Nessa quinta-feira (12), às 19 horas, foi realizado a VII Assembleia Geral dos Estudantes da UFPR (Universidade Federal do Paraná), que contou com cerca de 600 pessoas (dentre elas, 520 estudantes com direito a voto), onde foi deliberado dentre outras decisões, continuar a ocupação do prédio central da Reitoria, que completa hoje (13) 10 dias.
O DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFPR que emitiu uma nota pública deslegitimando a ocupação compôs em grande número essa assembleia, o que foi interpretado por muitos estudantes que eles passariam a legitimar a assembleia e a ocupação.
“Foi impressionante a quantidade de estudantes que se mobilizaram para discutir as várias questões que estão em jogo como a negociação local, nacional e conjunta, ainda mais, num período que seria o período de férias se o calendário estivesse ativo.” disse a estudante de psicologia Nathalie Pavese que estava presente na Assembleia, e é membro da comissão de comunicação e divulgação do comando de greve dos estudantes.
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Ato na Prae – Antes de irem à Assembleia, os estudantes organizaram um ato cobrando um posicionamento oficial da Reitoria sobre os rumores de cortes de bolsa, intercâmbio, mobilidade acadêmica, ônibus para congressos e simpósios, com a justificativa de que a ocupação da Reitoria impede o funcionamento de certos órgãos da administração acadêmica.
“Fomos expor à Reitoria, à comunidade acadêmica e à mídia que estamos abertos a negociar a liberação de documentos e objetos emergenciais, como remédios, documentação referente a ônibus, intercâmbio e outros. Entretanto a Reitoria atualmente se nega a aceitar a liberação de algumas atividades que ocorrem no prédio, utilizando politicamente disso para colocar a comunidade contra a ocupação, desmobilizar e testar a força do movimento, dizendo que querem a liberação do prédio todo ou nada.” disse a estudante de psicologia Izabelle, membro da comissão de ética da ocupação.
“Além disso, pedimos esclarecimento sobre quais trâmites ocorrem no prédio, pois sabemos que há a possibilidade de fazer com que certas atividades ocorram fora do prédio, como ocorreu em outros processos de ocupação, mas isso só ocorre quando há interesses compatíveis com os da Reitoria.” complementa.
Os cerca de 50 estudantes que estavam no ato foram barrados no lado de fora do prédio Dom Pedro II, onde fica localizado a Prae (Pró-reitoria de Assuntos Estudantis). A pró-reitora da Prae Rita de Cássia Lopes saiu do prédio e ressaltou a intransigência da Reitoria. “Parabéns, graças a atitude de vocês [de ocupar a Reitoria] não haverá negociação.” disse aos manifestantes antes de ir embora.
Greve conjunta – A assembleia começou com o repasse das outras categorias em greve: professores e servidores técnico-administrativos. Segundo o professor do curso de medicina Rogério Gomes, secretário-geral da Apufpr (Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná), 96 dos 99 Ifes (Instituições Federais do Ensino Superior) estão em greve. “Nós temos o quadro de ser a maior greve da educação da história do Brasil, e após 58 dias de enrolação, nós conseguimos um primeiro sinal de possibilidade de negociação.” disse.
O Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior) e o Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica) foram convocados para uma reunião hoje (13) com o Ministério do Planejamento.
“Nós ressaltamos aqui o apoio retirado em Assembleia Comunitária dos técnicos e professores à ocupação da Reitoria que foi decidida de maneira legítima pelos estudantes.” disse o servidor Márcio no repasse do comando de greve dos técnicos, ressaltando o apoio à ocupação e o fortalecimento da greve nacional dos técnico-administrativos.
“O governo federal tentou desmobilizar a greve com o anúncio da possibilidade do corte do ponto dos grevistas, ferindo assim o nosso direito de greve. Esse anúncio teve efeito contrário, as poucas Ifes que estavam receosas de entrar em greve, entrando em greve logo após esse anúncio do Governo Federal, como foi o caso da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).” conclui.
Negociação local – Durante a assembleia foi dado o repasse dos estudantes que compõe a negociação conjunta das três categorias em greve na UFPR (estudantes, professores e servidores técnico-administrativos.). A negociação específica com os estudantes havia sido interrompida pela Reitoria após a ocupação.
“Nós já deixamos bem claro durante as reuniões com a comissão de negociação da reitoria que nós queremos avançar as negociações com os estudantes e na pauta conjunta, e ocupar a Reitoria veio no sentido de intensificar a luta grevista que vem sendo construída na UFPR.” comenta a estudante de geografia Marcieleh Lemos, membro da comissão de negociação conjunta.
Após a última reunião da comissão de negociação conjunta com a Reitoria na quarta-feira (11) fora anunciado à possibilidade de negociação com os estudantes mesmo com a ocupação, além do início da negociação específica com os professores e servidores. A reunião que contará com os membros da comissão de negociação que já fora referendado em assembleias anteriores e com representantes da administração acadêmica será realizada na próxima terça-feira (17).
Continuar a Ocupação – Após o repasse foi votado sobre continuação da ocupação e por ampla maioria os estudantes não aceitaram a intransigência por parte da Reitoria e continuarão ocupados no prédio central da Reitoria.
“Queremos uma greve forte e rápida. O fim da greve depende da resposta do governo e da Reitoria acerca das pautas. Ficaremos ocupados até garantirmos o aumento de bolsa, a casa de estudante e demais pautas essenciais à vida do estudante dentro da UFPR.” disse a estudante de direito Gabriela Caramuru.
Independente do andamento das negociações, uma desocupação só pode ocorrer se aprovado em outra assembleia geral, a próxima está prevista para o dia 26 de julho.
Negociação nacional – Os delegados da UFPR que compõe o Comando Nacional de Greve dos Estudantes (CNGE) estiveram presentes na Assembleia para repassar a situação nacional. “Delegados de todo o país estão chegando ao CNGE, que está sendo reconhecido entre os estudantes e as demais categorias grevistas como o espaço legítimo para compilar e debater a pauta nacional dos estudantes. A análise é que este é o momento de unificar e radicalizar as lutas, visto que o Governo Federal está enrolando todos os grevistas.” comenta o estudante de psicologia Nicole Firkowski, delegada da UFPR no CNGE
Conclui “Na reunião com o MEC (conquistada através da pressão do 3J), não houve nenhuma sinalização de atendimento das pautas, nem mesmo uma data para a próxima reunião. Isso mostra que devemos de fato intensificar nossas lutas!”.
Uma das propostas que foram acatadas pela plenária da assembleia foi o não reconhecimento da negociação que a UNE (União Nacional dos Estudantes) vêm fazendo o ministro Aluízio Mercadante (Educação). “Tinha muita gente que achava que o fato de assembleias locais de cada universidade indicasse delegados para a formação do CNGE não impedira a UNE de poder negociar com o MEC.” explica o estudante de ciências sociais Luiz Fisher, que também compõe o CNGE.
“É importante, porque fica claro que os e as estudantes definitivamente não se reconhecem nesta entidade, que há muito tempo só cumpre o papel de interlocutora do governo no movimento. Nesse sentido os e as estudantes tem percebido a necessidade de construir instrumentos de luta autônomos.” conclui.
No final da Assembleia foi feito o chamado para a Marcha a Brasília na próxima quarta-feira (18) promovida pelos estudantes e funcionalismo público federal em greve de todo o país, complementando as atividades do acampamento na Esplanada dos Ministérios do dia 16 até o dia 20.
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