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Guerra de trincheiras

Guerra de trincheiras

Tempos atrás, a eleição do líder peemedebista na Câmara dos Deputados passaria despercebida em meio a outros tantos rituais que ocupam as profundezas do cotidiano parlamentar.

Cercou-se de tambores e clarins, todavia, a recondução do deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), em apertada vitória sobre seu rival, Hugo Motta, da Paraíba –evento que representou derrota indisfarçável para o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Mais próximo ao Palácio do Planalto desde os entendimentos para a reforma ministerial de outubro, Picciani pôs seu posto em risco quando indicou, em dezembro, apenas nomes favoráveis ao governo para compor a fatia peemedebista da comissão encarregada de examinar o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT).

Contestada por Eduardo Cunha, principal personagem nas articulações pelo impeachment, aquela decisão foi revertida com a eleição secreta de outros peemedebistas para esses cargos –manobra posteriormente anulada, entretanto, por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Volta agora à pauta a questão de como preencher os cargos do PMDB nesse colegiado crucial e inflamável, enquanto também no plenário da Câmara a liderança do partido ganha papel decisivo para a aprovação dos indigestos ajustes orçamentários pretendidos pelo governo.

O magro triunfo por 37 votos a 30, revelador da divisão peemedebista, é o que o governo Dilma colhe de um embate em que se empenhou a fundo, chegando ao recurso vexatório de devolver seu próprio ministro da Saúde, Marcelo Castro, à infantaria da bancada, de modo a garantir mais um voto durante a temporada de arboviroses.

A guerra do impeachment, de trincheiras dia a dia desfeitas e reconstruídas, anota assim um recuo relativo dos que se opõem à presidente. As atenções desse campo encontram novo atrativo nas suspeitas em torno do ex-presidente Lula, o que paradoxalmente traz alívio nas pressões diretamente dirigidas contra o Planalto.

De Pasadena a Atibaia, de Brasília a Curitiba, a crise brasileira prossegue com baixas para todos os lados, entre os quais o de Eduardo Cunha e suas chicanas contra o processo de cassação posto em marcha pela descoberta de suas contas bancárias na Suíça.

Demonstra-se, ao menos, que resta ao governo um mínimo poder de articulação, emanado da caneta presidencial que rubrica cargos e verbas. Muito ainda será preciso, porém, para o avanço da agenda econômica da qual, mais do que dos votos em uma comissão, depende seu futuro político.