado grave, o que acarreta apenas medidas de tratamento paliativo”.
Em dois meses, o sistema hospitalar de Ponta Grossa já internou mais pacientes em comparação a 2020, o que demonstra a velocidade do vírus. De acordo com dados repassados pelo secretário, Ponta Grossa registrou 92 óbitos pela Covid-19 somente em fevereiro. O mês de março já chegou a 42 óbitos. “Com certeza passaremos da casa dos 92 óbitos, número que nos preocupa, porque os hospitais estão sentindo a pressão dessas mortes”.
Robson Xavier, diretor da 3ª Regional de Saúde, iniciou sua fala contextualizando que esta não é somente uma realidade de Ponta Grossa, mas que também se extrapola pro estado. “Nós temos clareza que os níveis de contágio são resultado do comportamento social de cada um de nós. Se chegamos a esse estágio, temos a responsabilidade de diminuir a circulação de pessoas”. O diretor lembra que os hospitais não atendem somente pacientes que residem em na cidade, mas também precisam estar disponíveis para atender pessoas da macrorregião.
O diretor observou que, ontem (10), na iminência de completar um ano da pandemia, o Brasil chegou a 2400 óbitos. Diante disso, Robson afirmou que duas medidas precisam ser tomadas: “ou vacinamos de forma emergencial ou realizamos um verdadeiro isolamento, conforme tem que ser realizado, não vamos vencer esta batalha. Os recursos são finitos”, disse.
Se não houver vacinação em massa, não há entidade de saúde que consiga atender às demandas da população, segundo Xavier. “Não temos condições de vencer essa batalha sozinhos. Precisamos de toda a sociedade compreendendo a complexidade do momento e seguindo as medidas de contenção do coronavírus”.
Assessoria
Foto: Divulgação
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