O presidente do PSB, Carlos Siqueira, avalia que declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após a saída da prisão, fecham portas para unidade da esquerda. Siqueira vê bom diálogo entre PSB e PDT por candidaturas. Leia a entrevista feita por Bernardo Mello n’O Globo.
A esquerda se unirá nas eleições de 2020?
Não sabemos. Foi estranha a declaração do ex-presidente Lula após sair da prisão. Se o PT terá candidato próprio em todas as cidades, e parece já ter decidido que em 2022 também, provavelmente está convencido que não precisa de alianças. Não vamos aderir a quem não quer apoiar ninguém, com todo o respeito ao PT.
O senhor concorda com a crítica de Ciro Gomes (PDT), de que o “fator Lula” faz o PT buscar uma “hegemonia”?
Talvez o PT esteja voltando às suas origens nesse sentido. Entre PT e Brasil, o PT sempre escolhe a si mesmo. Foi assim quando não apoiou a eleição do Tancredo Neves, quando chamaram a Constituição de “burguesa” em 1988 e quando foram contra o Plano Real. Acho estranho, no momento em que o país está ameaçado por retrocessos democráticos, que o PT queira limitar suas alianças. Uma pessoa que já foi presidente da República deveria ter a dimensão deste momento. É como se (Lula) tivesse ficado em isolamento, sem informações durante o período (em que ficou preso), o que não é verdade.
Em 2018, o PSB cedeu ao PT e aceitou não apoiar Ciro. Hoje o senhor faria diferente?
Tínhamos uma possível candidatura do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa. Com a desistência dele, o partido priorizou as alianças estaduais em relação à questão nacional. Eu, pessoalmente, tendia a apoiar o Ciro. Mas resolvemos liberar os filiados e garantir os apoios nos estados. As decisões se dão em função das circunstâncias. Talvez hoje tivéssemos que analisar em face do que acontece. Mas nunca tivemos problema em fazer aliança com o PT. Nunca tivemos estreiteza.
Após o ex-presidente Lula ser solto, o PT procurou falar de alianças com o senhor?
A deputada Gleisi Hoffmann insistiu na minha ida ao congresso do PT. Na véspera, dadas as declarações do ex-presidente Lula, eu desisti de ir, como forma de protesto. As forças de esquerda deveriam procurar um nome entre si e apelar ao PT que o fechamento verbalizado por seu líder é muito ruim. Até mesmo apostar em um nome suprapartidário, como tentamos em 2018 com o Joaquim Barbosa. Acho que faltou essa grandeza ao PT.
Joaquim Barbosa pode ser o candidato do PSB em 2022?
Ele era o perfil ideal em 2018, quando a população queria alguém de fora do sistema político. Em 2022, pode ser outra história. Ele é filiado, almocei com ele há dois meses, mas não tratamos de candidatura. Acho que ele teve receio em 2018, porque não se manifestou com clareza uma unidade no partido (pela candidatura), embora ninguém desse declarações contrárias.
No Rio, o PSB apoiará o deputado Marcelo Freixo (PSOL), que tenta formar uma chapa com o PT?
Temos absoluta confiança no deputado (Alessandro) Molon, que é o presidente do PSB no Rio. Se não for candidato, o que ele decidir em termos de aliança nós vamos convalidar na executiva nacional. Vice não creio que Molon será, mas a possibilidade de apoio existe. Temos um diálogo muito bom com o PDT, com o PV e a própria Rede. Acho a deputada Martha Rocha (PDT) uma excelente candidata.
O PSB fechou questão contra a Previdência e 11 deputados votaram “sim”. Surpreendeu?
Todos estão punidos, já pedimos os mandatos e a reposição da verba partidária que usaram na campanha. Não surpreendeu. Felipe Rigoni (ES), por exemplo, é do movimento de renovação “Acredito”, cujos membros quiseram que eu assinasse um documento para permitir que votassem como quisessem. Recusei. Em 2014, acolhemos a Marina Silva e todo o seu grupo, por conta da falta de homologação do partido Rede, e mantivemos sua candidatura à Presidência após a morte do Eduardo Campos. Nós sabíamos que ela pertencia a outro partido. Já os deputados de movimentos de renovação não entraram no PSB nessa condição.
Qual será a posição do PSB sobre a prisão em segunda instância no Congresso?
Vamos respeitar a decisão da bancada, que me parece majoritariamente favorável aos projetos pela prisão na segunda instância. O que eu acho profundamente lamentável é que essa discussão se dê no entorno do caso de uma pessoa (o ex-presidente Lula). Em uma situação normal, eu sou favorável. Mas fazer isso em função de uma personalidade política cria um grau de complexidade e irracionalidade grande.
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