Desde setembro de 2014, quando o juiz Sérgio Moro homologou a primeira delação premiada da Operação Lava Jato, a de Luccas Pace Júnior, assessor da doleira Nelma Kodama, todas as delações vêm a público, algumas até antes de serem oficializadas, protagonizando o escândalo da semana.
Nesse período, 70 réus viraram delatores, e outros quase 100, entre eles os 77 executivos da Odebrecht, começaram a falar. E, fora a estranha anulação do pré-acordo de Léo Pinheiro, da OAS, peça-chave para a investigação dos casos envolvendo o ex-presidente Lula, as delações têm sido utilíssimas para desbaratar as teias de corrupção que capturaram o Estado brasileiro.
Não à toa, teme-se pelo destino da delação do fim do mundo.
Tornadas públicas pela diligência das apurações jornalísticas ou vazadas pelos atores do processo, as delações têm tragado para a lama políticos, empresários, assessores, marqueteiros – culpados ou não, quem tem ou não contas para acertar com a Justiça.
Na primeira leva, as denúncias pegaram em cheio o PT do ex Lula, que nomeara os diretores da Petrobras, operadores da sofisticada máquina de propinas, o PP, PR, PTB, PRTB, PMN e uns poucos peemedebistas. Na metade do caminho, delatores envolveram o DEM e o PSDB. Agora, golpearam feio o PMDB, partido do presidente da República, Michel Temer, ele também citado por dois dos delatores da Odebrecht.
Nesta fase, os vazamentos e as apurações da imprensa pegaram, além de Temer, toda a cúpula do PMDB e gente de peso do PSDB, incluindo o governador paulista, Geraldo Alckmin, que seria o “santo” do departamento da propina da empreiteira.
Tudo na etapa de coleta de dados e início de investigações, mas com consequências graves para os mencionados pelos delatores e mais danosas ainda para o país, que, por mais que a equipe econômica de Temer tente ministrar antiácidos, soluça e regurgita entre uma e outra denúncia.
Para os petistas, as delações de agora são escandalosas. Dariam motivos para degolar Temer, o PMDB e o arqui-inimigo PSDB. As anteriores, que alcançaram Lula, o líder máximo do PT, não.
Jaques Wagner, ex-governador da Bahia e ministro da Casa Civil da presidente deposta Dilma Rousseff, e Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma, e o senador fluminense Lindbergh Farias, o “feio”, são, pelo menos até agora, os únicos petistas na lista odebrechtiana. Virão mais. Mas, até que apareçam, o PT e seus seguidores vão cozer em um mesmo caldeirão todo tipo de ilícito: os generosos pagamentos para manter maioria parlamentar, os dólares que foram parar fora do país e os outros que encheram as burras de muitos, o caixa dois financiado com recursos públicos e o dinheiro legal para campanhas, o que era permitido até a eleição de 2014.
Na ótica dos que têm dívida com a Justiça, o jeito mais fácil de purgar pecados é ludibriar a opinião pública, misturando tudo e todos. Fazer crer que os políticos não prestam, são todos iguais, verdadeiras incorporações do diabo.
Algo que ecoa na impaciência das ruas, que, ultrapassando a doutrina lulista do nós versus eles, junta-se não para construir algo, mas para bradar um insensato “fora tudo”.
Ruim de voto – em 2006, obteve 99 mil, ficando em 53º entre os 70 deputados federais paulistas, último entre os três pemedebistas eleitos – Michel Temer nunca se imaginou popular. Mas nem de longe pensava ser rejeitado por 64% do país. Tem pouco tempo, carta alguma na manga, nenhuma mágica possível. Sabe disso.
Em discurso de fim de ano às Forças Armadas, disse que “não há mais espaços para feitiçarias”, para “imprimir dinheiro, maquiar contas e controlar preços”. Não há mesmo. Mas não só na economia.
Uns e outros tentam truques, a exemplo de Lula, que para se safar processa seus acusadores, ou de Renan Calheiros, que ameaça a Justiça para ficar livre dela, mas o tempo de estripulias com o dinheiro público está se findando.
Os feitiços, ainda que tardiamente, começaram a se virar contra os feiticeiros.
Foto:arquivo/google
Deixe um comentário