Por Barbara Gancia, na Folha de S. Paulo:
O José Simão é uma Hebe Camargo que sabe onde colocar a crase. Forço a barra na frase de efeito? Pois acompanhe o meu raciocínio.
Como a cerveja, a bunda, o futebol e trocar a calcinha diariamente, a Hebe e o Simão são instituições nacionais: a gente não consegue viver sem. Tem mais: como a Hebe, o Simão é bem resolvido à beça. Eles conseguem se depreciar e rir de si mesmos sem perder a majestade.
Eu já vi o Simão em situações de tensão, de perigo, de imensa dor, e ele sempre mantém o espírito intocado e, no rosto, um sorriso que jamais se esvai.
Claro, nunca o vi reunido com o contador na hora de pagar seus impostos e dar adeus aos seus quaquilhões.
Enquanto não se escreve um best-seller que revele algum lado oculto do mais lido e amado colunista da Folha –e eu aposto trocentos picolés de limão que ninguém vai fazer isso–, a gente pode começar comprando “José Simão em: A Esculhambação Geral da República”, livro do macaco mais erudito do país.
Trata-se de uma coleção de “boutades” retiradas das colunas da Folha; mas não ouse alguém pensar que se trata de material reciclado.
“Não se trata de uma compilação de colunas velhas”, diz ele com firmeza. “Deu um trabalhão para editar, tratei de reunir material que, junto, forma um retrato do Brasil”.
Zé Simão faz um retrato tão amplo do Brasil que até piada do presidente do Paraguai e do Barack Obama tem no livro. Para a gente ver que, para fazer graça, não basta ser bem-humorado. É preciso ser generoso.
Fala, macaco Simão!
Folha – Quantos minutos eu vou levar para ler o seu livro?
José Simão – Vou responder como em Portugal: depende se vais devagar ou rapidinha! E esse livro não é linear, você abre ao acaso, escolhe a página. São tópicos: perfis, celebridades, Carnaval, políticos, piadas prontas, predestinados. Uma tentativa de contar a história recente do Brasil! Por isso agradeço ao Brasil. O Brasil é lúdico! Tudo tem duplo sentido.
Por que você não gosta desse babado de rede social?
Mas eu sou louco por Twitter. Dos outros! Acompanhei a rebelião no Egito por tuítes direto da praça Tahrir.
Eu pensei que você tivesse acompanhado no Jaber [casa de esfihas de SP], comendo.
No Habib’s, que é mais barato [risos]. Rede social é a nova imprensa. Tenho vários twitters. Todos fakes! Em breve lançarei o oficial.
“Ipod” comprar o livro do Simão para iPad?
Acho que sim. Tudo é iPad. Tão dizendo que até a Dilma vai lançar governo com versão pra iPad. Rarará! Ler livro em iPad é cansativo. Mas eu não desgrudo do meu. Pareço um pastor evangélico com a Bíblia embaixo do braço!
Você, que gosta tanto da Bahia… A sua editora já está se preparando para mandar alguém na casa de cada comprador baiano do livro, para ler enquanto o sujeito balança na rede?
Vai ser por trio elétrico. A Ivete vai gritar: “Quem tirar o pé do chão ganha um livro do Zé Simão!”. Na Bahia, se você ligar um liquidificador, sai todo mundo correndo atrás. Baiano gosta mais de dançar do que balançar na rede!
Por conta do sarro generalizado que você tira, já foi processado por alguém que tivesse algum senso de humor ou de noção?
Só por gente sem noção! Meu humor é demolidor, até cruel, mas jamais rancoroso! Não faço humor baseado em preconceito. Em 27 anos, só sofri três processos: Enéas, Yara Baumgart e Juliana Paes! De boba!
Pouco processo, mas um monte de protestos. Tem dois grupos de que você não pode escrever nada: corintianos e evangélicos. Quando escrevi que a bispa Sonia ia ver o sol Renascer quadrado, vários segmentos evangélicos protestaram. Uma vez, um rapaz me xingou de tudo o que é nome porque escrevi que o ator que fez Batman bateu na mãe. Era um fã do Batman revoltado! Rarará!
Para que serve fazer livro juntando um monte de coluna já publicada no jornal?
Para rir de novo. Rir sempre! Mas o livro não é uma coletânea de colunas! A montagem é inédita. O mel do meu trabalho: tiradas, piadas prontas e bullying! A Hilária História do Brasil!
E o que acha de o Brasil ter um colunista de humor como o autor mais lido do maior jornal do país?
É porque brasileiro gosta de esculhambação! Rarará! E faço humor jornalístico. É a CNN do escracho! A minha coluna é a gandaia nacional. E todo mundo dá palpite. O retrato do Brasil! Colunista de humor no Brasil é o colunista mais sério que existe!
Às vezes me dizem que, tratando os escândalos com humor, eu estou banalizando. Ah, eu não concordo. Primeiro que o humor é demolidor. E segundo que o humor é melhor que o rancor.
O humor nasce da indignação. Por isso que humorista não pode tomar Rivotril! Uma tirada vale mais que uma tese acadêmica.
Você acha que o Rubinho vai comprar o seu livro?
Se ele chegar a tempo… [risos] VIVA O HUMOR! ABAIXO O RANCOR!
JOSÉ SIMÃO EM: A ESCULHAMBAÇÃO GERAL DA REPÚBLICA
AUTOR José Simão
EDITORA Agir
QUANTO R$ 29,90 (128 págs.)
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