Esta é fácil: quem precisa mais de quem? O PMDB de Lula ou Lula do PMDB?
do blog do Noblat
Até o fim do primeiro mandato foi o PMDB que precisou de Lula para conseguir empregos no governo. Do início do segundo mandato para cá, é Lula que precisa do PMDB para governar e tentar fazer o seu sucessor. Goste disso ou não, Lula será cada vez mais refém do PMDB.
Examine o caso da eleição do novo presidente do Senado. No início de dezembro, Lula chamou alguns caciques do PMDB para uma conversa – entre eles o senador José Sarney (AP).
Repetiu o que havia dito em outras ocasiões: para o equilíbrio entre os partidos, a presidência da Câmara dos Deputados deveria caber a um deles e a do Senado a outro. Quase sempre foi assim.
A da Câmara estava reservada para o deputado Michel Temer (SP), do PMDB, desde que o partido, ainda no primeiro governo de Lula, abrira mão da vaga para um nome do PT.
Nada mais natural, pois, que agora o PT viesse a presidir o Senado com o apoio do PMDB, argumentou Lula. Salvo – e Lula fez a ressalva com veemência pelo menos duas vezes -, se Sarney se interessasse por presidir o Senado novamente.
Sarney aplicou em Lula um dos truques mais comuns e eficientes da política: negou que quisesse o que queria, o que sempre quis.
Lula sentiu-se à vontade para cabalar votos em favor do senador Tião Viana (PT-AC).
Está para nascer um partido ou um político que, podendo mandar, prefere ser mandado. O PMDB é dono da maior bancada de senadores – assim como na Câmara é dono da maior bancada de deputados.
Faltam dois anos para a próxima eleição presidencial. O DEM fechou com José Serra, o provável candidato do PSDB a presidente. Por que o DEM e o PSDB dariam de bandeja ao PT a presidência do Senado? Não faria o menor sentido.
Sarney votou em Lula na eleição de 2002 convencido de que uma manobra de Serra implodira a candidatura de Roseana, sua filha, à sucessão do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na presidência do Senado, Sarney é bom para Lula e ruim para Serra. Mesmo assim é melhor para Serra do que o PT na presidência.
De resto, Serra corteja o PMDB com a mesma sofreguidão com que Lula o corteja. Trata-se do maior partido do país com 1.199 prefeituras – entre elas as de seis capitais – e sete governos estaduais. Tem seis ministros. E um apetite insaciável pelo poder.
Uma vez no comando da Câmara e do Senado, o PMDB estará mais forte para discutir com Lula outros assuntos que o incomodam. Por exemplo: o ministério.
O que o PMDB tem a ver com José Gomes Temporão, ministro da Saúde? Temporão deve o emprego a Lula, que cooptou o governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, para bancar o padrinho da nomeação. O PMDB acha Temporão um estorvo.
Reinhold Stephanes (PMDB-PR), ministro da Agricultura, é outro estorvo. Assim como Temporão, é refratário às “justas reivindicações” do PMDB.
Em março de 2007, Lula pediu ao PMDB que lhe mandasse uma lista de candidatos ao ministério da Agricultura. Da lista original não constava o nome de Stephanes. Muito menos o do deputado Odílio Balbinotti (PR), o maior produtor individual de sementes de soja do Brasil.
Lula nomeou Balbinotti a pedido do governador Blairo Maggi, do Mato Grosso, também plantador de soja. Balbinotti dançou rapidinho porque respondia a processo por crime de falsidade ideológica.
Então Lula nomeou Stephanes.
No ministério das Comunicações, o PMDB tem o senador Hélio Costa (MG). O mais certo seria dizer que as redes de televisão têm Costa no ministério das Comunicações.
Nelson Jobim, do PMDB, é o ministro da Defesa. Mas em matéria de verbas e empregos, esse ministério e nada são a mesma coisa. Restam Gedel Vieira Lima (BA) na Integração Nacional, e Edison Lobão nas Minas e Energia.
Tudo bem com eles. Só que é pouco para um partido da dimensão do PMDB. Para carregar o pesado andor da candidatura Dilma Rousseff, o PMDB cobrará caro.
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