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Estudo revela que é cedo para reabertura das escolas em Foz

Desde abril, um grupo de professores da Unila e de profissionais de saúde aplica modelos matemáticos e faz projeções da propagação da covid-19 em Foz do Iguaçu. Nesta semana, o grupo divulgou o primeiro relatório que avalia a evolução do número de infectados pelo coronavírus em diferentes cenários de isolamento social.

Uma das conclusões do estudo é que o chamado isolamento vertical – focado exclusivamente em idosos e pessoas dos grupos de risco – é ineficaz para conter a pandemia. O documento também pede cautela na reabertura de locais voltados para atividades de lazer, além de escolas e universidades.

O estudo usa como base o modelo matemático epidemiológico SEIR-Net, muito utilizado para entender as dinâmicas da covid-19. O modelo permite estudar alguns cenários de isolamento e distanciamento social, com foco em grupos específicos.

Isolamento – A principal conclusão do estudo é que o isolamento social deve ser a estratégia central para o controle da velocidade e da intensidade do pico de infecção.

Pelas projeções, o cenário ideal de isolamento seria de, pelo menos, 70% em todas as faixas etárias. Essa é porcentagem de isolamento é capaz de mudar a dinâmica de infecções e achatar, de fato, a curva de contágio.

O pesquisador salienta que isso não implica, necessariamente, que o isolamento deve ser de 70% em todas as faixas etárias. “Se houver uma redução mais significativa em algumas faixas etárias, pode haver uma certa flexibilização em outras. É possível que se chegue a uma redução global de 70% de diferentes formas”, explica.

Na comparação de alguns cenários, o estudo mostrou que se 20% dos adultos (25 a 59 anos) e 90% dos idosos, jovens e crianças respeitassem o isolamento de forma rigorosa, haveria um ganho qualitativo em termos de tempo e tamanho do pico de infecção. Isso porque na cidade, a faixa etária de 25 a 59 anos representa quase 50% da população.

Por conta da população jovem, a reabertura de escolas e universidades em Foz do Iguaçu deve ser uma decisão tomada com bastante cautela. “A decisão por reinserir fortemente tais faixas etárias na dinâmica de contágio da doença pode ter efeitos muito sérios. Um risco adicional é que, se as crianças forem em grande parte assintomáticas, o número de infectados poderá aumentar rapidamente”, disse Luiz Roberto Ribeiro Faria Junior.

O professor citou como exemplo um estudo francês, que mostrou que oito semanas de escola fechadas e 25% de teletrabalho para adultos, seria suficiente para postergar o pico da epidemia em quase dois meses, com redução aproximada de 40% na incidência de casos.

Vertical –Outro dado que deve ser levado em consideração nas políticas de combate à pandemia, é a população de idosos. Aproximadamente 7% dos moradores da cidade tem mais de 60 anos e, por isso, o isolamento vertical, focado apenas nessa faixa etária, seria uma estratégia ineficaz.

“Nesse tipo de isolamento, apenas uma parcela pequena dos suscetíveis seria retirada de forma mais forte da dinâmica da população. E a maior parte das interações sociais e, consequentemente, eventos de contágio, vai ocorrer entre crianças, jovens e adultos, que representam a grande maioria da população”, disse o professor.

Além disso, as informações já existentes sobre a covid-19 no Brasil mostram que a doença está longe de ser um risco apenas para idosos. No momento em que o relatório foi redigido no final de maio, 54 das 169 mortes confirmadas no Paraná, eram de pacientes com menos de 60 anos, assim como duas das mortes registradas até o momento em Foz do Iguaçu.

O relatório ressalta, ainda, que curvas mais suaves e mais tardias não implicam em controle da doença, e sim no controle da velocidade e intensidade da curva.

Para o professor Luiz Roberto Ribeiro Faria Junior, enquanto não houver um esquema vacinal eficiente, o coronavírus seguirá um problema grave de saúde pública. “Quando se pensa com responsabilidade no número absoluto de mortos associados a percentuais relativamente baixos, em um contexto onde todos são suscetíveis, percebe-se que a imunidade de rebanho não é uma opção. Pelo menos não para quem valoriza minimamente a saúde e bem-estar das pessoas”.