Fernando Rodrigues, na Folha de S. Paulo
Ouvi uma frase sobre a corrida presidencial que me pareceu perfeita: “Em 2002, achei que o PT estava despreparado para assumir o governo. Mas eu não sabia que o PT estaria agora tão despreparado para deixar o governo”.
É uma avaliação tão cruel quanto verdadeira. Revela também o grau de subdesenvolvimento institucional do país. É claro que não há risco de disrupção, mas parece um pouco incompatível com a regra democrática que um partido entre em desespero frenético apenas porque existe a possibilidade de sair do poder a partir de 1º de janeiro de 2015.
A aparição do ex-presidente Lula, suado e descabelado, fazendo uma manifestação em frente à Petrobras é a síntese do clima atual no PT. E nem está claro que Dilma Rousseff perderá a disputa contra Marina Silva (aliás, a presidente está à frente nas pesquisas). Mas em Brasília é possível respirar um certo pânico no ar.
Só na capital da República há mais de 20 mil cargos de confiança, todos ocupados pelo petismo e adjacências. Uma derrota de Dilma Rousseff obrigará essas pessoas e suas famílias a deixarem a cidade. Por baixo, serão de 40 a 50 mil desamparados. Voltarão a seus Estados para pedir trabalho na iniciativa privada ou em algum governo, prefeitura ou sindicato sob o comando do PT.
Serão milhares de dramas pessoais. Em Harvard, nos EUA, a universidade oferece um serviço gratuito de atendimento psicológico a estudantes estrangeiros que passam um tempo por lá e depois têm de retornar para seus países. Dilma poderia pensar no assunto. Uma “bolsa psicólogo” ajudaria a manter mais calmas as pessoas ao seu lado.
Como o problema é estrutural, uma vitória dilmista só atrasará a crise existencial dos petistas. Até porque, em 2018, 2022 ou em outro momento, o partido sairá do poder. Quando esse dia chegar, as farmácias de Brasília terão de reforçar os estoques de Prozac em suas prateleiras.
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