Há dois temas em que os estudantes em escolas ocupadas estão certos. O primeiro é que o ensino médio está ruim e precisa melhorar. O segundo é que o governo federal quer fazer a maior reforma da educação básica de forma atabalhoada e sem recursos, ao invés de criar projetos-piloto, discutir o que deu certo e errado e replicar com calma as experiências bem-sucedidas. Mas, saindo disso, há muita confusão de ideias nos corredores desses colégios. A Gazeta do Povo fez entrevistas com mais de dez alunos dessas ocupações, que não quiseram dar seus nomes, e listou seis ideias equivocadas que os movem a participar da mobilização.
1. Eles acham que os alunos que trabalham não vão poder mais estudar porque em curto prazo as escolas serão de tempo integral.
“Com o ensino médio integral, só vai estudar quem é rico e quem é pobre vai ter de sair da escola para trabalhar”, comentou um aluno da ocupação, depois de perguntado por que ele era contra a reforma do ensino médio. O fato é que por mais que a MP realmente preveja a elevação da carga horária anual no ensino médio, dificilmente a maior parte das escolas do Brasil será de tempo integral, simplesmente porque o governo não tem recursos para isso – e nem interesse imediato. Das 400 escolas do Paraná, por exemplo, hoje três são de tempo integral e apenas 30 poderão participar do edital do governo para tentar conseguir verba para transformar a carga horária de quatro horas para sete horas diárias. Como o governo disse que vai disponibilizar só R$ 1,5 bilhão em 2017 para ser dividido entre todas as escolas do Brasil, claramente não haverá dinheiro para todos.
2. Alguns acreditam que o Enem vai acabar.
Ao percorrer o interior de uma das escolas ocupadas de São José dos Pinhais, alguns garantiram à reportagem que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que facilita a entrada dos estudantes em algumas universidades, vai terminar. “Vai ser mais difícil entrar na faculdade”, garantiram. Na realidade, essa questão não está nem em discussão.
3. Eles acham que a medida provisória da reforma do ensino médio (MP 746) já começou a ser adotada nos colégios.
Ao perguntar aos alunos por que eles decidiram ocupar a escola, a primeira resposta é algo do estilo “para acabar com a reforma do ensino médio aqui no meu colégio”. O que eles não entendem é que, apesar de uma medida provisória em teoria produzir efeitos imediatos, no caso da MP 746 nada do que ela prevê pode ser colocado em prática agora. Ela depende, principalmente, da aprovação do currículo comum das escolas (a Base Nacional Curricular Comum), em discussão há mais de um ano, e da capacidade dos estados de fazer tudo o que a MP prevê. Além disso, se o Congresso Nacional não votar o tema em 120 dias – e o assunto nem passou ainda pela comissão destinada para avaliá-lo – ou não aprovar o texto, a MP nem entrará em vigência.
4. Alguns estudantes disseram que estavam ocupando a escola porque queriam escolher as matérias que vão estudar.
“O que você quer que mude no ensino médio?”, perguntou um repórter a um aluno. “Queremos escolher o que estudar, eu quero ser professor de História, porque estudo Química e Física?”, respondeu, repassando a pergunta. “Mas não é isso o que diz a MP?”, retrucou o repórter, sem receber resposta. O que o estudante não sabe é que é exatamente isso que a MP prevê, ou seja, que os alunos possam, a partir do segundo semestre do segundo ano do ensino médio, dedicar-se a matérias afins ao seu futuro profissional.
5. Alguns alunos acreditam que as escolas técnicas serão privatizadas.
“Vão privatizar todas as escolas técnicas, as empresas vão se aproveitar das escolas públicas”, disse um aluno de ocupação. A MP não fala de “privatização”, mas de parcerias para a experiência prática em cursos técnicos, como ocorre hoje nesse tipo de ensino, por exemplo, nos institutos técnicos federais.
6. Eles acham que a ideia da reforma é do governo recém-formado por Michel Temer.
“Como o governo Temer pensa em uma mudança dessa do dia para noite?”, perguntou uma menina na ocupação de uma escola de ensino médio, com a concordância dos colegas. O que ela não sabe é que existe uma preocupação por mudar o ensino médio há mais de 10 anos, manifestada de forma concreta em 2013, por meio do projeto de lei 6.840. Com medo de que a educação continuasse a não se prioridade no Brasil, a equipe de Dilma Rousseff, já na época do ex-ministro Renato Janine, tinha formulado esse projeto, que estava à espera de um bom momento para ser apresentado. Temer só o apresentou no pior momento possível.
Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo
E vai mais uma, com relação aos filhos menores, os pais devem ser consultados para opinar naquilo que é melhor para seus filhos e não uma turminha coordenada por agentes políticos.