O blog reproduz a seguir a íntegra da coluna assinada por Rafael de Lala, coordenador da Frente Suprapartidária pela Democracia e do Grupo Integrado de Ações Federativas do Paraná, encampado pela Associação Paranaense de Imprensa (API):
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1. BIPARTIDARISMO E RADICALISMO
OS FATOS
A áspera disputa registrada nos Estados Unidos, entre o governo do presidente Barack Obama, do Partido Democrata e os congressistas do Partido Republicano – para a elevação do teto da dívida pública – revelou nova influência política no país: a presença de uma facção interna, agindo como um “caucus” (grupo organizado) dentro da bancada republicana, principalmente na Câmara dos Deputados.
O grupamento, embora com dimensão reduzida, conseguiu influenciar a linha de ação política do Partido Republicano ao forçar a redução da divida e impedir qualquer elevação de impostos no pacote aprovado.
ANÁLISE
O radicalismo exibido pelo “Tea Party” no Congresso dos estados Unidos chamou atenção para os defeitos do modelo bipartidário americano, que assenta no sistema de eleição distrital puro. Esse modelo implica na escolha majoritária de um congressista (membro da Câmara dos Representantes) por cada um dos cerca de 400 distritos eleitorais do país. Em situações excepcionais ele leva à polarização política, podendo se revelar inadequado para a obtenção de consensos majoritários em questões relevantes.
2. NO BRASIL, FLEXIBILIDADE
OS FATOS
Ao contrário da radicalização exibida pelo modelo bipartidário norte-americano, no Brasil os observadores destacam a flexibilidade que se verifica no modelo pluripartidário com eleição proporcional em lista aberta. Em vez de polarização, nosso sistema favorece a construção de consensos de natureza geral, conduzindo as disputas políticas para soluções negociadas – próprias do chamado “presidencialismo de coalizão”.
ANÁLISE
O problema é que, enquanto o modelo bipartidário americano caminha para o esgotamento, o sistema brasileiro de pluripartidarismo aberto também enfrenta restrições, como as que periodicamente sacodem a estabilidade: mensalão no governo Lula, crises de relacionamento partidário na atual gestão e turbulências a cada substituição de ministros. Por isso vozes, mesmo nos círculos governistas, propõem encarar com seriedade uma reforma política capaz de dar cabo à política “franciscana” do “é dando que se recebe…” O ex-ministro José Dirceu, ao sugerir a redução do número de cargos comissionados, falou na conveniência de um sistema de voto distrital misto combinado com financiamento público de campanhas.
3. MAIS UMA QUEDA
OS FATOS
Coroando uma prolongada situação de desgaste, o ministro Nelson Jobim entregou seu pedido de demissão à presidente da República, na noite de quinta-feira. Jobim, oriundo do governo anterior – embora tendo uma gestão razoável na Pasta da Defesa – nunca foi admitido no núcleo interior do governo e foi se desgastando no relacionamento com o Planalto ao longo do primeiro semestre até culminar na mudança, substituído pelo ex-chanceler Celso Amorim.
ANÁLISE
A queda do terceiro ministro em sete meses de gestão revela as dificuldades operacionais do presidencialismo de coalizão. A arquitetura da “base de apoio” do governo Dilma no Congresso foi organizada pelo seu antecessor, que se preocupou em aglutinar o mais amplo arco de bancadas partidárias já visto na História da República. A Oposição, desidratada até o limite, ficou com menos de um terço dos membros do Senado e pouco mais na Câmara.
Mas a conseqüência paradoxal dessa vasta maioria foi que os conflitos, inerentes ao processo político, foram trazidos para dentro do Governo – como se observa no episódio Jobim.
4. SAMEK ANTECIPA
OS FATOS
No Paraná, na esteira do desligamento do ex-deputado Gustavo Fruet do PSDB, rompendo a unidade do grupo político vitorioso nas eleições estaduais de 2010, o líder petista Jorge Samek apontou, no eventual apoio a Fruet para prefeito de Curitiba, um caminho para o fortalecimento da futura candidatura da ministra Gleisi Hoffmann para o Governo do Estado em 2014. O pronunciamento de Samek, feito durante encontro partidário, ficou escondido em meio a outros fatos da conjuntura, mas está colocado.
ANÁLISE
Samek integra, ao lado da própria Gleisi e do também ministro Paulo Bernardo, a corrente majoritária no PT do Paraná empenhada em articular uma candidatura viável ao Palácio Iguaçu. Por isso seus integrantes fizeram um contraponto à facção liderada pelos deputados Rosinha (federal) e Veneri (estadual) – que defende candidatura própria em Curitiba – apresentando a alternativa do nome do deputado federal Ângelo Vanhoni. Concorrente por duas vezes à Prefeitura da Capital, Vanhoni mais adiante poderia ceder lugar a Fruet, numa coalizão capaz de polarizar com as forças lideradas pelo governador Beto Richa e prefeito Luciano Ducci.
5. ESTRANHO NO NINHO
OS FATOS
O ex-deputado federal Ricardo Barros perdeu a eleição na Federação das Indústrias (contra o industrial Edson Campagnolo), por um largo placar: 69 X 21 votos dos delegados sindicais habilitados a escolher a nova Diretoria da entidade representativa do segmento manufatureiro do Paraná. Após o resultado desfavorável, Barros voltou para a Secretaria Estadual de Indústria e Comércio, da qual tinha se licenciado para disputar a FIEP.
ANÁLISE
Enquanto articulistas se apressaram a debitar o resultado na conta do governador, assinalando o início de um processo de enfraquecimento de sua hegemonia política, o fato é que Ricardo Barros – por ter embasado sua carreira no cenário político (onde acumula longa trajetória de sucessos) – era considerado pelos industriais “um estranho no ninho”. Sem demérito, idêntica situação ocorreu, recentemente, com outro auxiliar de alto nível de governo anterior: o ex-secretario da Casa Civil, Rafael Iatauro, que não conseguiu superar uma disputa na Federação Paranaense de Futebol.
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