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GUATÁ, CINCO ANOS CAMINHEIROS

No início do caminho havia uma praça. Naquela praça, revitalizada fisicamente, só espaço sem gente. Em pleno centro da cidade, aos domingos, uma praça sem o seu principal componente, as pessoas. Então, naquele espaço público, democrático e plural, artistas, produtores, ativistas, apreciadores e entusiastas da arte local começaram a se reunir para expressar e vivenciar a plena cidadania.

Diferentes na forma – e, muitas vezes, também no conteúdo –, estas pessoas tinham em comum a necessidade de externar um posicionamento e uma atitude política perante o mundo. Para isso, os instrumentos escolhidos foram a cultura, a comunicação e o fazer artístico, reunidos em torno de um grupo de ação e de mobilização cultural denominado “Movimento Cuca Legal”, que surgiu em Foz do Iguaçu, no início do ano 2000. Neste movimento também se abrigavam os artistas e produtores culturais que estavam organizando a criação da Casa do Teatro, entidade cultural, igualmente iguaçuense.

Trecho do editorial que marca os cinco anos da Guatá em defesa da arte e da cultura. Leia a íntegra aqui ou na www.guata.com.br.

Guatá, cinco anos caminheiros

Guatá, cinco anos caminheiros

Associação iguaçuense completa cinco anos em defesa da arte e da cultura.

No início do caminho havia uma praça. Naquela praça, revitalizada fisicamente, só espaço sem gente. Em pleno centro da cidade, aos domingos, uma praça sem o seu principal componente, as pessoas. Então, naquele espaço público, democrático e plural, artistas, produtores, ativistas, apreciadores e entusiastas da arte local começaram a se reunir para expressar e vivenciar a plena cidadania.

Diferentes na forma – e, muitas vezes, também no conteúdo –, estas pessoas tinham em comum a necessidade de externar um posicionamento e uma atitude política perante o mundo. Para isso, os instrumentos escolhidos foram a cultura, a comunicação e o fazer artístico, reunidos em torno de um grupo de ação e de mobilização cultural denominado “Movimento Cuca Legal”, que surgiu em Foz do Iguaçu, no início do ano 2000. Neste movimento também se abrigavam os artistas e produtores culturais que estavam organizando a criação da Casa do Teatro, entidade cultural, igualmente iguaçuense.

O “Cuca Legal” teve como principal atividade a realização do encontro “A Praça em Movimento”, que consistia em ocupar as praças públicas do município com uma programação cultural e artística. Além disso, o grupo promovia a reflexão e o debate sobre arte, linguagem, estética, políticas culturais, entre outros temas afins.

Estes foram os primeiros passos da Associação Guatá – Cultura em Movimento, entidade artística e cultural iguaçuense que completa cinco anos de atuação. O registro de nascimento indica o dia 28 de setembro de 2004, data em que a associação foi formalizada, do ponto de vista da constituição legal. Na prática, há quase uma década, o núcleo de pessoas que se agrega em torno da Guatá vem realizando intervenções e propondo outros rumos para a produção cultural da cidade.

Entre as atividades realizadas, a associação mantém um portal na internet para a veiculação de literatura, artes e opiniões, além de publicar uma revista mensal, a Revista Escrita, produto que integra o programa “Tirando de Letra”, de responsabilidade da instituição. A Escrita, canal para as múltiplas formas possíveis de enxergar e retratar o mundo, em dez edições, incluindo a experiência “número zero”, contabiliza mais de 300 colaboradores que já emprestaram o seu talento, impressos por meio de crônicas, poemas, fotografias, desenhos, imagens e opiniões, que chegam das mais distantes localidades.

A associação também desenvolve um circuito de exposições que passeiam por diversos locais e espaços. “Terra”, por exemplo, do renomado fotógrafo Sebastião Salgado é uma coleção de pôsteres adquiridos pela Guatá, ainda no início de suas atividades. A exposição percorreu até aqui dezenas de escolas e universidades, promovendo o diálogo entre arte e problemas sociais. Retratando a formação multifacetada da fronteira, a coleção “Todas as cores do mundo”, de autoria da fotojornalista Áurea Cunha, já foi vista por algumas dezenas de milhares de pessoas. Trata-se de um conjunto de retratos de mulheres, nascidas em outros países ou de etnias indígenas da região que tem como traço comum, viverem em Foz do Iguaçu. Esta exposição, que espelha a diversidade étinco-cultural da cidade, já viajou por diversas cidades paranaenses, como Curitiba, Ponta Grossa e Cascavel, além de ter sido instalada duas vezes em Porto Alegre, RS. Uma, durante o Fórum Social Mundial e, outra, exclusiva, na Casa de Cultura Mário Quintana.

EXPRESSÃO LOCAL – “Outros Olhares”, é mais um acervo caminhante, que reúne fotos produzidas por cegos, durante curso de fotografia oferecido pela Guatá, visando à interação entre videntes e não videntes, despertando para o direito das pessoas à acessibilidade, inclusive, quantos aos mecanismos de expressão, consumo e artística. Poesia, história, identidade étnica, entre outros temas, também estão inseridos no acervo, disponíveis para o trabalho periódico da entidade pelas escolas iguaçuenses.

Guatá é uma palavra da língua guarani, que significa caminhar. De forma intencional, buscou-se nesta ação da palavra a representação do esforço coletivo em favor da expressão humana, em todas as suas dimensões e linguagens. Por isso, desde o seu surgimento, a Guatá defende a democratização ao acesso à arte e à cultura, como possibilidade de retirar da “invisibilidade” social, parcela da população que vive às margens da produção e do consumo dos bens, produtos e manifestações culturais, atividades que constroem sentido para a vida em sociedade.

Desta forma, explica Silvio Campana, integrante e fundador da associação, busca-se afirmar um condicionamento e um entendimento sobre cultura que se diferencia de muitas experiências e práticas existentes na cidade. “Defendemos a concepção de cultura como sendo o processo de produção e circulação de bens simbólicos na sociedade. Tudo que possa significar humanidade tem de ser tratado dentro dessa abordagem mais integral do processo cultural. Nisto, é claro, estão inseridas as expressões artísticas e a memória coletiva”, resume Campana, apontando para o objetivo político fundante da Associação Guatá.

CONSCIÊNCIA E CONSISTÊNCIA – Entre as principais iniciativas da associação, ao longo dos anos, contam-se “Cultura em Movimento”, de 2001, “A Praça em Movimento”, de 2002, “Memórias de Foz do Iguaçu”, de 2004, e, o carro-chefe da instituição, o “Tirando de Letra”, implantado no ano de 2003 e ainda sendo desenvolvido. Todos eles têm em comum, a necessidade de se vencer as barreiras criadas pela falta de espaços, tanto físicos como de manifestação e incentivo, para a plena realização de atividades artísticas, a preservação e o resgate da memória e a reflexão.

Este esforço pela cultura tem sido notado pela população. O artista plástico iguaçuesne, Rogério Silva, empolga-se ao reconhecer o trabalho desenvolvido pela entidade. “Eu vejo a Guatá, indiscutivelmente, como um importante, e porque não dizer o melhor, canalizador da produção cultural – independente ou não – de nossa região. Simplesmente uma grande idéia que devemos apoiar para a difusão da produção artística de nosso tempo", defende o artista.

Em alguns casos, a leitura do portal ou da revista editados pela associação, são verdadeiros elos de ligação entre as pessoas que nasceram ou passaram em algum momento pela cidade, mas que não vivem mais aqui. É o caso de Sergio Fracarolli, gerente da empresa Cargill Agropecuária, que vive no Paraguai. Diz ele: “da Guatá, tudo me chama a atenção, está muito interessante tudo”, mencionando uma das crônicas escrita pelo professor José Afonso de Oliveira, de quem Fracarolli lembra ter sido aluno.

Nesta construção coletiva, a Associação Guatá conta com diversas parcerias que apostam neste processo de democratização e de empoderamento por parte das pessoas, dos mecanismos e ferramentas necessárias para expressão criativa e cidadão. Entre os principais parceiros, destacam-se a Itaipu Binacional, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, a Casa do Teatro e o Portal Megafone, além de empresas de diversos ramos da economia.