O então chefe de gabinete do ex-presidente Lula, Gilberto Carvalho, afirmou em depoimento à Polícia Federal que intermediou “reuniões” do petista com o lobista Mauro Marcondes, preso na Operação Zelotes sob suspeita de corrupção e que contratou uma empresa do filho do ex-presidente Lula. As informações são da Folha de S. Paulo.
Carvalho foi citado em mensagens interceptadas do lobista e de pessoas próximas. A PF encontrou, por exemplo, um e-mail de Marcondes ao chefe de gabinete de Lula em 2007 afirmando estar “recorrendo mais uma vez ao amigo”.
A PF apura ainda se Marcondes pagou propina a integrantes do governo para obter a prorrogação de uma MP (medida provisória) favorável ao setor automotivo, que representava.
Marcondes fez pagamentos de cerca de R$ 2,4 milhões à LFT Marketing Esportivo, empresa de Luís Cláudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente, e afirma que foram para desenvolvimento de um projeto na área de esportes. A PF investiga se há relação dos pagamentos com a tentativa de lobby para prorrogação da MP.
A Folha teve acesso ao depoimento do ex-chefe de gabinete de Lula. “Nunca realizou negócios ou intermediou negócios com Mauro Marcondes, mas apenas intermediava, na função que exercia, reuniões dele com o presidente Lula e todas constantes de relatórios armazenados no gabinete da Presidência da República, já que ninguém entrava no gabinete sem tal registro”, disse Carvalho no depoimento no dia 26 de outubro.
Em entrevista à Folha, ele já havia reconhecido que intermediou um encontro de Lula com Marcondes, mas não citou que foram várias reuniões.
Os investigadores não perguntaram, no depoimento, quantas foram ou detalhes sobre as reuniões entre Lula e o lobista.
Gilberto Carvalho disse que já conhecia Marcondes porque, quando Lula era sindicalista, o lobista era representante de alguma montadora e por isso se conheciam das negociações salariais.
De acordo com a PF, a medida provisória de interesse dos lobistas, de número 471, do ano de 2009, é datada de apenas quatro dias depois de um evento que teria ocorrido no dia 16 de novembro de 2009 com a inscrição “Café: Gilberto Carvalho”, encontrada em papel apreendido na casa de outro lobista, Alexandre Paes dos Santos, preso nesta segunda-feira.
Gilberto Carvalho também confirmou que, quando era ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, recebeu Marcondes, quando o lobista defendeu a prorrogação da MP do setor automotivo.
“Como não era função do declarante, apenas disse a Mauro que levaria a preocupação ao ministro da Fazenda, mas acabou não fazendo por não entender adequado”, disse o ex-ministro à PF.
Um dos documentos apreendidos pela PF fazia referência a dar presentes às filhas de Gilberto Carvalho. Questionado sobre o assunto, ele afirmou que “em 2009 adotou duas meninas e várias pessoas lhe enviaram presentes, recordando-se de ter recebido duas bonecas de Mauro Marcondes”.
O ex-homem forte do governo Lula também afirmou que não cabia a ele tratar da prorrogação de medidas provisórias. Disse que esses assuntos cabem aos ministérios de cada área.
No seu depoimento à PF, Marcondes afirmou que não tinha relação próxima com Lula nem com Carvalho. Disse que se reuniu com Gilberto Carvalho duas vezes, para entregar levantamentos do setor automotivo.
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