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Geração de analfabetos digitais

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Rogerio Galindo
Gazeta do Povo

Um aluno que tenha entrado na primeira série em 2005 pode ter passado os últimos oito anos esperando o computador que lhe foi prometido por Lula naquele ano. Durante uma visita do professor Nicholas Negroponte, que divulgava a ideia das máquinas de 100 dólares, Lula fez uma bravata. Não concedeu um mês que sua equipe pedia para estudar o caso. Queria tudo resolvido em 29 dias.

Não deu certo. O UCA (sigla do programa “Um computador por aluno”) naufragou sem nunca ter chegado a ser grande coisa. O pré-piloto começou com cinco anos de atraso, em 2010. Na fase de piloto, cinco cidades receberam computadores para todos os alunos. Em Curitiba, só uma escola teve os laptops. As máquinas não eram consertadas e os professores, quando entrevistados, diziam que nem sabiam como ligar o bicho. Em 2011, o repórter Anderson Gonçalves relatou que em Santa Cecília do Pavão, única cidade com 100% de alcance no Paraná, esperava pelo conserto de 70 computadores.

A última notícia do site do programa (www.uca.gov.br) é de 2010. Claro que o governo não admitiu a incompetência. Em vez de dizer que o projeto não existe mais, tucanou a desgraça: disse que repassou as compras e o programa aos municípios e estados que o quiserem. E lá se foram oito anos jogados fora.

Agora, o ministro Mercadante jura que a coisa vai. No início do ano passado, prometeu 600 mil tablets para o ensino médio, que seriam entregues ainda em 2012. Aquele mesmo aluno deve ter ficado empolgado. Mas teria motivos para manter um pé atrás: até agora, o ministro entregou apenas algumas centenas de peças para professores. Para alunos, absolutamente nada.

A licitação foi feita: são R$ 117 milhões para a aquisição de 382 mil. Mercadante jura ainda que dessa vez os professores terão treinamento para saber como usar o equipamento. Mas não veio a público ainda um único documento que mostre como se pretende que os tablets sejam usados. A única notícia é de que o governo estaria fechando com a Khan Academy para ter direito a usar os vídeos da instituição.

Quando contestado sobre a compra, Mercadante se saiu com a velha discussão sobre ideologia, dizendo que havia um pensamento conservador que seria contra o uso da tecnologia na sala de aula. “Qual é a profissão hoje importante que não usa tecnologia da informação?”, perguntou o ministro.

Lógico que não se trata disso. Ninguém é contra a inclusão digital. Pelo contrário. O que se cobra é que o governo tenha um plano consistente e que saia do papel. Se houver o benefício, arca-se com o custo. Mas por enquanto o aluno que está esperando desde 2005 não tem motivos para se empolgar com o discurso de Mercadante. O governo, no fundo, incentivou toda uma geração de brasileiros a permanecer no analfabetismo digital. Pela conta do próprio Mercadante, que chance terão no mundo atual?

PS: Os 513 deputados federais que voltam do merecido descanso em breve, para eleger Henrique Eduardo Alves, encontrarão sobre suas bancadas laptops novos. Esses sim foram comprados e entregues no tempo.