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Fótografo registra imagens inéditas nas Cataratas através da astrofotografia

Você já deve ter olhado para o céu da sua cidade para admirar os corpos celestes e já deve ter apreciado também, em algum momento da vida, as Cataratas do Iguaçu, presencialmente ou em registros visuais nas mais diferentes plataformas de mídia, porém poucas pessoas no mundo conseguiram ver e registrar as galáxias, as estrelas e a poeira cósmica que podem ser admiradas, numa composição visual singular no planeta, na Maravilha Mundial da Natureza localizada no Parque Nacional do Iguaçu, na fronteira do Brasil com a Argentina.

O fotógrafo Victor Lima foi o responsável por captar cenas raras do céu nas Cataratas do Iguaçu. Apaixonado pela astrofotografia, ele fez uma primeira visita ao Parque Nacional do Iguaçu com a família há cerca de dois anos. Em sua segunda visita, em março de 2021, veio ao parque com as imagens e sonhos na cabeça, fotografias memorizadas, e organizou, junto com a administração da unidade, a liberação especial para realizar uma expedição fotográfica à noite, fora do horário de atendimento ao público.

Victor, que ficou hospedado no Hotel das Cataratas, localizado dentro da unidade de conservação, dedicou quatro dias e três noites às captações. Para o fotógrafo, que contou com a companhia de 11 alunos de fotografia, a experiência do céu nas Cataratas foi a melhor experiência fotográfica já registrada por todos os visitantes.

“Eu fotografo com minha vivência. Tem os equipamentos, mas os registros que captei é como eu enxergo as coisas, como eu vejo, como eu observo as coisas, a natureza. Sempre gostei de artes. Acredito que isso me ajudou muito nesta soma de conhecimentos. E todas as pessoas que estavam comigo nesta expedição fotográfica no Parque Nacional do Iguaçu fotografaram com seus históricos, conhecimentos, olhares”, revelou Lima.

Olhar da imensidão

É preciso ler as fotografias com calma para identificar os astros do Universo, do mesmo modo que Victor precisou aguardar o momento certo, ter paciência, olhar concentrado, para conseguir identificá-los e registrá-los no céu das Cataratas.

Leitura astronômica do céu nas Cataratas

1 – Nesta fotografia temos o braço da Via Láctea (galáxia espiral da qual o sistema solar faz parte) no lado esquerdo da imagem. É possível identificar na parte superior a Cruzeiro do Sul (menor de todas as constelações e considerada a mais importante) e a nebulosa Eta Carinae (magenta), que é uma das maiores estrelas e a mais luminosa da nossa galáxia; não é visível a olho nu. Já à direita, observa-se a grande e a pequena Nuvens de Magalhães, duas galáxias-satélites anãs irregulares da nossa galáxia. As duas podem ser vistas a olho nu no Hemisfério Sul.

2 – Este registro apresenta o braço da Via Láctea na parte superior da imagem, Cruzeiro do Sul e Eta Carinae (magenta).

3 – A Via Láctea surge na diagonal sobre o elevador das Cataratas do Iguaçu. Nesta fotografia podem ser vistas as nebulosas de emissão (nuvem de gás ionizado que emite luz de várias cores), nuvens brilhantes de poeira (poeira que existe no espaço sideral) e gás interestelar, como a Nebulosa da Águia (M16), a Nebulosa Ômega (M17), a Nebulosa da Lagoa (M8) e a NGC 6357, entre outras. Acima do núcleo da Via Láctea observa-se Antares (estrela supergigante vermelha na constelação de Scorpius).

4 – Nesta imagem temos o arco da Via Láctea cruzando o céu nas Cataratas do Iguaçu, passando do Brasil para a Argentina, no ângulo da fotografia. As pessoas que aparecem no retrato são alguns dos participantes do Curso de Expedição Fotográfica organizado pelo fotógrafo Victor Lima. Outro detalhe interessante acima da Via Láctea é Antares.

5 – De forma imponente aparece o núcleo da Via Láctea cruzando o céu sobre o Salto Santa Maria, nas Cataratas do Iguaçu. A luz zodiacal ilumina o horizonte acima do maior conjunto de quedas d’água do mundo. Em cima das quedas, os planetas Júpiter e Saturno alinhados.

6 – Neste registro, a Via Láctea forma um arco sobre as Cataratas. Já acima da Garganta do Diabo, o maior salto das Cataratas do Iguaçu, registra-se a pequena Nuvem de Magalhães. Em cima do núcleo da Via Láctea aparece Antares.

Registros incríveis, não é mesmo? Para captar essas cenas, Victor Lima utilizou uma câmera Canon 6D full-frame e fez uso da técnica de longa exposição, quando o sensor precisa de mais tempo para captar a imagem, e geralmente isso é feito em ambientes com pouca luminosidade. O profissional apoiou a câmera em um tripé e utilizou lente convencional. Usou e abusou da paciência e da pesquisa no local previamente para atingir os resultados divulgados. As cenas foram registradas durante três noites, das 22 horas às 04 horas da manhã.

Quem é Victor Lima?

É engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Viçosa (MG) no ano de 1997. Dos elementos utilizados nos projetos de engenharia, como os cálculos, as leituras de mapas, projetos e comportamento da luz, Victor adaptou as técnicas para as suas expedições fotográficas e conseguiu, com um tempo razoavelmente curto de trabalho – se comparado com o tempo de carreira de profissionais da fotografia –, produzir emblemáticos registros focados na astrofotografia de paisagem, a arte de fotografar o céu noturno com cenários.

A carreira de fotógrafo teve início no ano de 2014, quando ele comprou sua primeira câmera, uma Canon T5i, um equipamento considerado de entrada pelos fotógrafos profissionais. O objetivo era registrar a viagem que faria com a esposa à Espanha. Já na Europa, com as ideias na cabeça e a câmera na mão, conseguiu fazer fotos satisfatórias. Mas Victor acreditava que poderia obter registros com melhores composições.

De volta para casa, passou a estudar a fundo e com muito perfeccionismo os conceitos básicos da fotografia. De maneira didática, testou e buscou utilizar todas as possibilidades do seu equipamento na época, fazendo saídas para testar o aprendizado. Cada vez mais instigado pelas descobertas a cada novo registro, ampliou os estudos para seis horas por dia.

O engenheiro Victor, que se dividia entre o trabalho na engenharia e o estudo da fotografia, aumentou suas leituras e estudos fotográficos no ano de 2015, quando decidiu participar e teve o êxito de ganhar o concurso da revista Traveler, da National Geographic, que reuniu 34 mil participantes no mundo. A foto do Victor, registrada em Salto Corumbá, no estado de Goiás, foi a primeira a ser publicada na capa da revista por um leitor.

“O prêmio me motivou bastante. Naquele momento estava com uma fotografia publicada em uma revista com visibilidade mundial. Senti que aquele era o início de uma carreira e eu poderia me dedicar à fotografia. De 2015 até 2019, eu estudava e praticava as técnicas que aprendia, paralelo à minha carreira como engenheiro”, informou.

Atualmente Victor Lima dedica-se integralmente ao mundo da fotografia, com expedições fotográficas pelo Brasil e pelo mundo. Uma de suas fortes atuações se dá em cursos de astrofotografia de paisagens para grupos de pessoas que queiram aprimorar técnicas e conhecimento.