Editorial, Folha de S. Paulo
Datafolha detecta queda de 39 pontos no otimismo com país e economia; Dilma enfrenta uma convergência de fatores eleitorais negativos
Numa nação apaixonada por futebol a 58 dias de receber a Copa do Mundo, a acentuada retração no otimismo dos brasileiros assume ares preocupantes. Em ano eleitoral, sobretudo para o Planalto.
O instantâneo perturbador foi colhido pelo Datafolha. O instituto criou o Índice Datafolha de Confiança (IDC) e, já na primeira comparação anual, detectou variação significativa de humor –para pior.
O índice se compõe de sete quesitos: avaliação do Brasil como lugar para viver, orgulho de ser brasileiro e cinco expectativas econômicas –sobre a situação do próprio entrevistado, a do país, poder de compra, desemprego e inflação.
Cada um dos itens recebe pontuação de 0 a 200, após pesquisa representativa da população brasileira (ouvida em 162 municípios). Acima de 100 o IDC é considerado positivo, e abaixo disso, negativo.
Em março de 2013, a média estava em 148, claro indicador de confiança no futuro. Na pesquisa dos últimos dias 2 e 3, contudo, o índice desceu à média de 109.
A consideração dos itens individuais dá mais motivos para apreensão com os rumos da economia nacional. Só três deles recebem pontuação acima de 100, dois dos quais se referem mais à percepção do país do que à sua realidade: Brasil como lugar para viver (179 pontos, nove abaixo dos 188 de 2013) e orgulho de ser brasileiro (159, diante de 178 no ano passado).
O único quesito econômico com valor positivo (159) é a expectativa com a situação econômica do próprio entrevistado pelo Datafolha, mesmo assim 25 pontos abaixo da de 2013. Todos os outros quatro ficaram abaixo da linha divisória.
Francamente ruim é a expectativa quanto ao futuro da inflação, com índice 17. Um recuo de 40 pontos com relação a um ano atrás.
Dito de outra maneira, a inflação alta está “na boca do povo”, como se fala, e não em supostas conspirações “da elite” ou “da mídia” com que tentam justificar-se setores do PT e ventríloquos do Planalto. O brasileiro normal sabe o quanto dói perder poder de compra em razão do descuido governamental com a saúde da moeda.
A erosão geral da confiança captada no IDC faz eco, assim, à crescente insatisfação dos contribuintes com a deficiência dos serviços públicos –mote das manifestações de junho– e com o desgaste do governo Dilma Rousseff aos olhos de boa parte do empresariado.
A confluência de fatores negativos não configura nenhum pesadelo eleitoral para a presidente, pois nem mesmo começou a campanha. Mas já reúne potencial suficiente para perturbar-lhe o sono e os sonhos de reeleição tranquila.
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