Ronaldo Caiado
A esquerda sempre postulou o monopólio político da virtude, sustentando deter a fórmula mágica da redenção social.
No entanto, após quatro mandatos sucessivos na Presidência da República, entregou o país em condições bem piores (para dizer o mínimo) que aquelas em que o recebeu, com índices econômicos e sociais degradados, ambiente político marcado pela violência, corrupção e divisão da sociedade brasileira. Nunca antes.
A tarefa que cabe hoje aos governantes, nas três esferas federativas –e no âmbito dos Três Poderes–, é a de reconstruir o país. O que está posto é de tal magnitude que não pode ser cobrado apenas do governo federal ou mesmo do Congresso Nacional. É tarefa de todos construir um novo pacto.
A reforma da Previdência e o ajuste fiscal, portanto, se impõem como emergências e para além das divergências, sejam quais forem. Nesse sentido, não existem governadores ou prefeitos de oposição; todos estão na situação, todos são governo, sócios da mesma crise, não importa a orientação ideológica ou o partido.
Por isso mesmo, em que pese caber ao Congresso a palavra final em relação a essas questões, a responsabilidade extrapola de seu âmbito, envolve governos estaduais e prefeituras, que já se encontram em condições de ingovernabilidade.
Excluí-los do contexto da reforma, como se cogitou nos últimos dias, no âmbito da Comissão de Constituição e Justiça, não é a melhor forma de conciliar divergências. Antes de saída simples, sugere forma simplória de fragmentar esforços e enfraquecer a unidade contra a crise.
É certo que o Congresso tem seu ritmo e que a complexidade dos temas exige ampla discussão. Mas não parece razoável que estados e municípios fiquem de fora da discussão da reforma. Se assim entenderem que facilita, que se emende a proposta para que tenham liberdade de começarem suas próprias reformas, sem terem que esperar pela que tramita hoje na esfera federal.
O governo Jair Bolsonaro (PSL) iniciou seu mandato cuidando dos dois flancos mais vulneráveis da vida brasileira presente: segurança pública e economia. Na sequência imediata da posse do novo Congresso, os ministros Sergio Moro (Justiça), e Paulo Guedes (Economia), encaminharam, respectivamente, os projetos anticrime e de reforma da Previdência. E os detalharam com clareza.
Nós, governadores, recebemos o cargo em condições fiscais aterradoras: salários atrasados, infraestrutura em pedaços, dívidas colossais de curto prazo, cofres vazios e uma cultura disseminada de usar cargo público para enriquecer e permanecer no poder.
O Congresso, por óbvio, é o âmbito dessa discussão, mas nós, que temos responsabilidade governativa, não podemos ter postura passiva diante desse debate. Precisamos encaminhar aos nossos representantes a realidade que temos de gerir, mostrar o quadro aflitivo em que se encontram nossos cidadãos-contribuintes, até porque seremos os primeiros a declarar moratória.
Todos têm sob o seu comando milhões de brasileiros, que, além de sustentarem, com seus impostos, a estrutura da máquina administrativa, padecem na carne e na alma as intempéries decorrentes da crise que há anos –décadas mesmo– assola o país.
As palavras mágicas “ajuste fiscal”, repetidas como mantra, significam acertar as contas. É preciso um padrão mínimo de normalidade econômica até para que o debate ideológico flua. Não é possível fazê-lo sobre escombros. Antes, é preciso pôr ordem na casa; do contrário, continuaremos a enxugar gelo.
Os números não são de direita ou de esquerda; dois e dois serão sempre quatro, não importa quem ou que doutrina política esteja no governo. E é responsabilidade de todos ajustá-los.
Um governador do PT não está em melhor ou diferente situação que a minha, que sou do DEM. As demandas e urgências são as mesmas. Como tal, temos de compartilhar soluções, encontrar caminhos comuns, em sintonia com o governo federal.
O momento reclama grandeza. E lucidez.
Ronaldo Caiado
Governador de Goiás pelo DEM, ex-senador (2015-18) e ex-deputado federal (1991-94 e 1999-2014)
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