Por Josias de Souza, na Folha Online:
A 48 horas da convenção que elegerá no final de semana sua direção, o PSDB tornou-se um ninho em chamas.
Escanteados da Executiva nacional, integrantes do grupo de José Serra já ameaçam até deixar a legenda.
Um deputado ligado a Serra disse ao repórter que, sem acordo, pode se repetir em âmbito federal algo que ocorreu em São Paulo.
Referia-se à desfiliação de seis vereadores tucanos, ocorrida em abril, nas pegadas da troca de comando do PSDB paulistano.
Os vereadores bateram em retirada depois que Geraldo Alckmin acomodou no comando do PSDB municipal um de seus secretários, Julio Semeghini.
A maioria dos vereadores insurretos flerta agora com o PSD do prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM), em fase de estruturação.
Na seara nacional, consolidou-se uma maioria favorável à reeleição do deputado Sérgio Guerra (PE) à presidência do PSDB.
Ex-coordenador da malograda campanha presidencial tucana, Guerra é hoje um desafeto de Serra. Joga o jogo do senador Aécio Neves (MG).
Em dobradinha com Aécio, Guerra age para alijar Serra e o grupo dele dos postos de comando da legenda. Daí a ameaça de nova revoada.
No ano passado, depois de derrotado por Dilma Rousseff, Serra insinuou interesse pela cadeira de presidente do partido.
Foi abalroado por um abaixo-assinado de 54 deputados tucanos favoráveis à recondução de Guerra. Coisa urdida com o apoio de Aécio.
Nessa época, ofereceu-se a Serra a presidência do Instituto Teotônio Vilela, uma fundação que formula as políticas do tucanato.
Serra desdenhou o posto. Guerra e Aécio empinaram, então, a candidatura do ex-senador Tasso Jereissati ao comando do instituto.
Tasso, que também não se bica com Serra, é ardoroso defensor do projeto Aécio-2014. Conta com o apoio do grosso da bancada de senadores do PSDB.
Ao sentir o cheiro de queimado, Serra passou a reivindicar o posto que refugara. O diabo é que, agora, Guerra e Aécio insistem no nome de Tasso.
Além da presidência do Instituto Teotônio Vilela, Serra levou à mesa uma segunda “exigência”.
Pleiteia a entrega da secretaria-geral do PSDB a um integrante do seu grupo, o tucano paulista Alberto Goldman.
De novo, Guerra e Aécio levaram o pé à porta. A dupla deseja manter na poltrona de secretário-geral, espécie de gerente da legenda, o deputado Rodrigo de Castro.
Filiado ao PSDB de Minas Gerais, Rodrigo mantém com Aécio uma relação do tipo unha e cutícula.
Para desassossego de Serra, Rodrigo dispõe de votos para prevalecer numa eventual disputa contra Goldman.
De resto, Goldman foi à mesa de cirurgia. Recebeu duas pontes de safena. Em fase de convalescência, não deve dar as caras na convenção.
A turma de Serra esgrime o argumento de que Aécio atira conta o próprio pé ao excluir São Paulo da direção nacional do partido. Meia verdade.
Na última segunda-feira (23), Guerra reuniu-se com Geraldo Alckmin. Tricotou com o governador a entrega da vice-presidência da legenda a um paulista.
Confirmando-se as pretensões de Guerra e Aécio, restaria a Serra contentar-se com um assento num conselho de “notáveis” tucanos.
O órgão, hoje inexistente, seria criado como um apêndice da direção nacional. Reuniria FHC, governadores, Tasso e o próprio Aécio.
Nesse esboço, a voz de Serra seria diluída numa instância sem atribuições executivas. Algo que o ex-presidenciável e seu grupo consideram inaceitável.
O PSDB sempre foi uma agremiação de amigos 100% constituída de inimigos. Havia, porém, um esforço pelo estreitamento de inimizades.
Dá-se agora um movimento diverso. Nacos expressivos da legenda pendem para o apoio às pretensões presidenciais de Aécio.
Passou-se a considerar que a cessão de espaços a Serra, também presidenciável, eternizaria uma dicotomia que já produziu três derrotas presidenciais.
Assim, associado a Guerra, Aécio prefere explicitar as diferenças a manter a falsa unidade. Serra dispõe de dois dias para provar-se capaz de reagir.
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