Durante o fórum “E Agora, Brasil?”, realizado pelo Valor e O Globo, a pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo, afirmou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem capacidade para avaliar as vacinas contra a covid-19 em menos de 60 dias. “A Anvisa não precisa levar 60 dias para aprovar. A agência tem qualificação e capacidade para aprovar a vacina em fast track”, disse a pneumologista durante o fórum realizado .
Dalcolmo observa que o coronavírus continuará a circular entre a população e, por isso, o acesso às várias vacinas que estão sendo desenvolvidas é fundamental para que se volte a algum grau de normalidade no futuro. Neste sentido, o país tem perdido um tempo precioso, avalia.
“O acesso à vacina é um momento crucial. Mas o Brasil
perdeu o timing para entrar de maneira equânime em
relação a outros países. Estamos atrasados”, afirma.
Também participante do fórum, o oncologista Drauzio Varella alerta que o país, o mundo, vai conviver com o vírus durante algum tempo e por isso é necessário que as autoridades incentivem a população a continuar tomando os mesmos cuidados, como o uso de máscaras e higiene das mãos. “Qualquer outra mensagem é falsa”.
O maior desafio é comprar e produzir vacinas suficientes, diz Varella, já que Fiocruz e Butantan não darão conta de produzir para toda a população num curto espaço de tempo. Ele critica a falta de coordenação central, que cabe ao Ministério da Saúde, com um plano bem definido. “Não pode cada Estado fazer de uma forma”.
Assim, marcar uma data para vacinação, 25 de janeiro, como fez o governo de São Paulo, é temerário.
“Não temos a vacina. Como se marca uma data? Isso cria uma falsa esperança na população. Virou uma política absurda, não há racionalidade nesse processo”, afirma Varella, que se diz muito pessimista com o desenvolvimento
da pandemia no Brasil.
Recrudescimento da pandemia
De acordo com Dalcomo e Varella, o recrudescimento de casos e mortes por covid-19 no Brasil deve se agravar após as festas de fim de ano, uma vez que a população dá mostras de que não entendeu a gravidade da pandemia e algumas autoridades seguem diminuindo a importância de medidas de prevenção, como o isolamento social.
“A sociedade brasileira ainda não entendeu o que está acontecendo, infelizmente. O que vai provocar a segunda onda no Brasil são as festas de Natal e Ano Novo. Teremos o janeiro mais triste da nossa história”, afirma a pesquisadora da Fiocruz. O ideal, diz, é que não haja festas. Se houver, que sejam com no máximo seis a sete pessoas do convívio diário.
O recrudescimento da pandemia no país, diz Varella, ocorre em meio a uma grande desorganização do governo federal, mas um ponto positivo é que agora há informação do que pode ser feito, do que funciona. “Temos tido que lidar com essa pandemia no pior cenário de organização. Vai ficar mais difícil, muita gente vai pagar com a vida. Mas seria possível fazer diferente”.
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