O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta quarta-feira, 11, que a prisão do ex-presidente Lula é uma notícia triste para o país, “mas justa”. Em entrevista a rádio CBN, o tucano afirmou que a prisão de Lula dá mostras de como a política brasileira vive um momento “delicado”, e lembrou dos tempos em que os dois eram companheiros de militância, no final dos anos 1970. Segundo FH, a prisão de Lula aconteceu porque o ex-presidente perdeu “o controle ético” ao chegar ao poder: As informações são de Rafael Ciscati n’O Globo.
— Alguns perderam o controle ético ao levar a vida pública adiante — disse. —Agora, é a justiça quem decide.
De acordo com FH, a condenação de Lula – o primeiro ex-presidente brasileiro preso por corrupção – aconteceu porque o PT e os partidos que compunham sua base modificaram a natureza da corrupção praticada no país:
— Transformou-se a corrupção numa forma de sustentação dos partidos no poder. E isso é inaceitável.
— É um momento delicado da vida política brasileira. Preferia que não tivesse percorrido esse caminho. Especialmente porque as acusações não são políticas — afirmou.
Segundo ele, esse raciocínio – de que Lula foi alvo de perseguição política – é enganoso. E que, por essa lógica, a classificação se aplicaria a diversos outros políticos condenados:
— Então o Maluf é preso político. O Palocci. Ou membros do PSDB que, porventura, sejam condenados.
Fernando Henrique lembrou como, no passado, ele e Lula se aproximaram, ainda durante a ditadura:
— Participei, com ele, das greves no ABC. Na época, eu ainda tinha pouco prestígio político — disse.
FH conta que Lula e a família chegaram a passar férias em uma casa cedida por ele:
— Nossa relação era de outra natureza — afirmou. — Havia todo um sonho em tudo isso, e o presidente Lula, em alguns momentos, simbolizou esse sonho. Esse não é um instante de alegria para ninguém. A Justiça se cumpre. Junto com ela, vem a saudade de outras épocas, e uma tristeza pelo que aconteceu.
Os dois se afastariam, segundo FH, à época da fundação do PT, da qual Fernando Henrique discordou. Ainda segundo ele, PT e PSDB tinham mais pontos em comum que discordâncias. E que, curiosamente, essas semelhanças os afastaram:
—O PT e o PSDB polarizaram muito as posições, porque nasceram próximos, e tinham políticas parecidas. Por razões eleitorais, transformaram um ao outro num inimigo. O PT fez isso mais que o PSDB — disse. — Eu sempre tive outra ideia. Para mim, nós tínhamos que, em conjunto – e junto com outras forças mais – lutar para limitar o atraso. Ficamos numa briga sem focalizar nessa questão central.
O ex-presidente também aproveitou a chance para avaliar o governo de Michel Temer e falar sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Segundo ele, a baixa popularidade de Temer não é nenhuma surpresa – ele nunca fora um líder popular:
— Ele fez mais modificações do que eu achei que fosse possível fazer. Mas ele nunca teve popularidade. Ainda que, tecnicamente acerte, é muito difícil que aumente sua popularidade — afirmou.
No caso do impeachment — que classificou como um evento traumático — avaliou que Dilma de fato cometeu crimes de responsabilidade (as pedaladas fiscais). Mas foi destituída do cargo porque perdeu a capacidade de governar.
— Aqui, quando um governo perde a capacidade de governar, ou ele se arrasta sem tomar decisões de proveito nacional, ou há um impeachment. E um impeachment é um evento traumático sempre.
ELEIÇÕES
FH ainda tentou desconversar a respeito do incentivo que deu a uma possível candidatura do apresentador Luciano Huck. Segundo ele, o apoio a Huck não significava que ele preteria o candidato do PSDB:
— Eu não estimulei o Luciano. Estimulei tudo o que é novo. Acho importante que o Brasil estimule lideranças novas. Minha posição não era de lançar alguém.
Para ele, o pleito de outubro será “difícil” e imprevisível. Mas levará a melhor o candidato que for capaz de “restabelecer o que se perdeu”:
— A credibilidade e a confiança.
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